domingo, 25 de janeiro de 2015

ARTIGO (RMR)

IMPASSE E OPORTUNIDADE
Rui Martinho Rodrigues*




Seca no Sudeste é crise hídrica. No Nordeste já não se fazem secas como antigamente, da forma descrita por Rodolpho Theophilo, com multidões de retirantes e epidemias. Desmobilizada a economia rural, a seca não desemprega quem não trabalha. As epidemias dantescas foram afastadas pela imunização. Açudes, poços e cisternas atenuaram as mortes por desidratação; e a irrigação amenizou o sofrimento do que restou da agropecuária.

A indústria se vale dos grandes açudes e poços profundos. O colapso do abastecimento de Fortaleza não mais se repetiu depois do Castanhão e do canal para transposição de bacias. A eletricidade, suprida pelo São Francisco, Boa Esperança e Tucuruí e com o suplemento dos ventos, tem resistido às secas, não se sabe até quando.

No Sudeste a “crise hídrica” não tem precedente. Abastecer mais de vinte milhões de habitantes e matar a sede de um enorme parque industrial, nas cabeceiras dos rios, onde eles ainda não apresentam grandes volumes, é um desafio ciclópico. É o caso de São Paulo.

O colapso ameaça da Grande São Paulo. Anuncia-se a proibição da irrigação. A indústria não funcionará do mesmo jeito sem d'água. A atividade econômica diminuirá. Queda na arrecadação de tributos, majoração de preços e desemprego se somarão e retração do mercado, quando estamos iniciando um ajuste das finanças públicas.

A seca “sudestina” castiga a Grande Belo Horizonte e a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O impacto certamente será sentido por toda a economia brasileira. E não sabemos se 2016 será chuvoso.

Também estamos tendo dificuldades no setor de eletricidade. Temos seca, planejamento insuficiente, baixos investimentos e péssima gestão. Principalmente no setor de eletricidade, que foi prejudicado pelo estímulo dado ao consumo, na forma de represamento dos preços; agravado pela política de “modicidade tarifária”, que afastou investimentos; pela opção por hidrelétrica a fio dágua, sem nenhum reservatório; e pelas obras nunca concluídas. O impasse é preço da demagogia.

A preocupação ambiental deu lugar ao uso de combustíveis fósseis, a mais agressiva de todas as fontes de eletricidade.

Prever para prover é a inspiração de todo planejamento. Não faltaram previsões. Estudos anunciaram antecipadamente as dificuldades de geração de energia.

Conceda-se ao setor de abastecimento humano a atenuante de quem vive afogado em prioridades, sendo desafiado a investir pesado na prevenção de uma seca sem precedente, estatisticamente improvável.

No setor de eletricidade o estímulo ao consumo, pelo preço artificialmente baixo; o desestímulo aos investimentos; a opção pelas usinas a fio, cuja capacidade á meio sazonal, por falta de reservatório, tudo isso afasta a atenuante da seca inusitada. Ainda que tivéssemos chuva estaríamos usando combustível fóssil.

O desmatamento das nascentes e da mata ciliar foi completamente ignorado. E o setor elétrico é mais rico que o de abastecimento.

Reflorestamento, reutilização da água, usinas com reservatório, realismo tarifário e estímulo ao investimento têm agora a oportunidade gerada pelo impasse... se fecharmos a porta depois de roubados.

*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ

Titular de sua Cadeira de nº 10

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