A CIVILIZAÇÃO DE HOJE
Rui Martinho Rodrigues*
Civilizações podem ser estudadas como categorias de análise. Arnold
Toynbee (1889 – 1975) examinou mais de uma centena delas. Registrou suas
tendências cíclicas de ascensão e declínio. Casos exemplares têm sido
examinados por muitos pesquisadores, como o Império Romano.
Crise econômica, exaurimento do escravismo, declínio da agricultura
e burocratização são fatores assinalados por Maximilian Karl Emil Weber (1864 –
1920), cuja interpretação enfatizou fatores internos. Charles-Louis de
Secondat, Barão de La Brède e de Montesquieu (1689 – 1755), também ressaltou aspectos
intrínsecos ao analisar a queda de Roma.
Considerações políticas, porém, foram mais destacadas pelo pensador
francês, que ressaltou a instabilidade pós-republicana. O início de tudo,
porém, teria sido o êxito de Roma: sucesso levando à derrota.
O Ocidente enfrenta graves problemas vivendo o período mais
próspero jamais visto, com bem-estar jamais experimentado. O grande salto
tecnológico oferece soluções e cria problemas.
O choque cultural agudizado pelos fluxos migratórios e comunicações
globais parecem desencadear um conflito entre civilizações (Samuel P. Huntington,
1927 – 2008).
Mas o que é o Ocidente? Existem identidades? Não se toma banho
duas vezes no mesmo rio (Heráclito de Éfeso, 540 – 470 a.C.)? Ou sem um
significado diante do espelho resta o caos? Romanos e gregos e entraram em
decadência quando perderam suas referências.
O Ocidente é uma mistura heterogênea das tradições grega e hebraica,
contendo contradições. Cria significados e tenta destruí-los. Gera conhecimento
que soluciona e cria problemas. A instabilidade ronda as instituições, lembrando
a queda de Roma, na visão de Montesquieu.
Déficits fiscais endêmicos e crises econômicas lembram a explicação
de Weber para o declínio dos romanos. O desgaste da identidade e os
multiculturalismos interativista e diferencialista recordam o choque entre
civilizações, apontado por Huntington.
O Ocidente criou o habeas corpus, o governo consentido por eleições
e outros dispositivos preciosos. Mas é autodestrutivo. O trabalho de Sísifo,
hoje, se faz com grande velocidade, gerando instabilidade. Mitos políticos são
desacreditados mais rápido do que construídos.
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