domingo, 29 de setembro de 2019

POESIA - Poema 19.795



Poema 19.795
Alana Girão*

A dor escorre extravagante pela maçaneta da porta.
Interna-se. 

Deita afobada... e de bruços, sobre o corpo que pesa, aperta o peito até os ossos...

Na direção contrária aos passos cai, delirante e aos prantos, no fino rasgo do que outrora  apenas lágrima.

Esperneia pela sala... judia-se.

E em violento exagero desnuda-se bárbara. Covarde.
A dor extravasa... contamina as paredes e as cortinas.


O sofá, mina de tortura e medo, acolhe em voo o preço de existir.

A maçaneta, encharcada, declina. A porta escancara.
A dor, outra vez, interna-se.

As rudes trovoadas despedaçam no ar... ganham rumos desertos.

A dor livra-se da alma intacta... e perdoa.

Aos poucos... naufraga na lógica do acontecimento.
A maçaneta da porta entreaberta sobrevive em nódoa. Fecha.


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