EM DEFESA DO DNOCS
Cássio Borges*
Num clipping que recebi da VSM Comunicação, do dia 15 último, há
uma matéria referente a uma reunião da bancada de deputados federais “em defesa
dos órgãos do Nordeste” que teve, salvo melhor interpretação, o objetivo de
“solicitar” investimentos para a nossa região, mas não diz que investimentos
são estes, quais os seus benefícios, e a que organismo ou organismos eles estão
vinculados.
O que me causa estranheza é a pouca, ou quase nenhuma referência ao
Dnocs, enquanto se dá destaque à Conab, companhia vinculada ao Ministério da
Agricultura que, no meu entendimento, não pode se nivelar em grau de
importância na região nordestina ao Dnocs, ao BNB, à Sudene, ou a Codevasf,
entidades tradicionais, que têm promovido e promovem, de fato, o
desenvolvimento socioeconômico de nossa Região.
Na referida reunião, promovida pelo deputado federal piauiense
Júlio Cesar, coordenador da bancada de Deputados Federais do Nordeste, o
presidente Romildo Rolim, do BNB, apresentou dados de investimentos realizados
pelo banco, “uma espécie de prestação de contas” das atividades daquela
instituição bancária.
A este respeito, seria importante que também coubesse ao Dnocs
fazer uma apresentação semelhante, não só das suas atividades do passado, que
tem tido, e continua tendo, grande influência na transformação socioeconômica
desta áspera, outrora inabitável e inviável região, como a de destacar a sua
importância, especialmente na área de recursos hídricos, para reivindicar para
si, com méritos indiscutíveis, a coordenação e gestão do Projeto de Integração
do Rio São Francisco (Pisf), conforme está clara e indiscutivelmente exposto no
livro/documento apresentado pelo Dr. José Maria Marques de Carvalho (ex-BNB) e
por mim, na semana passada, ao Sr. Diretor Geral do Dnocs.
Em fevereiro último, juntamente com cinco conceituados técnicos
cearenses, elaboramos um documento em defesa das quatro entidades nordestinas,
acima citadas, todas elas com uma folha exuberante de serviços prestados à
nossa Região.
Como, e de que forma, poderia a Conab, de que pouco se houve falar,
ser incluída em grau de importância, no mesmo nível do Dnocs, BNB, Sudene ou da
Codevasf? A meu ver está faltando mais inspiração e determinação nossa,
servidores do Dnocs, em apresentar argumentos, que existem em exuberância, em
favor de nosso Departamento.
Concordo com o Dr. José Maria, no sentido de que é preciso que os
dirigentes da Assecas sejam mais participativos, sejam mais efetivos, não
desperdiçando precioso tempo com coisas que não dizem respeito aos objetivos
finais e urgentes que visam colocar o Dnocs no comando da gestão dos Recursos
Hídricos de nossa Região. Cadê o abaixo-assinado de nossa Frente Ampla? Quem
ficou responsável por esta ação?
O que nós do Dnocs não podemos admitir e ficar calados é que os
recursos hídricos acumulados nos açudes por ele construídos sejam manuseados a
seu bel-prazer por pessoas profissionalmente inabilitadas, como é o caso da Cogerh
(Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará), cujo dirigente
máximo é um sociólogo.
Um pessoal que, mesmo sendo apaixonado defensor da Barragem do
Castanhão, não sabe dizer qual é a sua vazão regularizada, que seus
idealizadores, em 1985, diziam ser de 30 m³/s, embora hoje se admita ser de
apenas 10 m³/s. Um erro descomunal, para não dizer imoral, e todos nós ficamos,
criminosamente, calados para não contrariar posições outrora assumidas por quem
esteve alinhado claramente aos interesses da portentosa Construtora Andrade
Gutierrez.
Não obstante, o Plano Anual de Recursos Hídricos do Estado do
Ceará, da década de 90, jamais foi refeito para esconder e sepultar este
gravíssimo erro de engenharia perante a opinião pública. É triste dizer
para os deputados federais que compõem a bancada nordestina que até mesmo o
valor do índice evaporimétrico dos estudos hidrológicos do referido açude foi
manipulado, como sendo de apenas 1.700 milímetros quando, na pior das
hipóteses, deveria ter sido considerado como sendo de 2.500 milímetros.
Parecendo-nos ter sido um erro proposital visando “aumentar”,
irresponsavelmente, a vazão regularizada do mencionado reservatório que eles
diziam ser a redenção do Ceará e do Nordeste.
Para comentar as dezenas de erros que foram cometidos no projeto do
Açude Castanhão, escrevi um livro, de cerca 400 páginas, que comprova que este
assunto vem sendo muito mal conduzido pela Cogerh e, consequentemente, pela
Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará. Daí não ser admissível
continuar este pessoal na condição de gestor do Projeto de Integração do Rio
São Francisco.
Em nome da boa técnica e do bom senso, em resguardo dos interesses
do povo nordestino e em defesa da engenhara nacional, é inadmissível este
pessoal continue na condição de gestor do Projeto de Integração do Rio São
Francisco. Ademais, não há um só motivo, por menor que seja, que
justifique este empreendimento ser entregue à Codevasf, em detrimento do Dnocs.
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