PROPAGANDA POLÍTICA
UM TEATRO DE HORRORES
Reginaldo Vasconcelos*
A aberrante situação sociopolítica do Brasil neste momento evoca
aquela alegoria anedótica do sapo em relação à panela d’água. Estando a água quente, o
batráquio que caia por acaso na panela pulará para fora incontinenti.
O súbito contraste entre a amena temperatura ambiente e o insalubre
calor da água fará o bicho perceber de pronto a tragédia que aquele líquido
representa, e reagir rapidamente para tirar dali o seu organismo.
Mas se o sapo cai ali na panela em água ainda fria e confortável,
ele quedará, e ainda que o fogo seja aceso e vá esquentando lentamente o meio
aquoso, aquele cururu irá se aclimatando, e irá tendo a ilusão de que tudo está normal.
O sapo do exemplo vai se acostumando com a própria desgraça, até
que não tenha mais forças para procurar a salvação, e cozinhe vivo – pois as bordas
do recipiente que ele precisaria escalar já terão um queimor insuportável.
O povo brasileiro está cozinhando em água fervente, porque foi se
habituando a dizer amém ao fogo do crime, que veio esquentando perigosamente entre os políticos
e os bandidos, a tal ponto
de se confundirem (e se ajudarem) estes e aqueles. Estes com votos de cabresto, aqueles com leis e Judiciário lenientes.
Não há mais uma clara distinção, uma fronteira bem definida entre
as ditas “organizações criminosas” armadas e as de colarinho branco – tráfico
de drogas e de influência, dinheiro sujo de sangue, de cocaína, de propina –
tanto faz.
Diante desse quadro, o teatro de horrores se escancara agora na propaganda eleitoral, fervendo
de mentiras, de falsidades, de mistificações, de promessas vãs, cada um com a mais
nítida intenção de iludir o eleitor mais uma vez – com direito até a um
sangrento atentado.
Na verdade, a água da panela nacional é escaldante, as contas
públicas descontroladas, a crise financeira se agudizando, a economia em banho-maria,
as facções dominando, de tal sorte que ninguém que seja eleito agora terá o
condão de transformar imediatamente o sapo sapecado em príncipe belo.
Sendo assim, o máximo que se pode esperar para o próximo ano é uma liderança política
que consiga apagar o fogo dos maus costumes e dos vícios arraigados, e que vá
colocando água fria na fervura através de leis e de práticas administrativas honestas,
realistas e eficazes.
“Sangue, suor e lágrimas”, em paráfrase a Churchill, é tudo que um candidato honesto pode
prometer ao eleitor atualmente, caso eleito. Os desonestos precisariam desvestir o casaco de mágico, a capa
de herói, e guardar a baladeira desleal com que tentam cegar os concorrentes.
Que o eleitor, pelo bem do Brasil, retire o roto véu com que cada candidato busca esconder as suas verdadeiras
ambições, as suas limitações reais, os seus fracassos públicos, o seu passado
sujo que a lava-jato desvendou.
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