Poema
19.795
Alana Girão*
A dor escorre extravagante pela maçaneta da porta.
Interna-se.
Deita afobada... e de bruços, sobre o corpo que pesa, aperta o
peito até os ossos...
Na direção contrária aos passos cai, delirante e aos prantos, no
fino rasgo do que outrora apenas lágrima.
Esperneia pela sala... judia-se.
E em violento exagero desnuda-se bárbara. Covarde.
A dor extravasa... contamina as paredes e as cortinas.
O sofá, mina de tortura e medo, acolhe em voo o preço de existir.
A maçaneta, encharcada, declina. A porta escancara.
A dor, outra vez, interna-se.
As rudes trovoadas despedaçam no ar... ganham rumos desertos.
A dor livra-se da alma intacta... e perdoa.
Aos poucos... naufraga na lógica do acontecimento.
A maçaneta da porta entreaberta sobrevive em nódoa. Fecha.
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