terça-feira, 27 de janeiro de 2015

ARTIGO (PA)

A LIÇÃO DE CÍCERO
Paulo Maria de Aragão*

Um conselho para os plantonistas do poder é o texto-debate que Marco Túlio Cícero travou em Roma, 55 a.C., e até hoje atualíssimo: “O Orçamento Nacional deve ser equilibrado. As Dívidas Públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos a governos estrangeiros devem ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à falência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”.

A sucinta lição resume um compêndio de política, economia e moralidade. Dita no senado romano por Cícero, a máxima soa verdadeira e atual. Se o seu conteúdo fosse materializado, o homem público respeitaria o cidadão pagador de tributos; e nunca faria da máquina pública um indomável mamute que pisoteia os anseios primários da coletividade: educação, saúde e segurança. Hoje, Euclides da Cunha repetiria que "O sertanejo é, antes de tudo, um forte"? Talvez não mais o exaltasse como o fez em Os Sertões, por vê-lo rendido ao ócio, esquecido do trabalho pelas bolsas eleitoreiras.

A Presidente assumiu o segundo mandato e anunciou a contenção de gastos, falando em redução de benefícios trabalhistas e previdenciários. Por que não restringir o abusivo número de 39 ministérios que custa ao tesouro público R$ 58 bilhões por ano? Por que não fomentar o exercício da cidadania acabando com a maquiagem contábil que leva o país ao descrédito e afugenta os investidores? 

Apesar de sofrer na pele, “o povão não tá nem aí” - escumalha humana que se envolve em aventuras pré-eleitorais, alienada pela insensatez e pela ânsia de receber uns cruzeiros do candidato que serão gastos na noite.  Nunca na história deste país de "Macunaíma", o herói sem nenhum caráter, personagem-síntese do homem brasileiro, tornou tão real a obra-prima de Mário de Andrade.

A advertência de Cícero permanece atualizada e se ele hoje vivo estivesse, poderia fazer fortunas como consultor de grandes estadistas. Mas, na “Terra do Nunca”, "Eu não sei de nada", além de não tê-los, nada se saberia informar sobre a corrupção e o equilíbrio do orçamento público.

* Paulo Maria de Aragão 
Advogado e professor 
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ

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