O FUTURO DO BRASIL
NA
ENCRUZILHADA
Reginaldo
Vasconcelos*
Passou o Sete de Setembro, sem a mesma vibração patriótica
que a República merecia no passado. Cinco dias antes, a antiga Capital Federal,
por absoluta incúria administrativa, reduzira a fumaça e cinzas boa parte da
nosso passado, deixando que o Museu Nacional fosse consumido pelas chamas, numa
tragédia anunciada.
Agora o trem do destino deste grande e sofrido país segue
célere para o futuro, e uma vertiginosa curva já se vislumbra no horizonte – as
eleições de 7 de outubro – passados 35 dias da incineração da nossa História e exatamente
um mês daquele desanimado “Dia da Pátria”, com o seu desfile burocrático.
Não se ouviram tambores de colégios ensaiando a marcha, não
se viram bandeirinhas nas mãos das crianças, não havia sorrisos francos nos
rostos das autoridades nos palanques, nem aplausos efusivos dos que assistiam
da calçada à parada militar. A imprensa, por sua vez, cobriu o evento entre
bocejos e muxoxos.
Agora recebemos em casa pela TV e no carro pelo rádio uma
enxurrada de mentiras, de promessas vãs, de anúncios de sabonetes de fórmulas eficazes contra
a escabiose nacional – tudo produzido exatamente por velhos protagonistas da
desgraça do País – os quais, usando dinheiro do erário na propaganda de
campanha, tentam manter o povo, como sempre, sob transe político-hipnótico.
Há um candidato de fato à Presidência da República recolhido
à cadeia, apoiado nas ruas e nos presídio pelos colegas de infortúnio. Há um
outro candidato convalescendo no hospital, vítima de atentado a faca, cometido
por um miserável notório, entretanto logo assistido por quatro bons advogados.
A ideia era que ele matasse o candidato mais cotado, e em
seguida fosse morto pela polícia, ou linchado pelo público, imolando-se
imediatamente pela sua causa torpe. Era um plano perfeito, caso tivesse
funcionado.
Preso em flagrante, crime registrado em vídeo, criminoso
confesso, logicamente toda essa esquadrilha jurídica milionária que aterrissou em
Minas Gerais em seu socorro se presta a tentar evitar que ele confesse quem o
induziu ou contratou.
Os demais concorrentes, que pleiteiam o cargo de Presidente
da República, tirante o preso e o ferido, são agora meros coadjuvantes – e é
triste vê-los gastando o latim e os sapatos pelas ruas do País, consumindo
inutilmente a verba eleitoral, dizendo que farão isso e aquilo, quando as
consultas populares mostram que eles não farão nada, porque ficarão pelo
caminho.
Os eleitores se dividem então de forma massiva entre o
candidato improvisado, que substitui o preso e representa a “situação”, na
linha sucessória dos mais recentes três Governos – e o outro candidato, de
origem militar, eminentemente conservador, que prega medidas radicais contra os
ímpios da velha política nacional.
Este último, desprovido de habilidade política,
temperamental e estouvado, sem promessas simpáticas ao povo, à míngua de uma
plataforma de governo minuciosamente elaborada, tem crescido exponencialmente
nas estatísticas, sem sofrer grandes desgastes.
Mantem-se ele em relativo silêncio, só mitigado por
mensagens na Internet – e sem o corpo-a-corpo que vinha fazendo com o seu
eleitorado – beneficiando-se entretanto, ironicamente, pela recomendação médica
e pela internação hospitalar. Se não fala, e se não se expõe em debates, não se
queima e fica incólume.
Se ele era um mito comparável ao “Herói da Capadócia”,
fustigando, de sobre o cavalo da decência, o dragão da improbidade, tornou-se
um mártir, agora investido na sofrida figura sebastiana – e por isso mesmo
decola para a vitória, brandindo as armas de Jorge e ostentando as flechas e o sangue
do supliciado narbonense.
Aquele outro, que rivaliza com o líder e o secunda nas
pesquisas, tenta restaurar o bom conceito do seu partido, que ao longo dos anos
foi destroçado pelos fatos. Quer descolar-se dos escândalos financeiros, da
persecução criminal contra muitos dos correligionários, da presidente deposta, do aliado que herdou os destroços do Governo, enfim, justificar ou explicar
tantos insucessos e fracassos.
Sim, esta é a novela dantesca em que o Brasil está
enredado, o povo todo entre a dúvida e a incerteza, entre o perigo e o risco,
entre o mau e o pior, sacudido entre o medo dos crimes elegantes e o pavor dos crimes
de sangue, para decidir a quem entregar os destinos nacionais.
É uma grande encruzilhada. Não há como fugir dela. Omitir-se não resolve. Não vale morrer. Resta-nos
apostar na sorte, saltar no escuro, e rogar a Deus que nos proteja.
COMENTÁRIO
Iguais são minha mágoa e revolta, porém, sou ainda mais pessimista,
pois entendo que nossa pátria estremecida, infelizmente, está na descensão
rapidíssima para se "venezuelizar".
Enorme artigo, da agricultura de um patriota arguto e brasileiro fiel. Meus sinceros
emboras, Presidente, pelo texto paradigmático!
Vianney Mesquita
Iguais são minha mágoa e revolta, porém, sou ainda mais pessimista, pois entendo que nossa pátria estremecida, infelizmente, está na descensão rapidíssima para se "venezuelizar".
ResponderExcluirEnorme artigo, da agricultura de um patriota arguto e brasileiro fiel. Meus sinceros emboras, Presidente, pelo texto paradigmático!