O PORTO DE MARIEL I*
Rui
Martinho Rodrigues*
O porto de Mariel, em Cuba, foi construído pela Odebrecht (aquela
do Petrolão). Custou 682 milhões de dólares do BNDES, segundo a revista Carta Capital, também financiada pelo BNDES. O porto seria um grande negócio para o
Brasil, diz a revista: o porto é um colosso, apto a receber grandes navios, a
exemplo dos portos da Jamaica e Bahamas, e acrescenta que a obra “se pagou”, embora
não haja notícia de reembolso do BNDES. Diz ainda que o Brasil quer se tornar
“um parceiro econômico de primeira ordem de Cuba”, citando palavras da
presidente Dilma.
Estranha parceria. Cuba exporta açúcar, tabaco e níquel,
três produtos que nós também exportamos. Somos mais concorrentes do que
parceiros dos cubanos. Um bom porto, muito mais próximo do mercado americano e
do europeu, cria desvantagem para o Brasil na concorrência com os produtos
cubanos.
O porto também é porta de entrada. O que venderíamos aos
cubanos? Somos exportadores de grãos e minérios. A ilha dos Castro não é um
mercado significativo para tais produtos. Também poderíamos vender produtos
industrializados, mas nem Cuba tem renda para importar quantidades
significativas, nem a nossa indústria está apta a concorrer com os chineses e
outros asiáticos sequer no Brasil, menos ainda no exterior. Fizemos um porto
para que, por um lado, os cubanos concorram vantajosamente com os nossos
produtos de exportação; e, por outro lado, as exportações chinesas e de outros
asiáticos que são nossos concorrentes tenham mais facilidade de adentrar no
diminuto mercado da ilha dos Castro.
Alega-se, na citada revista, que o porto de Mariel é
estrategicamente situado e Cuba poderá criar uma “zona especial de
desenvolvimento econômico” (um nome diferente para zona de processamento de
exportação – ZPE, há poucos anos diabolizada pelos companheiros), copiando as
existentes na China, onde empresas com 100% de capital estrangeiro poderão
instalar-se. A parte a curiosidade do interesse cubano em atrair o “famigerado
capital estrangeiro”, teremos uma ZPE que deverá atrair empresas asiáticas
cujos produtos poderão invadir o nosso mercado interno e concorrer com os nossos
produtos no mercado internacional. Estranhamente não teremos um porto colossal
no Brasil, nem teremos uma ZPE em nosso território.
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