domingo, 25 de janeiro de 2015

ARTIGO (RV)

A VERDADE,
SOMENTE A VERDADE,
NADA MAIS QUE A VERDADE.
Reginaldo Vasconcelos*


O Lula é gente boa. O menino Luiz Inácio da Silva não teve disposição para estudar, é verdade – e eu conheço pessoas de infância ainda mais pobre que a dele e que hoje são pós-graduadas. Por outro lado, a falta de instrução escolar muitas vezes leva o jovem à criminalidade violenta, e desta o Lula felizmente passou longe.   

Mas há funcionários públicos concursados para altos cargos, muito bem pagos, professores universitários, empresários prósperos, profissionais liberais de sucesso,  que nasceram no sertão e que sequer saíram do Nordeste, mas que conseguiram ascender, por esforço próprio, na escala social. Como também conheço fidalgos nascidos em berço de ouro que não deram para nada. É tudo muito quântico.  

Mas, além disso, segundo consta, Lula não foi lá bom operário. Contudo, dono de grande inteligência emocional, boa praça, bem falante, soube aplicar como ninguém a Lei do Gerson, a vida toda. Tornou-se porta voz de sua classe operária, incluindo aí uma prisão sem sofrimento, sobre a proteção do Delegado Romeu Tuma, e fazendo na cadeia uma greve de fome na qual já se aplicava o “Fome Zero”.

Sim. Conta hoje o Tuma Júnior que durante essa greve do Lula "rolavam" alguns lanches secretos. Tudo bem. Afinal, o objetivo era produzir um efeito dramático que ajudasse a sua causa. Não valia morrer. Na verdade, o Lula, safo e bonachão, é o índice do povo brasileiro, que consagrou o “jeitinho” para resolver qualquer parada. Por exemplo, alguém acredita que o então pretenso candidato a Presidente da República, Anthony Garotinho, fazendo sua greve, passou fome de fato?

Faz parte. É da nossa cultura. O sujeito rouba um trem pagador na Inglaterra, vem para o Brasil e se torna um “socialite”. O outro mata quatro na Itália, corre para cá, e afinal ganha o perdão, e de quebra é premiado com a nacionalidade brasileira. 

Em outro momento, um nacional apronta por aqui de forma grave, é preso lá fora, e o Governo não pede a sua extradição, porque as prisões de lá são menos desconfortáveis do que as nossas; ou então tenta trazê-lo de volta a fina força, se a Justiça estrangeira quer matá-lo. 

Por que não? É preciso ajudar os caras! Somos ou não somos "brasileiros bonzinhos", que só votamos em quem nós possa favorecer pessoalmente, que subornamos o guarda da esquina, o porteiro da festa, o fiscal da prefeitura?

Então  voltando à vaca fria  a certa altura da vida sindical, José Inácio descobriu que havia uma via segura por onde se pudesse projetar, mesmo não tendo sido um bom profissional no chão de fábrica, e embora não tenha passado do chamado “ensino básico”. A carreira política era a solução. E foi mesmo.

Na política ele foi descoberto pelo pessoal de esquerda – os marxistas, os trotskistas, os estalinistas, os leninistas, gente que afinal atinou, por sua vez, que não precisa ter valor pessoal, além de discurso, ousadia e coragem, para se apropriar dos bens da vida, para vencer a meritocracia desvairada, para brilhar no cenário público como herói revolucionário.

Caiu a sopa no mel. Lula se tornou ponta de lança das esquerdas em geral, pela sua oratória populista e o seu carisma pessoal, e com o seu grupo mais próximo fundou um novo partido político para poder chamar de seu, evitando assim o desgaste sofrido pelas agremiações tradicionais, derrotadas pelo regime militar. E esse partido, com muita tenacidade e insistência, chegou com Lula, democraticamente, à Presidência da República.

Para o povão passou a distribuir pão e circo, aplicando nisso menos de um por cento do PIB, em troca dos votos da perpetuidade, aproveitando o vácuo social que a direita deixara, uma direita burra, com o seu capitalismo selvagem e colonial, de vezo perverso, e depois a esquerda frappé de Fernando Henrique Cardoso, que criou o Bolsa Família (com outro nome), mas timidamente e sem muita devoção. Aliás, toda a devoção de FHC no Governo foi dedicada a replicar o seu próprio mandato, instaurando entre nós essa anomalia que permite ao presidente se reeleger sem sair do "trono", sem se descompatibilizar com a função pública. 

E, como se sabe, com o pai na Presidência o filho de Lula enriqueceu  – a exemplo de tantos outros, que na política construíram um cabedal. No Brasil isso tem sido uma regra, com raras exceções. "Aquele que parte e reparte, e não tira para si a melhor parte, é burro ou não entende da arte esse é o brocardo que prevalece da nossa sabedoria popular. Aliás, muita gente que se conduz com probidade absoluta o faz por falta de oportunidade ou de coragem. 

É muito raro de fato entre nós a pessoa incorruptível, que tenha chance de se locupletar de alguma forma, não tema a Justiça, mas que resolva não delinquir de forma alguma, por obediência aos seus próprios princípios morais. Justiça seja feita, os presidentes militares não saíram ricos do poder, e isso porque a disciplina e a honestidade fazem parte da cultura castrense, tanto quanto a truculência com o “inimigo”.   

