EUTOPIA
Humberto Ellery*
Eu sempre estive a favor de reformar a nossa Previdência, desde
quando, nos anos 80, ainda Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, passei a
estudar nosso Sistema, pois discutíamos aspectos referentes à sua
insustentabilidade em nossas reuniões. Nessa época, inclusive, fiquei muito
amigo do José Cechin, grande conhecedor do assunto, meu colega que foi Ministro
da Previdência, no final do governo FHC, que conduzia as nossas discussões.
Bolsonaro sempre esteve na contramão. Votou contra as três
tentativas de reforma do governo FHC, ao lado do Lula e do PT; na reforma do
Lula, e também na do Temer, em seis oportunidades, esteve sempre contra
qualquer tentativa de aperfeiçoar ou modernizar nossa Previdência. Mesmo agora,
em “sua Reforma”, mais atrapalhou que ajudou ao belíssimo trabalho do Rodrigo
Maia, agindo como “lobista” dos policiais.
A diferença é que eu nunca me pauto por partidos, ídolos ou gurus,
pois não aceito que me digam o que é certo ou errado (sei errar sozinho). Guio-me
por meus princípios, por meus próprios estudos, para moldar minhas opiniões. Nunca
mudei de lado, sou um conservador à moda antiga, sou pragmático, não acredito
em mudanças bruscas (prefiro a evolução à revolução), não sigo “líderes” carismáticos,
populistas, demagogos, não sonho com utopias. Persigo uma Eutopia. Abomino o
culto à personalidade, e, em suma, estou meio fora do mundo de hoje.
Parêntese: utopia (do grego: oú = não; topia = lugar) portanto,
utopia significa “não lugar”, ou “lugar que não existe”. O termo “eutopia” foi
uma ideia que eu tive, e pensei ter criado o termo, pois não o achei em nenhum
dos diversos dicionários que pesquisei. Mas depois vi que ele consta do Volp
(Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), que só registra o termo e não
dá o significado, pois não é um dicionário. Até escrevi um artigo intitulado “A
Eutopia Existe”.
COMENTÁRIO
Creio que Ellery, que honra a nossa Academia Literária ao dar um show na análise etimológica das palavras “utopia” e “eutopia”, entretanto se equivoca quando considera que Bolsonaro seja “ídolo”,
ou “guru”, de seus eleitores. Ídolos não se deixam gravar pela imprensa lavando
as suas cuecas na área de serviço de uma residência oficial, e gurus não elegem
publicamente seus próprios gurus, aos quais permite mudar as suas posições
originais, cedendo espaço de suas convicções leigas aos mais abalizados argumentos.
Certo seria dizer que Bolsonaro é um “mito”, isso sim – um nanico Davi,
o qual girou a reles funda contra o portentoso Golias, que sodomizava a
sociedade havia anos, acertando o gigante bem na fronte, com letal pontaria. Somente
por isso é reverenciado pelo estrato mais esclarecido do povo brasileiro, que,
aliás, ao apostar nele, revelou-se mais numeroso do que até então se imaginava.
A “Palavra do Ano em 2019”, segundo a ACLJ, é “protagonismo”,
extensivamente às suas cognatas – o adjetivo “protagonista” e todas as
conjugações do verbo “protagonizar”. A toda hora a imprensa nacional tem
aplicado esse grupo vocabular na discussão sobre de quem seria o mérito pelos
acertos do Governo, e de quem seriam os desacertos.
O desvalido pessoal da “margem esquerda” do rio ideológico, e
aqueles que bracejam na imaginária “terceira margem”, estão todos empenhados em
furtar os louros das medidas acertadas, notadamente a iniciativa da “Nova
Previdência”, ao mesmo tempo tachando de “crise” qualquer pequena patacoada do Capitão e de sua entourage.
Mas a tal Nova Previdência, indubitável, não é de Bolsonaro. Como
diz o articulista, com absoluta verdade, o Presidente não entende nada de
economia – e ele próprio o declara – e, por isso mesmo, nunca quis deixar a sua
digital de parlamentar quando figuras das trevas tentavam implementar medidas
tão impopulares contra a Previdência Social.
Nós outros que, diferentemente de Humberto Ellery, também não
entendemos de finanças públicas, vamos acreditando no brado dos expertos no sentido
de que, em não se fazendo a reforma da Previdência agora, o País quebrará mais adiante. Mas, fossemos
parlamentares honestos durante governos deletérios, seguramente teríamos votado
contra ela.
Na verdade, a reforma é do Ministro da Economia, Paulo Guedes, o
notório “Posto Ipiranga” das finanças nacionais. É dele o mérito técnico... e
de Bolsonaro é o mérito de lhe ter autorizado.
Mas é patético e falso dizer que Rodrigo Maia seja o autor da iniciativa.
O referido deputado apenas se aliou ao Ministro do Governo, mesmo torcendo o
nariz para o seu Presidente – depois de perceber que este não adotaria os
métodos ortodoxos antirrepublicanos de negociatas com o Congresso.
O Presidente da Câmara apenas convenceu
os seus liderados, com inegável habilidade, de que a Reforma era uma cirurgia
eleitoralmente dolorosa, mas, de fato, uma medida cogente para a saúde financeira nacional. Da mesma forma que Maia não pode ser responsabilizado pela “desidratação” da Reforma, que a esquerda e o centrão protagonizam.
Reginaldo Vasconcelos
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