São Roque versus São José,
Prélio Desigual
Vianney Mesquita*
O riso é a Aritmética Elementar, o humorismo a
Álgebra e a ironia o Cálculo Infinitesimal. (Dino Segre, dito PITIGRILLI – escritor
italiano. Turim, 9.5.1893; 8.5.1975).
Diferentemente
do que poderia imaginar o leitor, à vista inaugural do título desta crônica e
data em que foi escrita – 19.03.2018 – não cuido, nesta oportunidade, de fazer
comentários acerca da vida e dos exemplos destes dois paradigmas de pessoas em
vida, hoje santificados pelo Direito Canônico da Igreja Católica – São José, o
Carpinteiro, esposo da Virgem Maria, e São Roque (de Montpellier), um dos
também mais prestigiosos eleitos por Deus, este com culto, particularmente, em
França e na Itália.
O
Pai adotivo de Jesus Cristo, descendente da cepa de David, é o padroeiro dos
carpinteiros, das famílias, do Ceará, do Brasil e da Igreja Católica em todo o
Mundo e é mandante das chuvas para o nosso Estado, sobre quem o sacerdote
celebrante da Missa de hoje deitou, na homilia, procedentes elogios.
São
Roque de Montpellier (1295-1327), com festa litúrgica em 16 de agosto, foi
canonizado pelo Papa Gregório XIV em 1591 e é particularmente conhecido por
trazer, de nascença, uma cruz no peito e ter uma ferida em uma coxa, além de
ser o protetor contra a peste, conforme narra a estória, sem tinta forte de
veracidade.
Peço
até perdão prévio, aos dois eleitos, pela brincadeira que vou contar aqui,
conhecida logo depois que cheguei da minha Palmácia a Fortaleza (02 de agosto
de 1960), indo morar na Rua José do Patrocínio, 124 – Praça da Igreja de Nazaré
(hoje Rua Padre João Piamarta), no Montese.
Conta
a “cambada da UDN”, decerto em troça eivada de invencionice, que, em 1959, era
vigário da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, hoje dirigida pelos padres
piamartinos, o Padre Alberto Nepomuceno de Oliveira (Pacatuba-1921), que,
depois, foi vigário da Paróquia de N.S. Aparecida, também no Montese (1960), e
chegou a ocupar cátedra como imortal da Academia Cearense de Letras. Sob o
prisma da História, convém exprimir, as informações são verídicas.
Narrou
uma pessoa que um dos apostadores da Praça do Ferreira naquela época, no exato
dia de São José – 19 de março de 1959 – foi visto, antes da Missa, saindo da
Sacristia da Igreja de Nazaré – dizia – “certamente, depois de conversar com o
Padre Alberto”.
Chegou
insultando todo mundo que estava aguardando no patamar da igreja o começo da
Missa com o seguinte sugestionamento, adiantando, de logo, que era de 100 por
50, de um para meio: a aposta era de que, NO SERMÃO, O CELEBRANTE, PADRE ALBERTO,
FALARIA MAIS EM SÃO ROQUE DO QUE EM SÃO JOSÉ!
Isso
era, realmente, impossível. Nem se fosse dia de São Roque, 16 de agosto!
Menino!
Choveu de gente. Foram 89 apostas em 15 minutos, casadas as importâncias nas
mãos, ora de amigos do apostador-proponente, ora nas dos conhecidos dos investidores,
estes na certeza absoluta de que, após a Celebração das cinco da tarde,
tomariam umas cervejas a mais, antes irem ao Cine América (atrás do Colégio
Juvenal de Carvalho), para assistirem ao filme O Camelô da Rua Larga, com o Zé Trindade.
Perdeu-se
o interesse pelo fulcro do Santo Sacrifício e o proveito centrou-se somente no
sermão.
Com
dois minutos de prática, estava catorze a zero para São José; e os jogadores
vibrando de alegria. Era claro. Aquilo era mais mole do que empurrar bêbedo em
ladeira! Só quem fosse por demais abestado poderia acreditar numa sandice
daquelas!
O
homem da Praça do Ferreira, entretanto, parecendo contrito e sem se incomodar
com o baile que o time de São Roque levava do São José, tranquilamente esperava
o fim da homilia. Parecia Flamengo do Rio x Íbis, ou mesmo Alemanha x Brasil em
2014.
Geralmente,
o Padre só falava durante, no máximo, quinze minutos e, aos doze, estava de 48
x zero. O Orador referira-se a Nossa Senhora dezessete vezes, em São Zacarias, falou
três, em Sant’Ana, quatro, duas em São Francisco, São João Vianney (o Cura
d’Ars) e Santa Teresinha do Menino Jesus, e uma vez em vários eleitos por
Cristo, como Santo Arnaldo, São Vicente Alencar, São Reginaldo etc, sempre
comparando os predicados de São José, cujo dia se celebrava.
Num
dado momento, ele disse: “Apesar de haver um número, hoje, quase incontável de
exemplos de pessoas santificadas – mais de três para cada dia do ano – de que
São José (49 x zero) é o exemplo, também há outros eleitos, conforme os já
citados aqui que enobrecem a espécie humana, e que viveram para a fé e a
caridade, como, por exemplo, é também o caso de São Roque, santo francês,
protetor contra as doenças pestilentas. São Roque é, realmente, também, um
paradigma de santidade. Como São Roque (49 x 3) há demais santos iguais em
nobreza, santidade e com o mesmo desinteresse de São Roque pelas coisas
terrenas.” [...] (49 x 4).
“Citando,
porém”, – continuou o Padre Alberto – “São Roque de Montpellier (49 x 5), volto
a falar no Santo Carpinteiro, pois o Esposo da Virgem Maria tinha uma oficina
de marcenaria, na qual pelejava o dia inteiro. O eleito por Deus, protetor do
Brasil e do Ceará, pobre como era, não possuía equipamentos de boa qualidade. O
Pai Adotivo de Jesus Cristo [...]
(E
eis que, de súbito, deixou de pronunciar o nome de São José, substituindo-o por
agnomes e antonomásias, o que deixou as pessoas de orelha em pé; mas, como o
jogo estava de 49 x 5, não haveria, decerto, o que temer). [...] somente
contava com velhas puas, limas, grosas, martelo já desgastado, brocas estragadas
e outras ferramentas ruins. Certo dia, quando tinha de entregar uma encomenda
no final da tarde, o também Padroeiro da Diocese de Garanhuns ficou preocupado,
pois o serrote de cinquenta dentes estava totalmente cego, de modo que, a muito
custo, serrava uma peça fina.
Então,
o Marceneiro de Nazaré teve de pegar a lima e amolar os dentes do serrote: roque, roque, roque, roque, roque [...]
E assim fez com todos os cinquenta. Louvado seja N.S.J.C. Creio em Deus
Pai,[...]”.
Dobadoura
grande na Igreja: 55 para São Roque e 49 para São José.
Conta
a turma que, no outro dia, o Padre Alberto Nepomuceno de Oliveira fora visto
entrando na casa do apostador fiel de São Roque, na Rua Ana Nery, 153, no
Jardim América.
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