O
BARROSÃO
É SEM NOÇÃO
Humberto
Ellery*
Certo dia, o grego Esopo viu um cordeiro se
aproximar mansamente de um regato que escorria cristalino morro abaixo, e
começou a beber sua água. De repente surgiu às margens do mesmo regato, lá no
alto do morro, um lobo muito mau e arrogante (e faminto) que foi logo gritando:
– Ei, seu cordeiro safado, você está toldando
a água que eu vou beber!
O cordeiro respondeu:
– Como pode ser isso, seu Lobo, se eu estou a
jusante do rio e o senhor está a montante? (o cordeiro conhecia os termos de
hidrologia).
O lobo, prepotente, rosnou:
– Se não foi agora foi no ano passado, e você
vai me pagar por isso!
– Seu Lobo, eu nasci este ano, como posso ter
feito isso, se no ano passado eu ainda não era nascido? – perguntou o cordeiro.
O lobo, covardemente, gritou:
– Então foi seu irmão!
– Eu sou filho único, seu Lobo, não tenho
irmãos – obtemperou o cordeiro.
– Pode ter sido seu pai – impacientou-se o
lobo, já arreganhando os dentes.
O cordeiro, já morrendo de medo, redarguiu:
– Meu pai virou churrasco antes do meu
nascimento, seu Lobo, não poderia tê-lo feito.
O lobo, sempre acusando sem provas, mentiroso
que era, referiu-se sempre a crimes que o cordeiro teria cometido no passado,
por si ou por seus parentes. Em nenhum momento acusou o cordeiro por crimes que
ainda poderia vir a cometer no futuro.
Afinal o lobo foi até criterioso. Como acusar
alguém por um crime que supostamente iria cometer no futuro? Mesmo porque ele
sabia que o cordeiro não teria futuro, se é que me entendem.
Essa história não teve um happy end, e detesto o seu desfecho.
Muito cruel para o meu gosto.
Lembrei dessa fábula acompanhando as
investigações do Caso Rodrimar. Como é de conhecimento geral, o Presidente
Temer está sendo investigado por ter supostamente recebido propina da Empresa
Rodrimar, que atua no Porto de Santos, em troca de um Decreto que teria
beneficiado aquela empresa.
O Ministro Barroso, Coordenador Geral do
Projeto Fora Temer, mandou a PF investigar como teria acontecido o crime (que
ele tem convicção que aconteceu, só não tem as provas).
Depois de exaustivas investigações, com quebra
de sigilo bancário (ao arrepio da lei), e as prisões dos amigos do Presidente e
de seus correligionários, investigaram até uma reforma na casa da Maristela,
filha do Presidente (que diabos a cueca tem a ver com as calças?), e não
encontraram uma prova sequer, por mínima que fosse. Nada!
O certo é que o Diretor Geral da Polícia Federal,
Fernando Segóvia, disse que o processo provavelmente seria arquivado, pois não
havia provas contra o Presidente Temer. Prá que!? O Barrosão foi no pescoço do
Segóvia, só não mordeu-lhe e jugular porque o Presidente Temer imediatamente o
despachou para a Itália.
Mas o Barrosão não desiste, deu mais sessenta
dias para a PF achar alguma prova – tem que escarafunchar tudo, mesmo que essa
bagunça instalada prejudique a lenta e penosa recuperação do País. Mais
importante é continuar as ações do Projeto Fora Temer, custe o que custar!
Enquanto isso, a defesa do Presidente achou
que tinha uma prova cabal, irrefutável, da sua inocência (agora é assim, o ônus
da prova é do acusado).
Que prova tão definitiva e irretorquível é
essa? Simples: a leitura do Decreto assinado pelo Presidente (Dec.nº
9.048/2017) só abrange, e beneficia, empresas que tinham contrato com o Porto
de Santos após 1993, e a concessão da Rodrimar é anterior a 1993. Simples, não é?
Simples coisíssima nenhuma, pois o Ministro
Barroso, ao examinar o texto, concluiu que existe uma “brecha” em um
determinado artigo, que permite uma alteração do Decreto no futuro e que poderá
vir a favorecer a Rodrimar. E eu que pensava que qualquer lei pode ser alterada
a qualquer tempo! O tal do Franz Kafka era um aprendiz.
Como podemos ver, antigamente, no tempo em que
os animais falavam, o Lobo Mau, mesmo sendo prepotente, arrogante, mentiroso,
acusando sem provas, não acusava crimes que poderiam vir a ser praticados no
futuro. Era mais criterioso que o Barrosão!
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