sábado, 28 de setembro de 2019

ARTIGO - Rodrigo Janot - Dois Desatinos (RV)


RODRIGO JANOT
DOIS DESATINOS
Reginaldo Vasconcelos*



Parece mesmo insano Rodrigo Janot, até muito recentemente Procurador-Geral da República, ao revelar na imprensa que penetrou armado no plenário do Supremo Tribunal Federal, lucubrando matar o Ministro Gilmar Mendes, para em seguida suicidar-se. 

Não me estranha o fato que ele narra, pois premido por indignação extrema, eventualmente compelido ao campo da honra, não é raro que um homem de bem tenha ganas de cometer um desatino e se prepare para tal – e que, por fim, não chegue a cumprir o desiderato funesto, arrependendo-se eficazmente do intento e se abstendo. 

O grande poeta e jornalista cearense, que também era advogado, Jader de Carvalho (1901-1985), em verso do seu mais famoso poema, “Terra Bárbara”, diz liricamente ser passível de tomar medida extrema contra o poderoso que o resolvesse vilipendiar e humilhar. 

Se o homem é bom, eu respeito; se gosta de mim, morro por ele. Mas se porque é forte entendesse de humilhar-me... Ah! Sertão! Eu viveria o teu drama selvagem. Eu te acordaria ao tropel do meu cavalo errante como antes te acordava ao choro da viola”.   

Mas o meu pasmo ante o caso atual está no fato de que, sendo Janot um operador do Direito “chapa branca” do mais alto coturno, tenha ele confessado um evento tão grave e tão recente, declinando a motivação de sua sanha, o local do presuntivo cometimento do ato, e o nome de sua vítima pretendida – por seu turno, uma importante figura da República, ainda viva e ativa.

Ademais, a causa pela qual Janot diz pretendeu matar e morrer não era tão grave que justificasse essa atitude tresloucada – pois a ofensa se constituiu numa troca de acusações de que parentes de cada qual advogasse para empresas envolvidas em escândalos – algo sem grande importância moral e facilmente refutável, enfim, sem potencial para desmoralizar quem quer que fosse no campo pessoal.

Sim, eu mesmo, ao longo da vida, encontrei desafetos tão odientos e renhidos que me despertaram os “instintos mais primitivos” – parafraseando o ex-deputado Roberto Jefferson – e por mais de uma vez me preparei para o confronto desmedido. Nunca cheguei a um desfecho trágico porque tive a sorte de jamais ter defrontado um valente intimorato que peitasse as consequências – alguns deles até se convertendo depois em meus amigos.

Agora Janot vai purgar os dissabores de sua narrativa torpe, experimentando a ira daquele que diz pretendeu matar. Ele não leu o general Sun Tzu, e se o fez não assimilou a arte da guerra. Quis matar alguém, não o fez, e agora abriu o flanco para que o inimigo destrua moralmente a sua vida. Que Deus se apiade de sua alma e o perdoe, pelo que ele quis fazer contra outrem e terminou fazendo contra si mesmo.


   

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