U N I V E R S I D A D E Manancial de Fé
Vianney Mesquita*
Não aprovo absolutamente o
conceito a exigir que uma pessoa saiba um pouco de tudo. Saber superficialmente
é conhecer quase sempre inutilmente, e, às vezes, perniciosamente. (LUCAS DE CLAPIERS, Marquês de Vauvernagues. (Y06.08.1715 – †28.05.1747 – 32 anos)
Muito afamada sentença do insuperável poeta indiano
Rabindranath Tagore, o Gurudev (Calcutá, Y07.05.1861 – †07.08.1941 – 80 anos),
poder-nos-á propor uma símile da Universidade – no seu perfil brasileiro de
hoje – reclamada, açulada, combatida, invejada e insultada: O eco zomba de sua procedência somente a
fim de provar ser ele o original.
Parece dar-se de ser, também, exatamente esta a
reflexão diuturna da origem acadêmica, em toda repetição, invitando a
originalidade, no desprezo de cada experiência, nas mais das vezes ao
desconsiderar os valores agregados no longo e penoso curso de seu exercício.
Neste senso, o som multiplicado, figurativamente
reproduzido, eo ipso, significa o referencial de procedência, o sítio desde onde a
Instituição se há que dirigir.
Divisada com suporte nesta figura da literatura
bengali, salvante aquela postada como excesso de criações irresponsáveis dos
derradeiros tempos, a Universidade – me reporto em especial às da União e aos
institutos federais – se exprime inovada, exaustivamente estudada,
experimentada, revolvida nos seus inumeráveis conceitos. Defeso, contudo, tal
como sucede no tropo tagoreano, é postegar a base acumulada de suas
experimentações, como tributária da comunidade que a preparou. Não seria
suficiente afastar conceitos, como se todos resultassem anacrônicos, e
industriar concepções criativas, a fim de estabelecer o absolutamente novo, no
que se não pode cogitar. Todo novo vem de um ovo
– é um aforismo popular.
O que nos cumpre, a nós estudantes, servidores e
docentes, envolvidos numa densa massa de incompreensões e malquerença de
setores da sociedade nacional, em que se inclui de modo lamentável o Governo, é
cuidar para que nossa responsabilidade se não possa esvair, arrastada pela onda
de pessimismo e míngua de fé relativamente ao poderio do Estado, configurado na
instituição acadêmica, e à inteligência do cidadão.
Cada escorrego, pois, deverá constituir empenho para
outra escalada. Que toda claudicância enseje nova investida, considerando a
máxima camoniana segundo a qual É
fraqueza desistir da coisa começada, no exercício de uma democracia limpa,
cristalina, respeitosa e esquerda aos excessos tão comuns nas suas diversas
compreensões.
Legitimamente, ao apagar do lume solar de 2015, no status quo sob curso e premidos por escândalos de mensuração custosa,
convenhamos, é difícil raciocinar positivamente. Passada, entretanto, a
borrasca, ao hálito brando do zéfiro de uma democracia circunspecta,
impende-nos a todos incutir na sociedade brasileira a verdade consoante a qual
é possível reverter o quadro, mal bosquejado, do desenvolvimento e da
comodidade nacionais no trânsito pela intelligentsia
latente da Universidade.
É de nosso cometimento fortalecer a pesquisa para
produção de ciência e tecnologia, sem, contudo, preterir o pensamento, tampouco
esconder a arte, estimulando a poética e considerando as humanidades, numa
movimentação anímica, para o exercício continuado da vida em todas as suas
facetas lícitas e salutares.
A vitalidade da Academia repousa na sua prática e no
automovimento. Não é coisa estanque, que se baste periodicamente. A propósito,
o professor estadunidense de Harvard, Henry Brooks Adams, expressou, com
propriedade e nexo, não haver algo... que mais assombre na Educação do que a
quantidade de ignorância que ela acumula sob a forma de fatos inertes.
