segunda-feira, 16 de abril de 2018

NOTA ANIVERSÁRIA - Vinte Anos de A Escrita Acadêmica (VM)


Vinte anos de
A Escrita Acadêmica
 acertos e desacertos*
Vianney Mesquita**




No fundo da prática científica existe um discurso que diz nem tudo ser verdadeiro; mas, em todo lugar e a todo momento, há uma verdade a ser expressa [...], pois, de qualquer maneira, ela tem curso, aqui e em todo lugar. (MICHEL FOUCAULT – polígrafo. Poitiers, 15.10.1926; Paris, 25.06.1984 – 57 anos).



No começo do ano de 1998, foi lançado ao mercado editorial cearense o livro A Escrita Acadêmica – acertos e desacertos, composto a quatro mãos, pelo Prof. Dr. J. Anchieta E. Barreto e eu. Felizmente, ele vicejou em terreno fértil, pois nossos consulentes do meio universitário, leitores do comentado volume, parece que se libertaram da maioria dos vícios que grassam na academia nacional.

É a deleitável recompensa de um esforço cujo resultado era uma aventura desvairada – conforme nomeamos a empreitada antes de lançá-la à sorte. Tal fato, sem dúvida, representa o interesse de um capital investido na nossa iniciativa empresarial, há muito acalentada e então realizada, de modo que, ainda hoje, experimentamos a colheita dos seus dividendos.

Há que se imprimir, entretanto, continuidade no empenho, em sala de aula e na orientação de escritos universitários, a fim de a norma culta, com a qual se manifesta o pensamento no concerto das instituições de ensino e pesquisa, não sobrar tão desgastada com o emprego de clichês, manias e impropriedade de várias naturezas, as quais deslustram os estilos e pouco ou quase nada somam ao acervo do conhecimento, quando não aditam informações falazes.

A ininterrupção desse zelo, por parte também dos leitores do mencionado trabalho – especialmente professores – é necessária para que, por exemplo, não mais se registem em comunicações acadêmicas pérolas como “[...] um crucifixo da marca INRI” ou, no caso do “adevogado” que pediu o Corpus Christi do preso em razão do abuso de autoridade; para que membros da academia não escrevam mais que o conceito se bifurcou em dois nem que [...] o Brasil é um país com dimensões continentais [...] e é como um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento.

Veio esse registro a propósito das respostas do público leitor às edições dos livros que tive a felicidade de editar até hoje, todos eles muito bem atestados pelos leitores e a crítica especializada. Não provei, até agora, dos nomeados arquitetos a posteriori, conforme Sérgio Milliet da Costa e Silva chama os críticos. Todas as apreciações respeitantes aos meus escritos – em livros, artigos de revistas universitárias e textos outros – trazem a marca da urbanidade e da decência, sem açoites violentos nem servilismos compadrescos a jeito de retribuição qualquer.

Para que assim ocorra, entretanto, se impõe a responsabilidade de quem escreve, para não conduzir o leitor ao engano, pois este, em tese, observa a chamada “fé do carvoeiro” em tudo o que se publica por via dos media, os quais, para a enorme e amorfa massa audiente, só se referem à verdade, como se os meios para difusão coletiva  expressassem apenas a verdade. Livro, jornal, rádio, televisão e meios eletrônicos não podem mentir! Grande balela...!

A mensuração do escritor é procedida pelo seu público e aquele deve ponderar as respostas das suas audiências com vistas a tomá-las ou não em conta quando da edição de outros trabalhos. Assim procedo, de sorte que me animo sempre a publicar o que produzo em virtude do meu ofício.

Esta razão me obriga a sempre levar ao lume mais conceitos, esposados na levedura impressa da palavra, fazendo “inflar” o valor dos textos sobre os quais me debruço em análises, fornecendo-lhes o necessário e justo condimento para que os autores se animem a cada vez mais produzir.

Por tal pretexto, vez por outra, jogo FERMENTO NA MASSA DO TEXTO, que serve, também, para homenagear a Padaria Espiritual, maior movimento literário e cultural do Ceará em todos os tempos.


*Este texto foi escrito, originalmente, como prefácio do livro Fermento na Massa do Texto (Apreciações), ora modificado (MESQUITA, Vianney. Sobral: Edições UVA, 2001).




Nenhum comentário:

Postar um comentário