MORALISMO E GANÂNCIA
Rui Martinho Rodrigues*
A palavra moral, acompanhada do sufixo “ismo”, é quase sempre usada
para qualificar a moral do outro. A própria moral tende a ser acrescida do sufixo “ade”.
O primeiro sufixo é de origem grega, e embora sirva para designar fenômenos
linguísticos, sistemas políticos e religiosos ou doença, entre outras coisas, é
usado no debate ideológico, para indicar alguma disfunção ou patologia.
Moralismo seria, então, a moral como que patológica, apresentando desvios em
relação ao significado respeitável da palavra, tendo assim claro sentido
pejorativo. O sufixo “ade” se agrega a uma palavra para imprimir a ideia de
qualidade ou estado. Não tem sentido pejorativo. O discurso político se serve
dele para proclamar suas próprias virtudes. A moralidade é sempre aquela de
quem se expressa.
Exprobar a ganância se apresenta como moralidade, virtude associada
com superioridade intelectual justaposta ao superior estado moral de quem a
expressa. Mas o que é ganância? Quais meios usados pelo ganancioso são
reprováveis? Quais dos seus fins são iníquos? Quais efeitos perniciosos
desencadeia? Ganância é exclusividade de quem labora em certas atividades,
configurando produto de um tipo específico de relações sociais, econômicas ou
políticas?
Lawrence W. Reed, conhecido como Larry Reed (1953 – vivo), limita o sentido pejorativo da ganância à busca de vantagem injustificada, sem produzir bens e serviços. Poderíamos acrescentar: sem as trocas voluntárias dos negócios entre sujeitos capazes, com objeto lícito e forma não defesa em lei. Fazê-lo assim, e ainda ofertando bens e serviços, gerando emprego e tributo, é legítimo.
Lawrence W. Reed, conhecido como Larry Reed (1953 – vivo), limita o sentido pejorativo da ganância à busca de vantagem injustificada, sem produzir bens e serviços. Poderíamos acrescentar: sem as trocas voluntárias dos negócios entre sujeitos capazes, com objeto lícito e forma não defesa em lei. Fazê-lo assim, e ainda ofertando bens e serviços, gerando emprego e tributo, é legítimo.
Condenável é a ambição que não oferta bens ou serviços, não tem
como arrimo a vontade livre dos sujeitos envolvidos e disponibiliza o que não é
seu. O estelionatário e o ladrão agem assim. A forma decadente da democracia,
que Aristóteles (384 a.C – 322 a.C.) designava como demagogia, oferece bens e
serviços que não pertencem ao ofertante. Oferece regulamentos, exigências e
restrições, ao invés dos haveres aludidos. Não propõe negócios baseado na
vontade livre, servindo-se do poder político para impor os seus desígnios.
Não
há virtude em abrir mão do patrimônio alheio. Para obter dividendos políticos,
alavancar a venda de livros, revistas e jornais ou audiência de programas. Há
quem até repita o mesmo discurso, mudando o título e vendendo o mesmo livro
como se fossem vinte obras diferentes e fica rico condenando a riqueza. Poderia
reimprimir com o mesmo título, mas venderia menos.
A outra face do moralismo consiste em apresentar como vilão quem
satisfaz a própria ganância pelo modo descrito por Reed como legítimos:
ofertando bens e serviços conforme a vontade livre dos sujeitos, sendo o objeto lícito e a forma não defesa, gerando emprego e pagando tributos, sem
ofertar o que não lhe pertence, nem obrigar ninguém se valendo do poder
político. Ganância por dinheiro é iníqua, mas não se for por poder sobre
pessoas? Josef Stalin (1878 – 1953) e Pol Pot (1925 – 1998) não acumularam dinheiro.
Só queriam poder.
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