Conforme é a vida, a Universidade resulta processual,
motora e receptora, produz e acolhe, ensina e aprende, aproveita, inova,
progride e retorna para se avaliar e perlustrar sua trajetória, a qual há de
ser triunfante.
Todos somos contrários à curvatura, em virtude das
dificuldades momentâneas. Preferimos obedecer à famosa parêmia latina – Flexo, sed non frango – pois, envergando sem se quebrar, votamos pelo desafio. A
administração inteligente e corajosa das crises traz sempre soluções de
vanguarda, e disso a letra da História é repleta. Serão desnecessárias a
desobediência civil e a bravura indômita e inconsequente. O repto consta
principalmente da decisão de fazer por caminhos inteligentes e meios pacíficos.
É inteligente e pacífico cobrar sempre dos órgãos
oficiais – e publicamente – posições relativas à Educação. Resta inteligente,
pacífico, hábil e sereno, também, verberar de todas as tribunas os descasos dos
mais elevados setores da Gestão Pública para com o povo, a fim de comporem
querelas políticas e individualismos partidários insatisfeitos, em detrimento
da existência nacional, como se os grêmios não devessem servir à Sociedade.
É inteligente, pacífico, veemente e justo se
empreender a defesa da Universidade das críticas de encomenda que lhes são
impatrioticamente assacadas pelos portentos da numisma e partidários da
ignorância – aqueles tão pobres, que o bem único possuído é o dinheiro – na esperança de que as IES se dobrem aos seus ataques e
deixem de cumprir seu papel, ao abandonar projetos de excelência e retornar ao
modelo de escolão de segundo grau, facilitando a sanha exploradora de quem
interessa o marasmo e aproveita a paralisação do ensino, pesquisa e extensão. A
crítica à “ineficiência” proclamada da Universidade é pérfida.
Não é, porém, aceitável a pecha de desordenados, inoperantes e desleixados. Os erros são reconhecidos, grandes equívocos e omissões em boa parte. É confessado, no entanto, o fato de que, em meio a ondas de corrupção que grassa como lesa-pátria há longos e esticados anos, quase culturalmente arraigada na tradição administrativa brasileira oficial, sua Universidade Pública resta quase infensa aos tentáculos da desonestidade funcional, sujeita, com grande tranquilidade, às incessantes auditagens dos órgãos de controle das quatro esferas de Governo – União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios – que, aliás, quase as não deixam trabalhar.
Não é, porém, aceitável a pecha de desordenados, inoperantes e desleixados. Os erros são reconhecidos, grandes equívocos e omissões em boa parte. É confessado, no entanto, o fato de que, em meio a ondas de corrupção que grassa como lesa-pátria há longos e esticados anos, quase culturalmente arraigada na tradição administrativa brasileira oficial, sua Universidade Pública resta quase infensa aos tentáculos da desonestidade funcional, sujeita, com grande tranquilidade, às incessantes auditagens dos órgãos de controle das quatro esferas de Governo – União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios – que, aliás, quase as não deixam trabalhar.
Sobra inteligente e pacífico e veemente e justo e
urgente que se exija sejam as universidades públicas autônomas e continuem
gratuitas. As instituições acadêmicas não podem se atrelar aos ditames
exclusivos do Poder Central, pois ele a não conhece, e ser gratuita permanecerá
como o grande dever do Estado.
Enfim, sobeja inteligente e justo que as instituições
saibam valorizar seus recursos humanos, nas atividades-fim e meio, hoje
amplamente qualificados, com mestrado e doutorado, a fim de que, unidos num só
corpo, possam seguir com tranquilidade o seu caminho e firmar sua história, Sine ira et studio – “sem cólera nem
parcialidade” – como tencionava Públio Cornélio Tácito (56–117) para sua
Ciência Histórica.
Natal de luz, Nascimento de lucidez para o povo brasileiro.
Natal de luz, Nascimento de lucidez para o povo brasileiro.
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