O
CASO MARTA
Rui
Martinho Rodrigues*
A senadora Marta Suplicy, mulher, hábil comunicadora,
bonita, com densidade eleitoral, foi preterida sucessivas vezes, no seu
partido, em suas aspirações políticas, substituída por “postes sem luz”, na
postulação da prefeitura da Capital e do governo do Estado de São Paulo.
Renovação ou degola de lideranças potencialmente concorrentes dentro do
partido? A Senadora virou uma metralhadora giratória, certamente porque
entendeu que o caso é de degola de lideranças ou de líderes minimamente
independentes. Ela atacou a política econômica, os escândalos e as lideranças
do PT, depois de décadas de silêncio obsequioso.
O mutismo, diante do interesse público, pode configurar
omissão culposa ou temor inspirado em dossiês. A expulsão de Heloísa Helena, os aloprados, o caso Celso Daniel, o mensalão, e todos os escândalos, até o petrolão, nunca levaram
a novel rebelde a se pronunciar, revelando uma indignação tardia, casuística,
eleitoreira, embora fundada em fatos realmente “estarrecedores”.
A indignação subitânea da Loira de São Paulo suscitou
ilações sobre o casuísmo eleitoreiro de sua conversão à racionalidade econômica
e ao respeito pela probidade administrativa. O desprestígio do PT em São Paulo,
derrotado para o governo em 644 dos 645 municípios do Estado, obtendo para a
presidência menos da metade dos votos do candidato do PSDB, perdendo uma vaga
no Senado que era havida como cadeira cativa do Partido, tendo em todas estas
disputas enfrentado oponentes sem nenhum carisma, teriam levado a loquaz
Senadora a abandonar o barco, como fazem os ratos ao antever o naufrágio.
As suas declarações, quaisquer que sejam os seus motivos,
merecem exame. A cúpula do partido, inclusive pessoas nominalmente citadas por
ela, como o “presidento” Lula, a
“presidenta” Dilma e o ministro Mercadante, preferiram o silêncio. Nem uma
palavra foi proferida por nenhum deles sobre nenhum dos pontos abordados pela
ex-prefeita de São Paulo. A decadência do partido naquele Estado e a
importância eleitoral da Marta contribuem para isso, ao lado das muitas
informações amealhadas pela Senadora ao longo de décadas de militância na
intimidade do partido. Ela tem muita bala na agulha.
Marta Suplicy chegou até a insinuar ser vítima de discriminação
por suas origens sociais enraizadas na “elite branca”, aludindo explicitação ao
fato de ser loira e ter olhos azuis, atribuindo assim ao partido ou às suas
lideranças um racismo reverso. O oportunismo da Senadora não deixa de prestar
um serviço ao Brasil. Afinal, não se contribui para a defesa das instituições
pela ação de pessoas altruísticas e desinteressadas.
São os interesses
particularistas que movem as pessoas a fazer o que deveria ser feito por dever
cívico. Registre-se, em meio ao impacto causado pelas declarações da Senadora
paulista, duas coisas: primeiro o PT ainda não falou em puni-la; segundo: a
metralhadora giratória se mantém silente quanto ao “presidento” Lula,
relativamente aos fatos a ele ligados, que a deixaram “estarrecidas”.
*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10
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