FALSA DEMOCRACIA OU
DITADURA DISFARÇADA
Reginaldo
Vasconcelos*
A sociedade ideal é aquela em que não há miséria, onde não
convivem o fausto e a pobreza absoluta em grupos estanques, por se oporem
óbices à mobilidade social – lugares em que a linha de pobreza é considerada na faixa de renda mensal equivalente a de sete mil reais.
Em que haja educação e saúde públicas de qualidade para
todos, de modo a se manter um estado de bem-estar social generalizado, a partir
de um governo norteado pela honradez e o espírito público – como se viu na última Copa de Futebol com a Presidente da Croácia, viajando às próprias expensas e tomando chuva para abraçar o time adversário.
Uma sociedade que incentiva a produção de artes, de ciências e de riquezas econômicas, estimulando a iniciativa privada e o emprego, através
de uma carga tributária justa e adequada a um Estado mínimo e eficiente.
E em que as oportunidades de evolução cultural e
socioeconômica são acessíveis a qualquer um que as procure – sendo garantido,
inclusive, o direito pessoal de preferir permanecer intelectual e socialmente
estagnado.
Sim, porque essa opção existencial é historicamente feita individualmente
por uma parcela das populações do Planeta, independentemente da saúde econômica
e do grau organizacional e evolutivo do grupo nacional a que pertença.
Em toda parte há pessoas que se recusam à competição e à
disciplina, resignadas à sua sorte natural, que se expõem ao vício, ao ócio, à
indigência e à mendicância, opção de vida que somente as liberdades
democráticas admitem e toleram.
Há países no mundo que correspondem realmente a essa descrição acima,
de modo que não se faz aqui uma “utopia”
– o “deslugar”, o “não-lugar”, o lugar que não existe – tradução literal dessa
palavra latina, que se passou a plicar na acepção de um sonho quimérico e aparentemente
inviável.
Apenas nesses países caracterizados da forma acima descrita
se pratica a real democracia – o “governo do povo”, a pacífica soberania do
interesse popular.
De ordinário se imagina no Brasil que o conceito de
democracia se esgota no direito de votar nos dirigentes, e na liberdade de
expressão – e é isso que procuram fazer crer os ditadores disfarçados que se
adonam do poder para manter seus privilégios.
Esses ditadores disfarçados que compõem as elites
econômicas e políticas detêm mecanismos hábeis para controlar a grande mídia e
conduzir a opinião pública, usando o capital para direcionar a liberdade de
imprensa de maneira imperceptível, de modo a consagrar mentiras reiteradas e distorcer a realidade.
Naquelas sociedades perfeitas cada um conhece e cumpre o
seu dever espontaneamente, cônscio e orgulhoso de sua missão social, sem
prejuízo de envidar esforços para evoluir e melhorar, compulsão natural que é a
mola propulsora do progresso. Ali os cidadãos nada têm a contestar ou combater,
porque o pacto tácito com a coletividade é pacificamente assumido e respeitado.
Enquanto isso, o brasileiro médio é levado a acreditar que
“imprensa investigativa” prospectando lama infecta nos escaninhos do Poder seja
um sinal evolutivo. Que seja um mecanismo indicativo de saúde democrática os
sindicatos fortes e o “direito de greve”, para que trabalhadores possam
chantagear por melhores salários os empresários que idealizam, empreendem,
investem e arriscam capital sadio para criar e garantir os seus emprego.
Ingenuamente, o povo brasileiro, e mesmo os sociólogos
focados somente na realidade nacional, interpretam que protestos de rua,
quebra-quebras que resultam impunes, invasões irreprimidas de propriedades públicas e privadas, tudo isso represente a
apoteose democrática, indicadores de saúde republicana – quando, na verdade,
esses são apenas sintomas da doença psicossocial de uma nação que ainda não se
libertou ideologicamente, e ainda vive a sanha do colonialismo desvairado.
Alguns dirão que essas manifestações sociais são fruto do embate sadio entre
situação e oposição – tese e antítese em busca de uma síntese virtuosa – mas essa
concepção é totalmente enganadora. Como a História Universal já demonstrou
diversas vezes, e como se tem verificado na tradicional tranquibernice da
política brasileira, “quem está contra o poder, quer o poder”. E quer o poder,
pelo poder.
Façamos uma analogia orgânica para demonstrar quanto é
falsa a democracia brasileira:
Naquelas sociedades perfeitas acima descritas, verificadas na
Europa Central e do Norte, notadamente na Península Escandinava, bem como em
países do Extremo Oriente como, por exemplo, o Japão e a Coreia do Sul, impera a “perfeita saúde
democrática”, com pequenas e raras ocorrências de distúrbios.
Já nas ditadoras existentes ainda hoje, sejam de esquerda,
sejam de direita – sejam socialistas como Cuba e Coreia do Norte, sejam
capitalistas, como países do Oriente Médio e da África – observa-se a “ditadura
sem remédio”, porque a essência do regime de força é o despotismo, é a “doença”.
No Brasil, por seu turno, o que se tem é uma “democracia
doente”, meramente remediada por liberdades ilusórias – ou a ditadura
disfarçada, na qual a indigência é assistida e mantida pelas políticas
de governo, e a cultura do povo é aviltada, para que se mantenha a “pobreza feliz”, e nela o grande
estoque de eleitores embotados e iludíveis.
Os ditos governos democráticos brasileiros se esmeraram em
dar o peixe, e não em ensinar a pescar – pois nenhum deles investiu
massivamente em educação gratuita de qualidade, desde o ensino básico até o técnico e o acadêmico, como fizeram a Alemanha e o Japão no pós-gerra, e mais recentemente os chamados “Tigres Asiático”, única maneira de eliminar a pobreza
de forma definitiva e consistente.
É para manter esses mecanismos casuístas que o Congresso engendrou
normas pelas quais uma fortuna bilionária foi sacada dos cofres públicos para
ser distribuída aos partidos no poder, nestas eleições, para se garantirem privilégios.
Além disso, as normas eleitorais dotam esses partidos de um desproporcional tempo de propaganda eletrônica gratuita, reservado aos seus integrantes – em sua
grande maioria pessoas com maus antecedentes notórios e até com histórico criminal
na vida pública, que vêm pedir votos com a maior desfaçatez, para eles e para os seus apaniguados, aos incautos eleitores, prometendo, falsamente, o paraíso. E as massas ignaras se dispõem a votar neles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário