terça-feira, 29 de dezembro de 2015

ARTIGO - Presidente ou Presidenta (HE)


PRESIDENTE OU PRESIDENTA
Humberto Ellery


Achei interessante a explanação da Profa. Miriam Mine, que publico a seguir, retirada da Internet. Quando essa discussão (tola) surgiu, em torno de 2011, porque a Dilma exigiu ser chamada de PresidentA, eu escrevi um post afirmando isso: que ela tem todo o direito de exigir, pois o vocábulo está dicionarizado, está no VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é o documento oficial da nossa língua, administrado pela ABL – Academia Brasileira de Letras.

Eu tenho aqui comigo um exemplar do VOLP – 5ª edição de 2009 (última atualização disponível) que registra o vocábulo  “presidenta s.f.” (pag. 674). Na minha edição mais antiga, de 1969, organizada pelo Aurélio Buarque de Holanda, não consta, por isso, na época, cuidei de adquirir a edição mais recente, onde está contemplado o termo PresidentA.

Em todos os meus dicionários (entre etimológicos, enciclopédicos, modernos, históricos – são muitos, eu adoro dicionário) está presente o termo. Na minha edição do Aurélio (pag. 1134) estão previstas  duas acepções: Presidenta [fem. de presidente] S.f. 1. Mulher que preside; e  2. Mulher de um presidente.

O Dicionário Enciclopédico Koogan-Larousse só registra a acepção “Mulher que   preside”, que eu prefiro, pois não acho que a mulher do mandatário tenha direito a um tratamento derivado do tratamento da autoridade com quem ela é casada. Nos EUA existe um tratamento não oficial para a esposa do Presidente que é First Lady, traduzido no Brasil para Primeira Dama (que alguns acham ridículo), em vez de presidenta.

No entanto, em todos os meus dicionários o vocábulo Presidente destaca as abreviaturas  adj.s.2g.s.m., que significam “adjetivo e substantivo de dois gêneros e substantivo masculino”, portanto não está errado chamá-la de PresidentE, pois o termo serve pra macho e pra fêmea (2g.).

As considerações da Professora Miriam Rita Moro Mine, da UFPR,  acerca dos “particípios ativos como derivativos verbais” estão corretas, mas a língua portuguesa é viva, e, por alguma razão criou-se, ao longo do tempo, o que seria talvez uma exceção, mas o fato é que o vocábulo PRESIDENTA EXISTE!

E eu não tenho nada contra o vocábulo, o que eu não aguento é a própria PresidentA.

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UTILIDADE PÚBLICA
 COM MUITA ALEGRIA TENHO A GRATA SATISFAÇÃO DE REPASSAR
À PRESIDENTE E A TODOS OS BRASILEIROS, ESSE ESCLARECIMENTO QUE FOGE AO ALCANCE DE CERTAS PESSOAS LIMITADAS.
ATÉ QUE ENFIM ALGUÉM CORRIGIU ISSO.
(Aula de português)

Uma belíssima aula de português! Foi elaborada para acabar de vez com toda e qualquer dúvida se tem presidente ou presidenta. A presidenta foi estudanta?

Existe a palavra "Presidenta"? Que tal colocarmos um "BASTA" no assunto? Miriam Rita Moro Mine - Universidade Federal do Paraná. No português existem os particípios ativos como derivativos verbais.

Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante...

Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.

Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.

Portanto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Diz-se: capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta". 

Um bom exemplo do erro grosseiro seria: "A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".





NOTA DO EDITOR:

No âmbito acadêmico, essa discussão nunca foi “tola”, porque fazer análises e firmar posições sobre o uso do idioma vernáculo cabe mesmo às casas de letras.

A língua do povo não se regula pelas normas jurídicas nacionais, pelo menos no Brasil. Na França e em Portugal, por exemplo, há grande resistência popular a estrangeirismos idiomáticos, e até normas cartorárias que coíbem o registro de pessoas com prenomes importados – com intenção  de proteção à sua cultura nacional.

Mas, no Brasil, com um código linguístico ainda em formação, com base no português, mas com as mais diversas influências, usar a gramática dessa ou daquela maneira não representa delito legal ou social – menos nas provas de redação dos concursos públicos, em que a regra culta é exigida.

De toda maneira, é de bom tom que as instituições oficiais procurem aplicar de forma correta o idioma pátrio em sua mais correta grafia e acepção, evitando usos gramaticais duvidosos, gírias e erros ortográficos, em sua comunicação institucional.

A primeira mulher a assumir gerência de banco particular em Fortaleza foi Eugênia Camarão, no Bradesco, e a primeira, em banco público, foi Semírames Becco, no extinto Banco do Estado do Ceará (Bec), ambas no final da década de 70 do século passado.

Na época, o Departamento de Relações Públicas do Bec, provocado pela Diretoria Administrativa, promoveu um estudo sobre se a nova comissionada seria tratada de “gerente” ou de “gerenta”. Fizeram pesquisas e consultas, para concluir que o correto seria “gerente”. O Bradesco seguiu a mesma orientação.

É um equívoco argumentar que determinado uso linguístico passa a ser gramaticalmente correto pelo fato de constar em dicionários. Os léxicos fazem registrar entre os seus verbetes todos os termos encontrados na literatura e na imprensa, inclusive gírias, neologismo, regionalismos e jargões em geral, sem poder abonar a sua correção.

O que determina que uma palavra está grafada e pronunciada da maneira correta é o estudo fundamentado dos filólogos, como a que o autor do artigo reproduziu, feito com base na coerência etimológica, na lógica sintática, na semântica original.

Há convenções necessárias que interferem na gramática, como, por exemplo, o termo “governanta”, que se passou a aplicar especificamente àquela senhora que comanda os serviçais de uma residência – para não confundi-la com qualquer mulher que governe uma outra coisa.

Então, o termo “presidenta”, que está dicionarizado, nem por isso é gramaticalmente escorreito, pois, para que estivesse, o neologismo “presidento” passaria a ser o seu masculino, o que não se cogita. “Presidente” é um termo neutro, unissex, uniforme, sobrecomum, comum-de-dois.

É, portanto, desnecessário lhe impor essa sexagem forçada – pois apenas a necessidade de maior compreensão e clareza justifica um neologismo. “Gente” é um vocábulo claramente feminino; seria necessário masculinizá-lo quando ele refere aos homens?

De tudo se conclui que não comete crime algum quem adota “presidenta”; que a palavra existe, pois está dicionarizada; que o uso não está gramaticalmente correto, e como neologismo é absolutamente desnecessário. Mas também se observa que a sua imposição pela Presidência de República foi apenas um ato autoritário e feminista.

Hoje, a aplicação de “presidenta” dividiu a Nação entre os que se avassalam diante das imposições do Governo Federal, e os que dele se procuram manter independentes – dentre os políticos, os órgãos de imprensa, a população em geral. Os que conhecem a língua repudiam o uso porque sabem que ele não é escorreito, e porque, obviamente, como neologismo, ele não é necessário. 
   


           

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