quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

ARTIGO (RMR)


O PORTO DE MARIEL I*
Rui Martinho Rodrigues*

O porto de Mariel, em Cuba, foi construído pela Odebrecht (aquela do Petrolão). Custou 682 milhões de dólares do BNDES, segundo a revista Carta Capital, também financiada pelo BNDES. O porto seria um grande negócio para o Brasil, diz a revista: o porto é um colosso, apto a receber grandes navios, a exemplo dos portos da Jamaica e Bahamas, e acrescenta que a obra “se pagou”, embora não haja notícia de reembolso do BNDES. Diz ainda que o Brasil quer se tornar “um parceiro econômico de primeira ordem de Cuba”, citando palavras da presidente Dilma.

Estranha parceria. Cuba exporta açúcar, tabaco e níquel, três produtos que nós também exportamos. Somos mais concorrentes do que parceiros dos cubanos. Um bom porto, muito mais próximo do mercado americano e do europeu, cria desvantagem para o Brasil na concorrência com os produtos cubanos.

O porto também é porta de entrada. O que venderíamos aos cubanos? Somos exportadores de grãos e minérios. A ilha dos Castro não é um mercado significativo para tais produtos. Também poderíamos vender produtos industrializados, mas nem Cuba tem renda para importar quantidades significativas, nem a nossa indústria está apta a concorrer com os chineses e outros asiáticos sequer no Brasil, menos ainda no exterior. Fizemos um porto para que, por um lado, os cubanos concorram vantajosamente com os nossos produtos de exportação; e, por outro lado, as exportações chinesas e de outros asiáticos que são nossos concorrentes tenham mais facilidade de adentrar no diminuto mercado da ilha dos Castro.

Alega-se, na citada revista, que o porto de Mariel é estrategicamente situado e Cuba poderá criar uma “zona especial de desenvolvimento econômico” (um nome diferente para zona de processamento de exportação – ZPE, há poucos anos diabolizada pelos companheiros), copiando as existentes na China, onde empresas com 100% de capital estrangeiro poderão instalar-se. A parte a curiosidade do interesse cubano em atrair o “famigerado capital estrangeiro”, teremos uma ZPE que deverá atrair empresas asiáticas cujos produtos poderão invadir o nosso mercado interno e concorrer com os nossos produtos no mercado internacional. Estranhamente não teremos um porto colossal no Brasil, nem teremos uma ZPE em nosso território.

*Artigo Publicado no jornal O Povo, edição de 31/12/14

*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10

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