Pois bem. Vencidos os seus dois mandatos, Lula indicou Dilma para continuar a sua “grande obra política e social”, para a qual se aliara ao que havia de pior na direita brasileira, fizera do Ministério a Arca de Noé dos ideólogos derrotados, e se compusera com os demais poderes para instalar o absolutismo na República, no melhor estilo bananeiro e cucaracha, estabelecendo com os fisiológicos do Parlamento o mais desabrido "toma lá  dá cá", em nome da “governabilidade”.

Dilma também não é má pessoa. Não tem o perfil do terrorista sanguinário, o que desmente a sua biografia pessoal de valentia. Moça de classe média, com toda a possibilidade de estudar e se aplicar a uma vida civil regular, para se fazer empresária como o pai, ou talvez uma engenheira, eventualmente uma médica, quem sabe uma juíza de Direito, ela perdeu esse primeiro bonde evolutivo.

Tudo faz crer que Dilma Vana Rousseff se apaixonou muito cedo por um jovem militante de esquerda, e sob a influência de seu grupo se viu envolvida na chamada “luta armada”, ou  “guerrilha urbana”, para desespero da família, certamente. Caiu então nas engrenagens e foi trucidada pela máquina repressiva do governo militar, mas por sorte sobreviveu e se recuperou psiquicamente para entrar na vida pública, anos depois.

Não é verdade que ela tenha lutado pela causa democrática – embora haja realmente combatido a ditadura militar – pois o objetivo do seu grupo era instalar no Brasil uma ditadura comunista. Alguns bravos políticos, advogados, jornalistas, religiosos, que não eram necessariamente de esquerda, tornaram-se opositores da direita porque combateram a censura e as atrocidades praticadas durante o regime de exceção. Esses, sim, lutaram para restabelecer a democracia.

Porém, é preciso dizer, os esquerdistas ideológicos tinham certeza de que sua causa era justa, honesta e humanitária, já que enxergavam no exemplo comunista, que naquela época florescia na Rússia, na China, em Cuba e alhures a mais perfeita solução para a desigualdade social. Então, naquela idade heroica em que se pensa poder virar um trem com a mão, os militantes se arriscavam e muita vez sacrificavam suas vidas pelo ideal revolucionário.

Tudo isso passou, e agora o que se tem é um país abalado pela incompetência absoluta e pela corrupção desenfreada, jorrando pus por todos os poros, com uma pobre presidente tateando para controlar a herança maldita dos Governos Lula e de sua própria gestão que à dele se seguiu, recorrendo – somente agora – a economistas de escol, para tentar salvar a Pátria.

Por outro lado, a Presidente se contradiz naquilo que o marqueteiro mandou que dissesse para o povo na campanha  – e reza a cartilha petista que para ganhar eleição “se faz o diabo”. Ao mesmo tempo ela agora enfrenta uma oposição severa, e, desde a montagem do seu novo Ministério, novamente contemporiza com os políticos fisiológicos de cujo apoio precisa desesperadamente no Congresso.

O País experimenta um segundo e muito maior tsunami escandaloso envolvendo a sua elite política e empresarial, todos mancomunados para lesar o erário. 

No momento, temos uma enorme onda de denúncias adentrante ao continente, a qual, quando retornar ao leito processual penal em fevereiro, arrastará uma lama espessa de corruptos para o Supremo Pretório da República condenar. Ademais, se insinua um grave apagão hídrico e elétrico... e a inflação está voltando.

Enquanto isso, recebendo o exemplo nefasto que vem dos altiplanos da República, o crime organizado avança e atinge foros de estamento oficial, dividido em siglas que têm disciplina militar, dominando presídio e áreas inteiras das cidades, impondo sua vontade ao poder público, disseminando a violência em torno do milionário tráfico de drogas, explodindo agências de banco por todo o País, barbarizando o povo pelas esquinas, diante de polícias mal pagas, mal preparadas e mal aparelhadas, de uma legislação penal caquética, de um sistema judiciário lento  a despeito da alta qualidade intelectual dos seus componentes – e de uma estrutura prisional colapsada. 

As populações ordeiras, por seu turno, começam a recorrer à desordem para reagir ao status quo,  nas passeatas monstruosas, nos quebra-quebras, nas marchas contra os Palácios do Governo, nos grupos de cidadãos das pequenas cidades que depredam delegacias de polícia, prefeituras, fóruns da Justiça.  

Como se não bastasse, Dilma é fustigada pelos ideólogos do seu próprio partido, que insistem em manter o País na contramão da realidade mundial, anexado ao terceiro-mundismo bolivariano, enquanto a maior economia do mundo cresce mais, e a segunda, para continuar crescendo, tende a se afastar, ainda mais, do chamado socialismo real. Pobre “Presidenta” Dilma. Ela não merecia isso. Com certeza, o fim de toda essa ópera bufa será trágico. Quem viver verá. E os pósteros o saberão pela História. 


   
*Reginaldo Vasconcelos
     Advogado e Jornalista
             Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ        

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