sábado, 7 de setembro de 2019

CRÔNICA - Alex (TL)

ALEX
Totonho Laprovitera*


Anoitecia na Serra da Meruoca, quando surgiu a inesperada falta de energia elétrica na minha casa. Objetivando a solução para o problema, logo tratei de ligar para Kiko, notável personalidade de muito prestígio na localidade:

– Alô, Kiko?

– Tudo bem menino?

– Tudo, afora a falta de luz.

– Quer dizer energia elétrica.

– Pois é. Ei, como hoje é sexta-feira, que é que eu faço pra resolver isso?

– Menino, pode deixar que vou ligar para algum eletricista resolver o seu problema.

– Ô, valeu então.



E assim ficou acertado. Não tardou e logo chegou um disposto eletricista que, de imediato, saltou da motocicleta e detectou o problema:

– Doutor, aqui é rápido. É só levantar a canela!

– E por que a canela caiu?
  
– Ah, pela humildade relativa do ar...

– Humildade?

– Sim, aqui a humildade é grande... Pronto, vou resolver o problema...

E resolveu. Eu, feliz da vida com a volta da luz, procurei me acertar com o profissional:

– Quanto lhe devo?

– Deve nada não, doutor...

– Como, nada não? Você tá fora do expediente de trabalho, se larga lá não sei de onde e não vai cobrar?

– Doutor, o doutor Kiko pediu preu vir aqui e resolver o seu problema. Resolvi rápido, não por que tenha sido só uma canela caída, mas é que pra gente do doutor Kiko eu não cobro nada!

– Tudo bem, vou ficar lhe devendo essa, mas você não vai se recusar a tomar uma comigo.

– Bem...

– Você bebe?

– Eu gosto duma cachacinha.

– E o tira-gosto é bacupari!

– Ôpa, bom demais!

E fui buscar a teimosa. Ao voltar, servi em dois pequenos copos e iniciei o brinde:

– Bem, à nossa saúde!

– À nossa!

– Ô, rapaz, me desculpe, mas como é que é você se chama?

– Pode me chamar de Alex.

– Alex. Quer dizer que você se chama Alexandre?

– Não doutor, meu nome mesmo é Francisco das Chagas.

– E por que Alex?

– Doutor, é por causa da minha profissão. Eu não sou “alexista”?!



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