O MITO VIRA MÁRTIR
“BRASIL, ACIMA DE TUDO;
DEUS, ACIMA DE TODOS”.
e
A primeira coisa que me ocorre
sobre o atentado a faca contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, acontecido ontem (06.09.18), em Minas Gerais, às vésperas do Dia da Independência do Brasil, é a imensa parcela de
culpa dele mesmo no episódio – segundo os cânones da “vitimologia” – ciência
que estuda a participação da vítima para o desfecho do sinistro em que foi
vitimada.
Bolsonaro vinha se oferecendo em holocausto, mesmo antes da campanha,
mas principalmente após o seu início, quando os ânimos se acirraram – e eu já
vinha comentando isso com os íntimos, sempre que via o “Mito” nos braços do povo,
sem os cuidados necessários, com base na minha longa experiência no Palácio da Abolição, na Assistência do
Governador e na Casa Militar, acompanhando eventos, campanhas políticas e viagens do Executivo Estadual pelos belicosos sertões do interior do Ceará.
A segunda observação que faço é quanto à falha evidente da equipe de
segurança que servia ao candidato, que permitiu a aproximação de um estranho, de
feição lombrosiana, o qual teve tempo de sacar a faca, brandi-la no ar (como um
vídeo flagrou), antes de se aproximar e desferir a estocada.
Embora evitando abordar preventivamente a pessoa suspeita, que
realmente poderia ser um mero simpatizando do candidato, os policiais deveriam
tê-lo sob vigilância velada, de modo a poder abafar a sua eventual ação
agressiva logo que ela se insinuasse.
Especialistas em segurança de autoridades não podem se envolver com
a euforia do evento, nem permanecer fitando a pessoa a ser protegida, mas manter
inspeção visual sobre o ambiente circundante, preferivelmente de óculos escuros
e usando coletes, inclusive considerando a hipótese de ter que proteger a autoridade
com o próprio corpo, aos primeiros sinais da deflagração de um ataque.
Antes de tudo, os componentes de equipes de segurança precisam se conhecer muito bem fisionomicamente, de forma prévia, para facilmente se identificarem na multidão,
e durante um eventual tumulto – policiais federais, policiais militares locais,
guarda-costas particulares – para que não seja possível que um popular se
infiltre e aproxime, confundindo-se com um deles – o que neste caso pode ter
acontecido.
Contudo, o fato é que o desfecho mórbido do atentado a Bolsonaro
poderia ter sido mais grave, enquanto, do ponto de vista eleitoral, não poderia
ser mais auspicioso, pois quem sofria uma antipatia aguda e contava com reduzido
espaço de propaganda para mitigar essa rejeição, passa agora a ser o foco das
atenções na imprensa e objeto da comiseração popular e da solidariedade pública.
Vitimado pela onda de violência a que a insegurança pública vem
expondo a cidadania brasileira – cujo combate firme é o seu principal mote de
campanha – ele agora se torna um mártir dentro da sua própria tese, o que
certamente vai aproximá-lo do público e ampliar a sua popularidade, arrastando
para a sua causa muitos indecisos, branco-ou-nulos e
não-sabem-ou-não-quiseram-responder.
É claro que os seus opositores vão explorar o episódio como sendo consequência
da incitação à violência de que Bolsonaro é acusado – porém, hastear esse
argumento pode ser um tiro no pé, porque o que o candidato defende é exatamente
o “monopólio estatal do uso da força”, na expressão de Max Weber – ou a
violência oficial reflexa e justa contra a escalada criminal – e não será inteligente apoiar ou justificar
a ação ilícita praticada contra quem se insurgia vigorosamente contra ela.
07 de setembro de 2018
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