quinta-feira, 26 de abril de 2018

ARTIGO - O Flautista de Hamelin (HE)



O FLAUTISTA DE HAMELIN
Humberto Ellery*


Como queria Ortega y Gasset, “ser de Esquerda é, assim como estar à Direita, uma infinidade de maneiras que o Homem pode escolher ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia moral”.

Eu, particularmente, não sou de Esquerda, pois não sou comunista/socialista, não comungo das ideias de Marx, Engels, Lenin, Gramsci, Trotski, nem outros milhares de esquerdistas, mas que os leio e procuro conhecer-lhes o modo de pensar. Até para criticá-los com base, enfrentá-los nos debates, desde as Assembleias Gerais Permanentes do Diretório Acadêmico João XXIII. (ô saudade!)

Também não aceito o rótulo de “direitista”, preliminarmente porque não sou um produto na prateleira, que precisa de rotulagem para ser reconhecido, mas principalmente porque não concebo que o amplo leque de ideias e ideais políticos, doutrinários e ideológicos com o qual aprecio percorrer meu pensamento, possam ser tão estupidamente empobrecidos e reduzidos a dois focos:   Esquerda e Direita (e ainda tem um tal de “Centro”, que também não sei o que é!). É como pintar o Arco-Íris de preto e branco (e de cinza, ao centro).

Também não aceito para mim as imputações com que a esquerda brinda  seus adversários de direita:

a. “têm ódio aos pobres, não os querem nos aviões nem nas faculdades”;

b. “defendem a exploração dos pobres trabalhadores pelos capitalistas cruéis; odeiam estrangeiros”;

c. “defendem o lucro capitalista antes da justiça social – e outras bobagens que aprisionam o pensador numa ‘caixinha’”.

Logo eu! Liberal e conservador, que odeio prisões, por virtuais que sejam!

Atualmente a coisa ficou mais ridícula com o surgimento dos termos “mortadela” e “coxinha”. Mortadela se refere ao pão com mortadela, que os sindicatos (esquerdistas) distribuem com seus militantes nas suas manifestações políticas e passeatas.

Mas coxinha, ao contrário do que pensa a maioria, não tem nada a ver com o salgadinho (que eu adoro). Em São Paulo, há já algum tempo, esse termo tem sido usado para identificar aqueles que antigamente eram chamados de “dandys” “almofadinhas”, “mauricinhos”, principalmente por seu modo de vestir, sempre limpo e engomadinho (vide João Dória).

Voltando à dicotomia Esquerda X Direita, ou melhor, “mortadelas” X “coxinhas”, observei que a direita passou décadas em silêncio, sem participar do debate político nacional, satisfeita com sua posição de “maioria silenciosa”. Numa mistura de covardia e falta de cultura política, fugiam do debate com a esquerda, por carência de argumentos para enfrentar a polêmica, e por medo dos rótulos absolutamente depreciativos que a esquerda cunhou para qualificar os “coxinhas”.

Mas agora, com a vergonhosa derrocada do PT, símbolo maior das esquerdas (são várias), e tendo a revolução da Internet colocando um megafone nas mãos de qualquer abestado que se julga um Aristóteles, a direita se encheu de coragem, e entrou em campo disposta a ir a la recherche du temps perdu, mas completamente por fora do que está se passando, com muita disposição mas sem conhecer as regras do jogo, nem pra que lado tem que chutar, sai afobadamente dando botinadas nos parceiros, confraternizando com os adversários e fazendo gol contra.

Como entender, por exemplo, os “coxinhas” incensando o Ministro Roberto Barroso, que:

1. enquanto advogado defendeu gratuitamente o Cesare Battisti, braço assassino de um grupo terrorista de extrema esquerda chamado Proletari Armati per il Comunismo;

2. se cacifou para chegar à suprema corte por conta dessa advocacia graciosa, e chegou criticando o excessivo rigor do “mensalão”, que definiu como “um ponto fora da curva”, quando o Marco Aurélio disse que o “novato” chegou querendo dar aulas aos veteranos;

3. “ressuscitou” os embargos de infringência, com isso livrando o Dirceu, o Vaccari, o Genoíno, o João Paulo da prisão em regime fechado, para desespero do Joaquim Barbosa que queria “lascar todo mundo”;

4. mentindo descaradamente frente ao povo brasileiro, alterou o Regimento Interno da Câmara dos Deputados para evitar uma votação secreta, que seria perigosa para a Dilma;

5. estuprou a CF88 para retirar da Câmara dos Deputados o poder de aceitar a denúncia contra a Dilma, e transferiu esse poder ao Senado Federal, onde se julgava que a “presidenta” teria mais chances;

6. mais uma vez estuprou a CF88 descriminalizando um aborto ao terceiro mês de gestação.

E chega! Prometo um artigo inteiro só falando do Barrosão. Tenho muito mais a dizer.

Para concluir, quero alertar para o falar melífluo e falacioso do Barrosão, que encantou os “coxinhas”. Lembra o flautista de Hamelin, que segue à frente, seguido pelos ratinhos embevecidos pela melodia suave e doce de sua flauta, enquanto os conduz ao Rio Weser, onde os matará afogados.

Pobres “coxinhas”!



COMENTÁRIO

Será que eu poderia assinar esse texto? Não querendo carona na autoria do Humberto Ellery, porque não desejo passar por coautor de trabalhos para os quais não tenho o talento necessário. A pergunta, retórica, vale apenas como declaração de admiração e apoio ao modo como ele diz, e ao que ele diz.

Rui Martinho Rodrigues


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