ONDA CONSERVADORA?
Rui Martinho Rodrigues*
O que seria conservadorismo e o que o fortalece? Palavra
polissêmica, conservador adquire significados distintos em diferentes campos. Um
economista dirá: conservador evita investimentos de risco, opta por rendimento
menor, com mais segurança. É prudente. Menor déficit, busca de equilíbrio das
contas, fuga do descontrole das dívidas é conservadorismo, é prudência.
Crédito, para alavancar o desenvolvimento, só com amparo em
cálculos rigorosos da viabilidade econômica do projeto. Crescimento, só com
investimento baseado em parcela razoável de capital próprio, ou atraindo o
capital de terceiros como investimento de risco, não como crédito. Consumo só
tendo renda. Estes são exemplo de prudência conservadora. Temos elevada
propensão ao consumo e baixa propensão a poupar, e tendemos para o endividamento.
Famílias, empresas, municípios, estados e União estão, hoje como
quase sempre ao longo da nossa história, atolados em dívidas. Consumo sem renda
e investimentos mal planejados ou mal executados são a regra. Só quando o
desastre bate à porta uma parcela expressiva dos brasileiros admite ser fantasia
consumo sem renda, crescimento sem investimento, ganhos de rendimentos sem
aumento de produtividade, e crédito a juros baixos sem contas equilibradas. Este
é o conservadorismo da racionalidade econômica, geralmente mal recebido.
Conservador, no plano institucional, é quem tende a preservar as
instituições. A produção diluvial de emendas constitucionais não decorre só do
fato de termos uma Constituição analítica. A legislação infraconstitucional é
copiosa. Avaliamos os parlamentares pela iniciativa legislativa, não pela
fiscalização do Executivo. Temos a volúpia da mudança institucional, ainda que
com certas continuidades. Aderimos com sofreguidão às novidades. Modismos são
uma forte marca da nossa cultura.
Conservador, em Antropologia Filosófica, é o homem que não se
pertence, pertencendo antes a pátria, igreja e família. Hoje nem se fala em
pátria. Os laços familiares tornaram-se frágeis. A quebra do monopólio do sagrado, antes exercido por igrejas, e o
relativismo pós-moderno, abalaram este conservadorismo. A revanche do sagrado e
os conflitos da mudança cultural súbita e profunda, porém, parecem reanimar a
concepção de homem como animal de rebanho, pertencendo aos agrupamentos
citados.
Outros rebanhos, tais como partidos e sindicatos, trouxeram
desilusões. Vaqueiros da boiada cidadã das novas manadas caíram do pedestal.
Família e igrejas têm sérios problemas. Suas lideranças têm graves falhas. Mas
sindicatos, partidos e outros agrupamentos não são mais perfeitos. Isso estimulou
a chamada onda conservadora.
A nossa moral foi formada sob a influência da ideia de que não
havia pecado do lado de baixo do equador, desde os tempos coloniais. A
permissividade, porém, sempre foi contraditória. Tratando-se da irmã, da filha
e da esposa do outro, ela é calorosamente recepcionada. A revolução dos costumes, todavia, não deixou de lado filha, irmã,
até a esposa da maioria. A dependência química trouxe tragédias. A visão idílica
do mundo sem males e sem limites, com base na proibição das proibições, foi
abalada. Os novos gestores da moral e dos costumes tiveram o prestígio atingido.
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