RIO OU CHORO?
Humberto Ellery*
O Brasil já teve um Embaixador em Washington que não era diplomata
de carreira, portanto há um precedente. Apenas uma pequena diferença: era um
exemplo insofismável de erudição e elegância, sendo, à época, considerado o
primeiro intelectual brasileiro respeitado internacionalmente, membro brilhante
da Academia Brasileira de Letras (amigo pessoal de Machado de Assis).

É para o posto tão brilhantemente ocupado no princípio do Século XX
(1905/1910) que Jair Bolsonaro
vai nomear seu filho escrivão de polícia Eduardo, o Zero Três. Vai certamente “abrilhantar”
o cargo, antes desempenhado por ninguém menos que Joaquim Nabuco, honra e
glória de nosso querido Pernambuco (rimou).
Há outros precedentes: Oswaldo Aranha, Walther Moreira Sales e
Roberto Campos. É mole?
Ainda não sei se rio ou se choro...
COMENTÁRIO
É mesmo uma ousadia disruptiva do Presidente Bolsonaro – ou “rompedora”
– como preferiu traduzir o Ministro Paulo Guedes – a iniciativa de nomear um
jovem inexperiente, fosse quem fosse, e notadamente sendo seu próprio filho,
para um dos cargos mais cobiçados e estratégicos da República, a Embaixada brasileira
em Washington – sem ser do Itamarati e sem formatura no Instituto Rio Branco.
Mas, bem ou mal, trata-se de uma prerrogativa do Presidente da
República fazer livre escolha dos embaixadores, como já era no tempo de Joaquim
Nabuco, e o legítimo dignitário do Poder Executivo, democraticamente eleito, é
Jair Bolsonaro. Rir não cabe, que não tem graça nenhuma. Vale chorar, inalienável direito ao jus esperniandi.
Aliás, o advogado e jornalista Joaquim Nabuco, que Ellery toma como
exemplo, foi também, em seu tempo, um polêmico “rompedor” de paradigmas, que durante a vida encontrou várias “estradas de Damasco”.
A princípio crítico ferrenho da Igreja Católica numa família católica, abolicionista em uma família escravagista, maçom e monarquista, amásio notório de uma moça milionária – foi depois nomeado pelo
Governo Republicano para a Embaixada nos EUA, principalmente por falar inglês
fluentemente, em tempos de absoluto francesismo cultural. Depois deixou a
amante e se casou, reconvertendo-se ao catolicismo. Teve filho padre e filho diplomata, titular da Embaixada em Washington. Cada homem, um universo.
Reginaldo Vasconcelos
Nenhum comentário:
Postar um comentário