O FANTASMA DE
CHAMBERLAIN
Rui Martinho Rodrigues*
Paz se possível, a verdade a qualquer preço (Martinho Lutero, 1483
– 1546), não tem sido a prática das potências ocidentais.
Neville Chamberlin (1869 – 1940) cedeu às exigências de Adolf Hitler (1889 – 1945), tentando apaziguá-lo em Munique, 1938. Winston Leonard Spencer-Churchill (1874 – 1965) então declarou: “entre a desonra e a guerra escolheste a desonra e terás a guerra”. Na política internacional não se trata honra, mas de interesses. O Reino Unido perdeu credibilidade, poder de dissuasão e encorajou a agressividade de Adolf Hitler.
Neville Chamberlin (1869 – 1940) cedeu às exigências de Adolf Hitler (1889 – 1945), tentando apaziguá-lo em Munique, 1938. Winston Leonard Spencer-Churchill (1874 – 1965) então declarou: “entre a desonra e a guerra escolheste a desonra e terás a guerra”. Na política internacional não se trata honra, mas de interesses. O Reino Unido perdeu credibilidade, poder de dissuasão e encorajou a agressividade de Adolf Hitler.
Não faltavam precedentes desmoralizantes. A Alemanha violara, em
1936 e 1938, os tratados de Locarno (1925), pelo qual a Renânica se manteria
desmilitarizada, e o de Saint-Germain-Laye (1919), que proibia a anexação da
Áustria pela Alemanha, respectivamente. Os acordos de Postdam (1945), entre os
vencedores da IIGM, prevendo eleições democráticas em todo o leste europeu, foi
violado em todos os países da região.
O bloqueio de Berlim, em 1949 e a repressão das aspirações de
soberania na Polônia e na Alemanha oriental, nos anos cinquenta, também
violavam os acordos citados. Nos anos sessenta o muro de Berlim e o esmagamento
da primavera de Praga deram continuidade ao desrespeito ao avençado em Postdam
em 1945. Sem credibilidade o princípio do respeito aos acordos (pacta sunt
servanda) perde sentido. Paz a todo custo pode adiar a guerra, não
evitá-la. Ela virá em piores condições.
Ilhas sul coreanas foram bombardeadas pela artilharia do norte, em
2010. Uma corveta sul coreana foi torpedeada por submarino da Coreia do Norte
em 2016. Mísseis foram lançados por sobre o Japão, complementando um programa
nuclear proibido. Tudo impunimente. O Irã revolucionário sequestrou diplomatas
americanos em 1979. Petroleiros são atacados no estreito de Ormuz. Agora instalações
petrolíferas foram atacadas na Arábia Saudita. A credibilidade foi trocada pela
paz, como em Munique e outras ocasiões, sempre com resultados catastróficos.
Hoje todos são Chamberlain. Churchill achou, no final da IIGM, que
o esmagamento da Polônia pela URSS não deveria ser tolerado. Ordenou aos
militares britânicos que preparassem a guerra. Harry S. Truman (1884 – 1972) agindo
como Chamberlain, trocou a credibilidade, referida por Churchill como honra,
pela paz. Foi salvo da guerra pela bomba atômica.
Hoje, porém, as armas nucleares começam a perder o poder de
dissuasão. Miniaturizadas elas podem causar destruição limitada. Mísseis
altamente precisos podem reduzir as perdas colaterais. Líderes fanáticos são
indiferentes à catástrofe. A recuperação de Hiroshiama e Nagasaki e a
experiência de Chernobyl, que emitiu duzentas vezes mais radiação do que
Hiroshima sem destruir a Ucrânia, fragilizam a dissuasão. Líderes despreparados
e o espírito de Munique aumentam o perigo de guerra.
Barack Hussein Obama II ameaçou a Síria. Não cumpriu a ameaça
quando Damasco usou armas químicas. Os EUA apaziguaram na Coreia e o Irã.
Agora, depois de atribuir ao Irã o ataque às instalações sauditas, só restam
dois caminhos aos americanos e árabes: guerra ou perda de credibilidade.
O Irã teve tempo para desenvolver um grande programa militar. A aliança
atlântica está fendida. A Europa não quer acompanhar os EUA nesta guerra. Seus
líderes propõem uma “saída diplomática” ao estilo Chamberlain. Agora ou mais
tarde a “jugular do ocidente”, por onde passa grande parte do petróleo do
mundo, poderá se transformar em palco de guerra, com duras consequências
econômicas.
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