sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

CRÔNICA (VM)

PESSOAS DA MINHA CONVIVÊNCIA - I

PALMACIANO DA GEMA
Vianney Mesquita*

Não largues o teu amigo, tampouco o amigo do teu pai; e não entres na casa do teu irmão no dia em que estiveres aflito. Melhor é o vizinho ao pé do que o irmão ao longe. (PROVÉRBIOS, 27-10).

No derradeiro dia de 2014, quarta-feira, à semelhança de Fernando de Azevedo, intelectual mineiro, autor, entre dezenas, do livro Figuras do meu Convívio, decidi iniciar uma série de escritos a respeito das minhas amizades no âmbito frequentado, sem incluir, por pretextos manifestos, a mulher, os filhos, parentes de terceiro grau na linha horizontal, chamados vulgar e equivocamente de primos legítimos, e outras pessoas nas trilhas ascendentes e descendentes classificadas pelo Direito de Família.

Embora apenas nascido em Fortaleza, no dia 9 de setembro de 1950, o professor universitário, biólogo e engenheiro de operações, móvel deste escrito, Francisco Antônio Guimarães, é palmaciano de núcleo e coração, filho de Napoleão Guimarães e Cely Guimarães, uma das filhas do Mestre Juca, e bisneto da minha madrinha de batismo, figura por demais conhecida na Palmácia de mais idade.

Falo de Dona NENEN SALU (Sebastiana), mulher do “Seu” Salu – Salustiano Ribeiro Guimarães, avô do citado Napoleão, de D’Artagnan e Aramis, então dono da Bica – parteira que pegou a maioria dos meninos nascidos adiante dos anos 1940, até, tirante engano, os ’70 da centúria passada, a quem todos chamavam Mãe Nenen.

Apesar de núcleo populacional muito exíguo, bastante atrasado sob o prisma econômico-social, feito distrito de Maranguape (do qual se emancipou no dia 28 de agosto de 1957, pela Lei número 3.779, sancionada pelo Governador Paulo Sarasate Ferreira Lopes), vim travar conhecimento com o Guimarães apenas nos anos ’60. Isto porque residíamos na Vila Campos e eles na Bica. Também, naquele tempo, os dois “bairros” guardavam distância considerável, e ainda pelo fato de os meninos de então serem bastante presos (diversamente de hoje), ainda tratados no rasto das narrações sobre crianças procedidas pelos escritores conterrâneos, de Poitiers-França, Marc Augè e Michel Foucault.

Após a meninice garrida e adolescência inocente, tanto ele quanto eu viemos morar em Fortaleza, de modo que era raro o contato, a não ser nas festas de São Francisco, que quase sempre terminavam em 4 de outubro, dia do Santo de Assis, quando nos divertíamos, passeando na roda gigante, assistindo aos circos, andando na ola do Zé Bias, comendo língua-de-mulato na banca da Dona Rita Pinheiro e tentando arrematar no leilão, com o dinheiro contado, lisos como muçum ensaboado, sem conseguir levar sequer uma galinha assada. Certa vez o leiloeiro, o Sr. José Ibiapina Barbosa, amigo de nossos pais e avô da sua mulher, Michelle (Guimarães ficara viúvo da médica, doutora Vânia), filha do Chico e sobrinha da Dr.a Mary Lane Rebouças Barbosa (nome de solteira), descobriu, publicamente, que o nosso dinheiro estava contado, pois não prosseguíamos no lance quando chegava ao limite, o que nos envergonhou, sobremodo.

Perdemos um pouco o contato e fomos nos topar somente em 1977, ambos como docentes da Universidade Federal do Ceará – ele na Biologia e eu na Comunicação – e, quando nos encontrávamos, rememorávamos as gaiatices do Paulino Inácio, pessoa muito interessante e inteligente, que fez até um hino do Palmácia Sport Club (“Os nossos jogadores entram em campo,/ Chico Flor com a pelota na mão,/ Na zaga Antônio Quinto e D’Artagnan;”... “O Paulino, Tiano, o Chico do Júlio são de abafar...”/ “Faltam o Gilson e o Edmar. /Neste futebol qua qua qua qua...”) e imitava o Nezinho da Carolina, como ninguém.

A respeito do irmão do Napoleão, seu tio D’Artagnan – pai do “nego” Ronaldo  que era beque do PSC, muito ruim e faltoso, “seu” Mechico, marido da Dona Idelzuíte, certa vez perguntou, muito falante que era: “Titônio, por que seu tio D’Artagnan pratica um futebol tão equivocado?”

Foi excepcional aluno do “Sete de Setembro”, nos tempos do Dr. Edilson Brasil Soárez como diretor-proprietário, bem como do Colégio Santo Inácio, dos Jesuítas, quando conheceu o então padre e hoje amigo de nós dois, professor doutor André Haguette, também da UFC.

