CONSELHO de mãe
improvisada
Edmílson Nascimento*
O episódio se passou
no tempo em que fusca era carro e a gente ainda o chamava de Volks, já que ele
era literalmente o carro-chefe da marca mais famosa da época.
Também naquele tempo
eram comuns as trocas de visitas entre casais amigos, quando a maioria das
famílias ainda morava em casas, pois, devido à grande disponibilidade de
terrenos, a cidade ainda não começara a crescer verticalmente.
Era também costume,
após terminada a visita, os anfitriões acompanhar os visitantes até seu carro, enquanto
arrematavam o penúltimo capítulo daquela animada conversa que mais parecia uma
novela sem fim.
E, devido à
tranquilidade da época em que não havia perigo de assalto como hoje, era comum
também o papo se prolongar na calçada da rua, só terminando quando os
visitantes entravam no carro estacionado ali mesmo defronte ao portão e a
ignição era acionada, não raras vezes em torno da meia-noite.
Conterrâneas daquela
cidadezinha do Interior, as duas amigas de infância, ambas agora casadas com
bancários, passaram a morar na capital, onde deram continuidade à amizade,
encontrando-se principalmente nos aniversários dos filhos pequenos.
Naquele fim de
noite, quando, após terminar uma alegre visita, o casal se despedia dos
anfitriões na calçada, já com o motor funcionando, ouvem um barulho de uma
trombada entre dois carros naquela importante avenida que ficava a 50 metros
dali.
Não dava para não
acorrer ao local, menos por curiosidade e mais para oferecer ajuda a eventuais
vítimas, como era da natureza da gente do Interior.
Ao se aproximar, porém,
presenciaram quando um dos motoristas saiu do seu carro em direção ao outro
guiador, que, de tão embriagado, não só não conseguia sair de seu automóvel,
como não esboçava qualquer reação para se livrar de ser morto pelo outro, que,
aos gritos e palavrões, e já com as duas mãos no seu pescoço, tentava esganá-lo.
Ao perceber que era
iminente uma tragédia, uma das duas jovens senhoras correu para tentar impedir
o assassinato, pedindo ao rapaz descontrolado que pelo amor de Deus largasse o
pescoço do outro, argumentando que senão ele podia acabar com a vida do pobre
bêbado indefeso.
E era tão grande a
raiva do agressor pelo prejuízo sofrido, que ele estava visivelmente
transtornado, totalmente fora da razão e decidido a se vingar ali mesmo, de
maneira que, ao ouvir que sua agressão poderia matar o outro, isso só o
estimulava a prosseguir na violência.
Ao perceber que sua
argumentação não surtia o efeito desejado, a jovem senhora resolveu mudar de
tática, e decidiu tentar um infalível pretexto que alcançasse o âmago de seu
inconsciente egoístico, passando então a alertar o rapaz de que ele não deveria
sujar suas mãos de sangue, pois o crime que estava prestes a cometer somente
prejudicaria sua própria vida para sempre.
E, apesar do clima
de tensão e nervosismo do momento, somente após ouvir um argumento tão
convincente ele finalmente soltou o pescoço do outro, como se seu inconsciente
o alertasse para as graves consequências que o impensado e tresloucado gesto
poderiam trazer para ele próprio.
Não foi a primeira
vez nem seria a última que aquela jovem e experiente mãe salvaria uma vida em
perigo, recorrendo aos seus conhecimentos caseiros de psicóloga autodidata, já
postos em prática bem-sucedida com seus filhos tão jovens e imaturos como
aquele inconformado motorista.
Beleza, meu amigo. Continue.
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