“JOGA PEDRA NA GENI !”
Humberto Ellery*
Alguém,
não lembro quem, me alertou para um absurdo ocorrido na madrugada do Leblon, na
saída de um bar (saudades de Ipanema!).
Alguns
coxinhas* de direita teriam hostilizado o grande artista Chico Buarque, pelo
simples fato de ser ele petista. Por essa informação, ainda meio truncada,
imediatamente concordei: qualquer agressão é absurda e intolerável,
principalmente se o motivo for decorrente de divergências políticas, que devem
ser discutidas em nível elevado e com argumentos plausíveis.
Cheguei
em casa e fui direto para o YouTube: o que eu vi foi uma discussão
tola, muito corriqueira, entre frequentadores da noite, depois de alguns
birinaites. Nada demais. Um
bate-boca, em termos até educados, para um grupo naquele estado etílico.
Um
dos coxinhas, em tom de lamento, chega a ser até amigável ao dizer: “Pô, Chico, todo mundo era teu fã!”.
Seria isso uma agressão? Eu, pessoalmente, já fui muito mais insultado de
fascista, nazista, idiota, fora termos mais suaves como tucano, direitista
odiento, antipetista raivoso, reacionário, o escambau.
E
eu não sou nada disso. Não discuto política com o fígado, mas com o
cérebro. Raiva, eu prefiro provocar a
sentir, que é mais gostoso! Mas fiquei estarrecido com a falta de argumentos de
alguém, tido por alguns como um gênio, quando um dos coxinhas da discussão diz
que o PT é bandido (uma generalização inaceitável, embora próxima da
realidade).
O
gênio respondeu: “E o PSDB?”. Pelamordideus! Eu esperava mais do grande gênio.
Que falta de argumentos, que infantilidade! Parece coisa de menino: “Meu pai é
feio, mas o teu também é!”.
Mas
eu deveria já estar preparado para isso, raciocinando a partir de sua incensada
subliteratura, com seus “merecidos” prêmios Jabutis. O tal “Leite Derramado”, não
consegui passar do terceiro capítulo; enfadonho, chato. Mandei pra frente, no
primeiro “amigo secreto”. E olha que adoro livros. Livros, bien sûr.
Mas
continuo admirador de obra musical do Chico Buarque – apesar de bobagens como a
recente “Mulher sem orifício”. Como disse Charles De Gaulle, a propósito da
covardia do velho herói da I Guerra, o Marechal Petain: “A velhice é um
naufrágio...”
O
fato de ter o Chico um apartamento em Paris, a que o grupo que o abordou se
referiu, mais precisamente no exclusivíssimo endereço da Île de Saint-Louis
(cinquenta mil euros por metro
quadrado), não interessa a ninguém. O dinheiro que ele amealhou foi legítimo,
honestamente adquirido, pessoas compram ingressos caríssimos para suas
apresentações, compram seus discos, compram até seus “livros”(argh!).
O
inaceitável é usar dinheiro do povo para promover a tradução de um de seus
livros para o coreano; é receber R$ 4,4 milhões da Lei Rouanet para fazer um
filme de autolouvação; é intermediar para conseguir com a mesma lei R$ 800 mil
para uma tourné de sua jovem namorada, mais R$ 1,5 milhões para um
projeto musical do genro Carlinhos Brown. Isso é tirar dinheiro da saúde
pública, da educação, da segurança, e doar para os “amigos do rei” – um Robin Hood às avessas.
NOTA DO EDITOR:
*Coxinha é um termo
pejorativo, usado na gíria e que serve para descrever uma pessoa “certinha”, “arrumadinha”.
Tendo a sua origem em São Paulo, a palavra coxinha quase sempre tem sentido
depreciativo, e indica um indivíduo conservador, que é politicamente correto e
que se preocupa em adotar comportamentos que são aceitos pela maioria das pessoas.
DUETO
Chico Buarque
Consta nos astros, nos signos, nos búzios/
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no
evangelho, garantem os orixás/
Serás o meu amor, serás a minha paz/
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado
nos dados oficiais/
Serás o meu amor, serás a minha paz/
Mas se a ciência provar o contrário, e se o
calendário nos contrariar/
Mas se o destino insistir em nos separar/
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas/
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas,
projetos/
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos/
Se dane o evangelho e todos os orixás/
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz/
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na
novela/
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um
cartaz/
Serás o meu amor, serás a minha paz/
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis/
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca.../
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