Nesses colégios, ele era conhecido como o “garoto internacional”, pois em todas as férias ia para o Estrangeiro. Nas de julho, ia a Piracicaba, São Paulo e  Buenos Aires (em visita ao Rocildo, à Nenen Sabino e à Dona Maria Querubina), enquanto nas de janeiro e fevereiro jamais deixava de ir ao Japão, visitar o “Seu” Neno, e ao Canadá, rever o Raimundo Silva e o Cauby, cunhado do jornalista conterrâneo, Paulo Tadeu Sampaio de Oliveira.

Não era mais, porém, o Titônio, hipocorístico de todos conhecido, mas o afamado Professor Guimarães, cuja habilidade e inteligência o conduziram a ser autoridade na Instituição – monitor, coordenador de curso, chefe de departamento, vice-diretor, diretor de centro, pró-reitor de Administração e hoje (31 de dezembro de 2014), há nove anos, é Presidente da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura, pertencente à UFC, a qual dirige com proficiência e máximo zelo, sendo estimado por todos os seus stakeholders.

Ele só não foi reitor porque jamais quis, e é a ele que o atual Magnífico, Prof. Dr. Jesualdo Pereira Farias, dos componentes da Alta Administração da UFC, ouve primeiro, quando quer tomar uma grande decisão institucional. Componho, levado por ele, o Conselho Curador da mencionada FCPC e sou seu assessor direto.

Diz o Matias Neto, seu irmão, que, além da mulher, Michelle Barbosa Guimarães, que eu chamo Viscondessa do São Sebastião e Baronesa da Timbaúba (duas localidades da Palmácia), ele tem duas “namoradas”: o Francisco Custódio Rebouças Barbosa – o “Chico Biquara”, irmão do Aníbal e filho de Dona Jésica e “Seu” Custódio – e o Professor José Matias Filho, seu tio (do Guimarães), casado com a sobrinha Zuleika, irmão de Dona Cely, que, desde menino, na Palmácia, todos chamam Zequinha, também professor da Universidade Federal do Ceará, pois ambos são pessoas extraordinariamente boas, e a quem ele, Guimarães, dedica dedicação, carinho e reconhecimento.

Dos seus irmãos, conheço apenas três – o Vavá (sem-verniz, não!) - o citado Neto e a Ana Cely, casada com o João Bosco, filho de Manassés Campelo e primo da minha cunhada Ângela, neta do

Manassés e do José Tavares, e mulher de meu irmão, Fabiano.

Pontos altos são nossas viagens, que passamos a fazer desde 2009, principalmente à Europa, às vezes até duas por ano, juntamente com minha mulher, Socorro Mesquita, alguns dos meus irmãos e suas mulheres e a Michelle, esposa dele, não havendo curtição melhor. Já fomos à Cartagena de las Índias, e a outras ilhas do Caribe colombiano, onde nos deliciamos com a natureza e a bonomia e atenção desses sul-americanosanos, que adoram os brasileiros e detestam os argentinos. Fazemos, nesses périplos, fotos hilariantes, que curtimos eternamente. São inesquecíveis essas viagens.(Ah uma onça!).

E, ainda achamos dinheiro! Ele encontrou mil dólares nos lagos chilenos e eu achei 450 Euro (não tem plural), no chão do Aeroporto de Orly. Diz ele que o negócio é andar de cabeça baixa, olhando para o chão. Compositor que é e tocador de violão, anima as viagens, até com músicas que compôs para o Carnaval da Palmácia, como A Turma do Vai-quem-quer, por exemplo, que é belíssima.

Não misturamos nossas atividades profissionais, mas saindo dali, o clima é só de alacridade.

Este, pois, é o primeiro personagem das Figuras do meu Convívio, amizade que muito me honra e conquista, desde os tempos de menino. É uma felicidade!

No dia 9 de setembro de 2010, no Mar Báltico, a bordo de um transatlântico, entre as terras da Finlândia e da Suécia, a caminho de São Petersburgo (Rússia), compus para ele o soneto adiante.


GUIMARÃES SESSENTÃO

Procedente de cepos palmacianos,
Expressão da progênie Guimarães,
Dona Cely é, hoje, dessas mães
A celebrar teus exitosos planos.

A família, os amigos, os teus manos,
Sob um coro de arcanjos guardiães,
São fiéis escudeiros, escrivães
Da narração desses sessenta anos.

Em culto aberto a inúmeras vitórias,
Não obstante alguns – muitos! – reveses
Os tronos cantam árias, estribilhos.

Sempiternos compartes destas glórias,
Com substrato em venturosas teses,
Sejam Michelle e os teus cinco filhos.

 Fortaleza-CE, 31 de dezembro de 2014


*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista

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