segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

ARTIGO - A Escolha do Oponente (RMR)


A ESCOLHA DO OPONENTE
Rui Martinho Rodrigues*


Eduardo Cunha, do PMDB, da base aliada, candidato a réu, juntamente com destacados membros do governo, na operação Lava Jato, desmoralizado e politicamente morto, foi escolhido pelo marqueteiro João Santana para ser o oponente da Presidente Dilma, no episódio do crime de responsabilidade. É o inimigo ideal. 

Assim o impeachment deixa de ser iniciativa de Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior Janaína Paschoal, entre outros advogados respeitáveis, para ser uma briguinha com um cadáver político.

Eduardo Cunha, estupidamente, aceita o duelo, respondendo aos ataques da presidente, que alega não ter conta na Suíça, entre outras coisas. A credibilidade de  quem prometeu não fazer ajuste; atacou banqueiros e depois chamou um deles para o Ministério da fazenda; disse que a tarifa de eletricidade e o preço dos combustíveis não subiriam, e anunciou que o espetáculo do crescimento já estava se iniciando – essa é uma credibilidade pífia e alheia ao deputado Cunha, que não tem nenhuma relação com estas coisas.

Acrescente-se que o referido deputado, apesar de ainda manter-se na presidência da Câmara, esgotou a sua participação no processo de impeachment, pois o juízo de admissibilidade a ser feito naquela Casa não caberá a ele, mas ao Plenário. Não se alegue que o Presidente da Câmara tem uma “tropa de choque” de deputados, porque a da presidente é maior do que a dele e dispõe de mais recursos.

Fica parecendo que não têm nenhuma importância a unanimidade do TCU; a atmosfera política de um recorde de impopularidade; o maior escândalo de roubalheira da história universal; o estelionato eleitoral de prometer que jamais faria um ajuste fiscal para fazer o contrário no dia seguinte à vitória; a suspeita de contas secretas dos cartões corporativos; o financiamento também secreto de obras no exterior; as denúncias da colaboração negociada de réus da Lava Jato; a participação na compra da refinaria “ruivinha”, nos EUA, denunciada pelo Cerveró. 
A “contabilidade criativa” das contas públicas; a ruína financeira relatada pelo próprio governo, chegando ao déficit recorde de 120 bilhões; o sucateamento da Petrobrás e dos fundos de pensão; a situação calamitosa dos serviços de saúde e educação; estradas impraticáveis –  parece que nada disso conta. 

É como se tudo fosse apenas uma briguinha com um sujeito desqualificado. Talvez tão desqualificado quanto Paulo Maluf, que foi reabilitado pelo partido da presidente, fato auspicioso para o Eduardo Cunha, que poderá merecer igual retratação por seus detratores de hoje, a depender do quadro político vigente. Desculpar ou acusar é mera conveniência eleitoral, por parte dos aliados da presidente.

O impeachment é um processo político. Analogamente aos jurados do Tribunal do Júri, os deputados e senadores, nas duas etapas do processo, não julgam estritamente vinculados à lei, fazendo-o com muito mais liberdade do que o magistrado de carreira. O sucateamento das finanças públicas; o sumiço “misterioso” da enorme carga tributária, que só deixou como rastro o gigantesco déficit, tudo isso é considerado pelos eleitores.

Os parlamentares atuarão como juízes, declarando o voto em aberto no processo de impeachment, não devem esquecer este fato: crime de responsabilidade é um tipo penal aberto, sujeito a um juízo de valor, permitindo a consideração de todos os desacertos do governo.


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