terça-feira, 20 de janeiro de 2015

CRÔNICA (PA)

EU QUERO É CEGAR
Paulo Maria de Aragão*

O governo pode gastar um dinheirão com bolsa família, mas “quero é cegar se o Lula e a Dilma não sabiam de toda roubalheira na Petrobras, tenho a certeza que nem da morte”. O exaltado frequentador do bar da Gentilândia não deixava por menos: “Só mesmo um imbecil acredita na história do Lula, conversa para boi dormir, de que nunca ouviu nada, não viu nada, não soube de nada”.

Lula tem um nível de inteligência acima da média. Sabe de tudo na política: é muito esperto. Há de se ver que o maior volume de escândalos sucedeu no seu governo, e deles nada sabia? Se não soubesse de tudo seria um fantoche. E onde estavam seus ministros e assessores? Hoje, o nível de informações é extraordinário e não dá para engabelar.

A história do rombo na nossa petroleira jamais poderia ser ignorada por Lula nem por Dilma. O que dizem não passa de um deboche contra a boa-fé do contribuinte. Os fatos e a razão das coisas desmentem “o nada sei”, que mais tarde poderá ser classificado como um emblemático episódio de Troncoso.

Porém, a responsabilidade do ex e da atual Presidente é de uma gravidade indesmentível (Estadão editorial 14.11.14). Em janeiro de 2010, quando Lula Presidente e Dilma chefe da Casa Civil, aquele vetou os “dispositivos da lei orçamentária aprovada pelo Congresso que bloqueavam o pagamento de despesas de contratos da Petrobras tidas como superfaturadas (TCU)”. Neste sentido, se empenhou em justificar sua decisão na mensagem de veto nº 41, de 26.01.10, encaminhada ao Congresso.

Dessa maneira, Dilma não poderia estranhar o acórdão do TCU que apontou “as graves irregularidades em obras da Petrobras, vetando os dispositivos da lei orçamentária que, acatando a recomendação do Tribunal de Contas, impediam os repasses considerados superfaturados. Só com isso, Lula permitiu a liberação de R$ 13,1 bilhões para quatro obras da Petrobras, dos quais R$ 6,1 bilhões eram destinados à construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco”.

Há pessoas que se acostumam a ouvir mentiras de políticos como fato natural. Uma verdade, dura e amarga, mas sempre verdade que afronta o bom senso.  Incrível: mas não se pejam, nem a Presidente quando diz que os escândalos da Estatal vêm à tona porque ela “manda investigar”. Ora, ela não dá ordens diretas ao TCU e ao Ministério Público – são entes que não lhe são subordinados.

Pelo que se vê, o birrento homenzinho do bairro boêmio, simpático e alegre, está certo em sua opinião irritadiça, pois, com certeza, “cego” ele não vai morrer.

* Paulo Maria de Aragão 
Advogado e professor 
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ

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