sexta-feira, 5 de julho de 2019

ARTIGO - Nova Política? (RMR)


NOVA POLÍTICA?
Rui Martinho Rodrigues*



O Presidente protagoniza embates que não demonstram habilidade política, no sentido tradicional. Será uma forma de obter resultados políticos? Será uma tática diferente, uma nova política? Buscar apoio diretamente das massas, sem passar por agremiações partidárias, não é novidade. É populismo. Declarações duras, ao gosto popular também. O uso das redes sociais é novidade, do ponto de vista do instrumento usado, mas não deixa de ser a aludida comunicação direta com a população.

Articulação, projeto, definição de políticas e diálogo estão ausentes? Temos neófitos em muitos postos do Governo. O próprio Presidente não tem experiência executiva e o Brasil não é para principiantes, segundo palavras atribuídas a Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927 – 1994). Registre-se que o atual Governo foi eleito por uma frente, quase aliança, ajuntamento de tendências diferentes. Liberais, conservadores e grupos sem uma identidade política, movidos unicamente pelo repúdio à improbidade de muitos políticos. Declarações sem eufemismos produzem um clima inamistoso.

Por outro lado, porém, não temos o tradicional presidencialismo de cooptação, tão repudiado pelos eleitores. Deveríamos substituir a cooptação pela negociação republicana, em torno da definição de interesse público, ao invés de negociar cargos, verbas e obras ligadas a negócios suspeitos e ao clientelismo, se isso for possível.

A alegada falta de projetos e definições políticas estaria inviabilizando o Governo. Mas temos a reforma previdenciária caminhando; mudança na política de concessão de serviços públicos; simplificação de procedimentos para empreender; encaminhamento de normas de combate ao crime e à corrupção; iniciativas diplomáticas como a facilitação da entrada de turistas (com os seus dólares) e acordos como o do Mercosul e União Europeia, fim do segredo nas transações do BNDES; cumprimento de promessas de campanha, como o reconhecimento do direito de acesso aos meios de defesa. No prazo de seis meses, não é pouco.

Derrotas do Executivo atestam o exercício das prerrogativas do Legislativo e do Judiciário. Não estamos acostumados com isso. O presidencialismo, antes de ser adjetivado como de coalizão, foi classificado como imperial. Já não é uma coisa nem outra. Choramos por isso? Os resultados decorrem das circunstâncias? Ou teremos um novo jogo político, que se serve da comunicação com as massas e do conflito para obter resultados?


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