domingo, 1 de setembro de 2019

CRÔNICA - Berrante (RV)


BERRANTE
Reginaldo Vasconcelos*


A noite me alcançou, estendeu-se em ausência de ti, que desusaste o telefone me fazendo só, apenas da tua solidão. Abismo da tua voz, sede de um alento-palavra que arejasse o meu espírito noturno, ofegante, sangrando de silêncio.

Berrante pastor chama a rês que não foi contada. Rio imaginário a teria tragado; felino-pesadelo devorara; solitude terrível de marrã extraviada.


Entrementes, mil clones de tua imagem, sorrisos de mel, corpos em compota, olhos de visto, me procuram e me encantam. Encantam-se às vezes, exatamente do meu jeito de ser alheio, da minha liberdade blasonada por outros amores.

Sozinho na mesa, o amigo que partiu para o éter comigo talvez, que é sábado no bar de sempre e há cerveja. Rio sozinho, com ele quem sabe, que nos uniu, e que a cavalo na saudade te leva um abraço.

Do livro Traços da Memória – Laços da Província - 1992 

  


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