QUEM VEM LÁ?
Rui Martinho Rodriuges*
Durante a campanha presidencial de 1930,
Getúlio Vargas percorreu algumas cidades, fazendo comícios. João Batista
Luzardo (1892 – 1982), gaúcho de Uruguaiana, esperava a comitiva em algum lugar
estratégico para, com grande vozeirão, saudar a comitiva.
Começava gritando: “Quem
vem lá?!” Ele mesmo respondia, tecendo elogios ao candidato. Hoje temos uma
campanha enigmática. Não sabemos ao certo quem serão os candidatos viáveis. Uns
podem cair nas malhas da Lava Jato. Outros já caíram. Não sabemos quem são os
novatos, apenas que estão surfando na onda da repulsa aos veteranos. Só nos
resta avaliar possíveis nomes.
Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF,
notabilizou-se pelo denodo com que se dedicou ao processo do “Mensalão”, quando
enfrentou a resistência de alguns dos seus pares e enfrentou as dores de quem
corta na própria carne, condenando irmãos ideológicos do partido que ele
sufragou. É um jurista de méritos, reconhecido internacionalmente. Acabam aí as
informações que sabemos ao certo sobre ele.
Comprou apartamento nos EUA. Isso é uma
mácula? Não. Valeu-se de uma offshore,
artifício tolerado pela lei. Isso é suspeito? Não sabemos se houve algo
irregular ou antiético na transação. Agora se diz que ele bate na mulher. Mas
só agora isso apareceu. A Suspeita deve recair é sobre essa afirmação. Sabemos
que ele não tem experiência administrativa nem parlamentar. Propala-se que é
uma pessoa intratável, do que parece ter dado mostras em algumas ocasiões.
Olhando para além da pessoa, perguntamos: quais
são as suas propostas? Não sabemos nada além de que o possível candidato
pretende ser um governante íntegro, sem a menor tolerância com a corrupção.
Isso é o bastante para grande parte do eleitorado.
Mas será que um homem sem habilidade política,
sem partido e sem programa poderá promover o expurgo de corruptos, embora tenha
de governar com um Congresso eleito pela via tradicional? Será que ele entende
de Brasil?
O homem que não soube enfrentar dez
companheiros do STF, por mais difícil que isso seja, saberá enfrentar 513
deputados e 81 senadores, mais 27 governadores e 5.570 prefeitos e inúmeras
outras fontes de pressão? Não sabemos, mas desconfiamos que a resposta seja não.
Talvez estejamos diante de um candidato com algumas semelhanças com os
presidentes Jânio e Collor, no que concerne ao jeito de brigão e intolerante,
tão sedutor para uma parte do eleitorado.
Democracia exige partidos bem constituídos.
Não temos isso. Barbosa concorrerá para fortalecê-los? Até agora não fez nenhum
gesto neste sentido. O Brasil precisa de reforma política, tributária,
previdenciária e administrativa. O que ele pensa sobre tudo isso? Não sabemos.
Um líder precisa ter equilíbrio. Barbosa não tem demonstrado tal coisa.
Quem vem lá? Uma incógnita. Um salto no escuro.
Mas o que dizer dos demais? Depois eu conto.
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