sexta-feira, 7 de setembro de 2018

ARTIGO - O Mito Vira Mártir (RV)


O MITO VIRA MÁRTIR
“BRASIL, ACIMA DE TUDO;
DEUS, ACIMA DE TODOS”.
e
Reginaldo Vasconcelos* 

A primeira coisa que me ocorre sobre o atentado a faca contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, acontecido ontem (06.09.18), em Minas Gerais, às vésperas do Dia da Independência do Brasil, é a imensa parcela de culpa dele mesmo no episódio – segundo os cânones da “vitimologia” – ciência que estuda a participação da vítima para o desfecho do sinistro em que foi vitimada.

Bolsonaro vinha se oferecendo em holocausto, mesmo antes da campanha, mas principalmente após o seu início, quando os ânimos se acirraram – e eu já vinha comentando isso com os íntimos, sempre que via o “Mito” nos braços do povo, sem os cuidados necessários, com base na minha longa experiência no Palácio da Abolição, na Assistência do Governador e na Casa Militar, acompanhando eventos, campanhas políticas e viagens do Executivo Estadual pelos belicosos sertões do interior do Ceará. 

A segunda observação que faço é quanto à falha evidente da equipe de segurança que servia ao candidato, que permitiu a aproximação de um estranho, de feição lombrosiana, o qual teve tempo de sacar a faca, brandi-la no ar (como um vídeo flagrou), antes de se aproximar e desferir a estocada.

Embora evitando abordar preventivamente a pessoa suspeita, que realmente poderia ser um mero simpatizando do candidato, os policiais deveriam tê-lo sob vigilância velada, de modo a poder abafar a sua eventual ação agressiva logo que ela se insinuasse.   

Especialistas em segurança de autoridades não podem se envolver com a euforia do evento, nem permanecer fitando a pessoa a ser protegida, mas manter inspeção visual sobre o ambiente circundante, preferivelmente de óculos escuros e usando coletes, inclusive considerando a hipótese de ter que proteger a autoridade com o próprio corpo, aos primeiros sinais da deflagração de um ataque.

Antes de tudo, os componentes de equipes de segurança precisam se conhecer muito bem fisionomicamente, de forma prévia, para facilmente se identificarem na multidão, e durante um eventual tumulto – policiais federais, policiais militares locais, guarda-costas particulares – para que não seja possível que um popular se infiltre e aproxime, confundindo-se com um deles – o que neste caso pode ter acontecido.

Contudo, o fato é que o desfecho mórbido do atentado a Bolsonaro poderia ter sido mais grave, enquanto, do ponto de vista eleitoral, não poderia ser mais auspicioso, pois quem sofria uma antipatia aguda e contava com reduzido espaço de propaganda para mitigar essa rejeição, passa agora a ser o foco das atenções na imprensa e objeto da comiseração popular  e da solidariedade pública.

Vitimado pela onda de violência a que a insegurança pública vem expondo a cidadania brasileira – cujo combate firme é o seu principal mote de campanha – ele agora se torna um mártir dentro da sua própria tese, o que certamente vai aproximá-lo do público e ampliar a sua popularidade, arrastando para a sua causa muitos indecisos, branco-ou-nulos e não-sabem-ou-não-quiseram-responder.

É claro que os seus opositores vão explorar o episódio como sendo consequência da incitação à violência de que Bolsonaro é acusado – porém, hastear esse argumento pode ser um tiro no pé, porque o que o candidato defende é exatamente o “monopólio estatal do uso da força”, na expressão de Max Weber – ou a violência oficial reflexa e justa contra a escalada criminal – e não será inteligente apoiar ou justificar a ação ilícita praticada contra quem se insurgia vigorosamente contra ela.

07 de setembro de 2018

         

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