AS “MENINAS”
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
Wilson Ibiapina*
Elas estão em toda parte do
Distrito Federal. Chegaram quando Brasília começou a ser construída. Nos anos
50 só existiam barracões nos acampamentos repletos de candangos. As famílias,
nas cidades de origem, viravam saudade. O trabalho frenético para erguer a
cidade em três anos e meio podia ter transformado a vida deles num inferno, não
fossem as “meninas”, uma fonte de diversão, que aliviava a tensão.
E não foi preciso chamar
Pantaleão Pantoja, personagem de Mario Vargas Llosa que, numa missão sigilosa,
criou um serviço de prostitutas para atender as Forças Armadas do Peru, que
trabalhavam na selva amazônica.
Chegaram aqui atraídas pelo
mercado de homens, que até hoje não para de crescer. Elas se estabeleceram no
início da Cidade Livre, lá do lado de quem vem de Anápolis e Goiânia. Formaram
a primeira favela, que logo foi batizada de invasão Placa da Mercedes, uma
homenagem à marca dos primeiros caminhões que chegavam carregados de materiais
para a construção, e de mulheres que pegavam carona em busca do Eldorado. É
dessa época o diálogo entre um candango e uma dessas moças: “Você é de
Pissirico, minha filha? Não, sou de Anapis”.
Quando surgiram os
primeiros apartamentos e o Núcleo Bandeirante fervilhava de gente, as “meninas”
já estavam instaladas no quilometro-7, na divisa do DF com Goiás. A chegada do
DTUI – Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos (depois vieram a Cotelb
e a Telebrasília), facilitou o contato com as prostitutas. Bastava discar para
Madame Zu que ela promovia o encontro.
Com a transferência do
Congresso Nacional, fato que esvaziou a noite carioca, a alegria contaminou a
Capital. As moças pobres e ignorantes, que no começo socorriam os candangos,
perderam espaço para as concorrentes de luxo e beleza. Os políticos se
divertiam no golden room do hotel Brasília Palace. Quando o hotel pegou fogo,
já estava na moda o “Man's bar” do Hotel Nacional. Era lá que hóspedes,
políticos, empresários, jornalistas e boêmios tomavam seus drinques ao cair da
noite e encontravam graciosas meninas dispostas a fazer qualquer um feliz.
Como Brasília não tem
cabaré, foi inevitável que casas fossem alugadas como pontos de encontro.
Orlando Brito, o repórter fotográfico que viu Brasília nascer, lembra que a
mais famosa era a Casa Amarela, que ficava no Lago Norte. A prostituição se
banalizou de tal forma que qualquer promotora de festa pode ser confundida com
cafetina. A cearense Jeanne Mary Corner, por exemplo, teve que explicar na
Polícia Federal que não é cafetina. Ela foi citada como suspeita de agenciar
garotas de programa para políticos envolvidos no escândalo do mensalão.
A revista “Meiaum”, editada
em Brasília por Hélio Doyle, mandou a repórter Rafania Almeida ao Congresso.
Durante três semanas ela conversou e observou. Na revista número 5, edição de
agosto, ela conta que uma dessas garotas, usando crachá falso, chegou ao plenário
da Câmara, onde “literalmente, fez o corpo a corpo com os deputados”. O contato
é no Congresso, mas as aventuras são vividas na noite brasiliense. Os lugares
favoritos são a casa de show Pathernon, no Setor de Indústrias Gráficas, e a
boate do Hotel Bonaparte, na Asa Sul.
Uma delas contou à repórter
da “Meiaum” que foi com um deputado nordestino que teve uma de suas noites mais
inusitadas. Ela diz que o deputado puxou do bolso uma calcinha vermelha
rendada. Achou que era presente. Ficou boquiaberta quando viu o deputado se
despir e vestir a lingerie. A moça revelou que o parlamentar nordestino
“desfilava pelo quarto como uma lady, andando na ponta dos pés”. Foi aí que
descobriu que o papel dela naquela noite não seria o de mulher fatal e
sedutora.
Uma outra foi bastante
explicita ao revelar: “Se os políticos fizerem greve, nós quebramos as pernas”.
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