O CRESCIMENTO
ECONÔMICO
Rui Martinho Rodrigues*
O Brasil foi, durante décadas, no Século XX, campeão mundial de
crescimento econômico. Tínhamos um grande fluxo migratório interno, no sentido
campo cidade, que favorecia o aumento da produtividade. Ainda que não qualificada,
a força de trabalho alcançava maior produtividade no meio urbano.
Na cidade a escolaridade da população aumentou, o que também
repercutia favoravelmente na economia. A dinâmica demográfica adicionava, a
cada ano, grande número de jovens ao trabalho. A baixa esperança de vida somava,
anualmente, poucos idosos dependentes de aposentadorias e pensões. Não havia
tanta facilidade de investir no exterior, o que forçava corruptos a investir no
Brasil.
Substituíamos importações fazendo crescer a nossa indústria. Contraíamos
dívidas principalmente para fazer obras, ensejando uma classificação dos
presidentes como “mestres de obras e guarda-livros”, correspondendo aos que
faziam obras contraindo dívidas, tornando-se populares; e os que saneavam as
finanças arcando com a impopularidade, nas palavras de Roberto de Oliveira
Campos (1917 – 2001). O Estado era menos burocrático, impunha uma carga
tributária muito menor que a de hoje e era o grande investidor.
A dinâmica demográfica tornou-se desfavorável. O fluxo migratório do
campo para as cidades quase desapareceu. A escolaridade já não tem muito como
crescer quantitativamente, restando muito o que fazer do ponto de vista
qualitativo. O benefício do aumento da esperança de vida impõe o ônus crescente
das aposentadorias e pensões. O número de jovens acrescentados ao trabalho é
muito menor proporcionalmente à população. O Estado é maior, mais burocrático,
mais caro, conta com recursos humanos mais qualificados, arrecada mais tributos
e investe cada vez menos. Segue a tendência das burocracias públicas para
crescer em gastos enquanto perde eficiência. Passamos a contrair dívidas para
fazer gastos correntes ou previdenciários.
Há muito não temos presidente guarda-livros nem mestre de obra. A
nossa capacidade de endividamento esgotou-se. Quanto mais os poderes públicos
arrecadam mais se endividam. Deixamos de ser campeões do crescimento econômico
e de desfrutar de baixos índices de desemprego. Padecemos do desemprego crônico
e elevado. A substituição de importações chegou ao fim. A corrupção agora leva
dinheiro para o exterior.
Há quem queira voltar ao tempo do Estado locomotiva do investimento.
Não querem, porém, redirecionar os gastos sociais para o investimento produtivo,
com as consequências que tivemos no tempo do crescimento acelerado: inflação,
dívida e desigualdade social aguda. No passado não havia outra opção. Não havia
tanto capital privado interno e externo e a dinâmica demográfica, encargos
sociais e gastos correntes, agora são desfavoráveis.
As mesmas vozes que sonham com a volta do Estado varguista,
contraindo dívidas indefinidamente, investindo e favorecendo empresários amigos
a troco de propinas, condenam a desigualde econômica e social, o pagamento de
juros e até do principal das dívidas que tanto querem contrair.
Trata-se de uma visão de mundo focada nos direitos sociais, na
superação das desigualdades, na convicção de que os gestores do Estado são
sábios e justos, farão “o que é certo” e este certo dará certo. Não importa que
tal proposta, a longo e médio prazo, tenha fracassado em todas as suas
experiências concretas. Acrescente-se a convicção de que o ativismo político,
com a força do voluntarismo, pode concretizar os objetivos aludidos. Não
importa que isso nunca tenha alcançado êxito.
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