segunda-feira, 23 de abril de 2018

CRÔNICA - Peixe Para Tira-Gosto (TL)


PEIXE PRA TIRA-GOSTO
Totonho Laprovitera*




O grande brega-star Falcão me contou que o notável violonista Tarcísio Sardinha anda bebendo num bar fuleragem que só, lá pelas bandas do Rodolfo Teófilo, airoso bairro da cidade de Fortaleza.

Pra vocês terem ideia da coisa e do lugar, os frequentadores diaristas formam mesa na calçada, onde desenham a giz um peixe para bem servir de tira-gosto. Funciona assim: Depois de um gole de cerveja ou um trago de cachaça, o papudim pega uma quengada chinela japonesa e esfrega e apaga o pedaço de peixe, escolhido pra “comer”.

Pois bem, noutro dia, depois de uma talagada de cachaça tamanho dum bonde, um deles aloprou e apagou a cabeça do peixe por inteiro. Foi um deus-nos-acuda e o pau comeu de esmola, na calçada!

– Ôoorra, esse carniça traçou a cabeça do peixe todinha!




– Arre égua, sem-futuro, vai botar boneco por causa dum pedaço réi de peixe?

– Fuleragem, tu não deixou escapar nem o oi do bicho!

– Ah, mói, desse jeito não tem condição, não...

– Garai, tira-gosto é pra beliscar, né almoço, não...

– Agora pronto, o mundo vai se acabar!

– Pois, faça o seguinte: pelo menos beba uma cachaça melhorzinha...

– Por que?

– Ora, porque com cachaça boa, o tira-gosto sobra...

– Home, quer saber duma coisa?

– Não.

– Não é uma ova! Pegue o resto desse peixe véi e...

– No seu!

– Me respeite, seu fela!

Resumindo. Acabada a enronha, com a intervenção da turma do deixa-disso, quando deram fé, já tinham apagado – “comido” – o peixe inteiro! Pra não perder a viagem, mortim de fome, um esgalamido lambeu a calçada, como prato fosse!

E é desse jeito, comumente, em derradeira confusão, que acaba a longa jornada de batente do já famigerado Bar do Peixe.


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