Vinte anos de
A Escrita Acadêmica
acertos e desacertos*
Vianney Mesquita**
No fundo da prática científica existe um
discurso que diz nem tudo ser verdadeiro; mas, em todo lugar e a todo momento,
há uma verdade a ser expressa [...], pois, de qualquer maneira, ela tem curso,
aqui e em todo lugar. (MICHEL FOUCAULT
– polígrafo. Poitiers, 15.10.1926; Paris, 25.06.1984 – 57 anos).
No
começo do ano de 1998, foi lançado ao mercado editorial cearense o livro A Escrita Acadêmica – acertos e
desacertos, composto a quatro mãos, pelo Prof. Dr. J. Anchieta E. Barreto e eu.
Felizmente, ele vicejou em terreno fértil, pois nossos consulentes do meio
universitário, leitores do comentado volume, parece que se libertaram da
maioria dos vícios que grassam na academia nacional.
É
a deleitável recompensa de um esforço cujo resultado era uma aventura desvairada – conforme nomeamos
a empreitada antes de lançá-la à sorte. Tal fato, sem dúvida, representa o
interesse de um capital investido na nossa iniciativa
empresarial, há muito acalentada e então realizada, de modo que, ainda
hoje, experimentamos a colheita dos seus dividendos.
Há
que se imprimir, entretanto, continuidade no empenho, em sala de aula e na
orientação de escritos universitários, a fim de a norma culta, com a qual se
manifesta o pensamento no concerto das instituições de ensino e pesquisa, não
sobrar tão desgastada com o emprego de clichês, manias e impropriedade de
várias naturezas, as quais deslustram os estilos e pouco ou quase nada somam ao
acervo do conhecimento, quando não aditam informações falazes.
A
ininterrupção desse zelo, por parte também dos leitores do mencionado trabalho
– especialmente professores – é necessária para que, por exemplo, não mais se
registem em comunicações acadêmicas pérolas como “[...] um crucifixo da marca INRI” ou, no caso do “adevogado” que pediu o Corpus Christi do preso em razão do
abuso de autoridade; para que membros da academia não escrevam mais que o conceito se bifurcou em dois nem que
[...] o Brasil é um país com dimensões
continentais [...] e é como um barril
de pólvora prestes a explodir a qualquer momento.
Veio
esse registro a propósito das respostas do público leitor às edições dos livros
que tive a felicidade de editar até hoje, todos eles muito bem atestados pelos
leitores e a crítica especializada. Não provei, até agora, dos nomeados arquitetos a posteriori, conforme Sérgio Milliet da Costa e Silva chama os
críticos. Todas as apreciações respeitantes aos meus escritos – em livros,
artigos de revistas universitárias e textos outros – trazem a marca da
urbanidade e da decência, sem açoites violentos nem servilismos compadrescos a
jeito de retribuição qualquer.
Para
que assim ocorra, entretanto, se impõe a responsabilidade de quem escreve, para
não conduzir o leitor ao engano, pois este, em tese, observa a chamada “fé do
carvoeiro” em tudo o que se publica por via dos media, os quais, para a enorme e amorfa massa audiente, só se
referem à verdade, como se os meios para difusão coletiva expressassem apenas a verdade. Livro, jornal,
rádio, televisão e meios eletrônicos não podem mentir! Grande balela...!
A
mensuração do escritor é procedida pelo seu público e aquele deve ponderar as
respostas das suas audiências com vistas a tomá-las ou não em conta quando da
edição de outros trabalhos. Assim procedo, de sorte que me animo sempre a
publicar o que produzo em virtude do meu ofício.
Esta
razão me obriga a sempre levar ao lume mais conceitos, esposados na levedura
impressa da palavra, fazendo “inflar” o valor dos textos sobre os quais me
debruço em análises, fornecendo-lhes o necessário e justo condimento para que
os autores se animem a cada vez mais produzir.
Por
tal pretexto, vez por outra, jogo FERMENTO NA MASSA DO TEXTO, que serve,
também, para homenagear a Padaria Espiritual, maior movimento literário e
cultural do Ceará em todos os tempos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário