domingo, 29 de abril de 2018

CRÔNICA - Acho que Ele Pulou (HE)


ACHO QUE ELE PULOU!
Humberto Ellery*


Eu tenho um sobrinho que foi uma das crianças mais traquinas que eu já conheci. Conto uma, dentre as várias “estrepolias” de sua extensa “folha corrida”.

A sua avó materna, muito religiosa, passava boa parte do tempo rezando, e mantinha na sala da casa um santuário, atulhado de santos de todos os tamanhos e materiais.

Certo dia o Paulinho se aproximou do santuário e, buliçoso que era, começou a mexer. Dona Elvira, que silenciosamente “debulhava” um terço, interrompeu suas orações para admoestar o neto:

Paulinho, não mexa nos meus santos.

Tô mexendo não, vovó, tô só olhando – respondeu o anjinho.  

Paulinho, a gente olha com os olhos, e não com os dedos continuou Dona Elvira.

No momento seguinte: Crás! um santinho de gesso espatifou-se no chão. Dona Elvira levantou-se rapidamente e dirigiu-se ao santuário e, já meio chorosa, ralhou com o neto:

Paulinho, viu o que você fez? Quebrou meu santinho.

Fui eu não, vovó respondeu, com convicção, o pequeno peralta.

Como não foi você, Paulinho? Aqui só estava você. Como pode ser isso?

E o Paulinho, bem compenetrado, como quem conta um segredo, sussurrou:

Vovó, eu acho que ele pulou!

Esse fato surgiu na minha memória ao assistir ao noticiário sobre a investigação do caso Rodrimar, quando o Ministro Barroso, que já havia prorrogado a infindável investigação por sessenta dias, concedeu mais outros sessenta dias à Polícia Federal, para ver se, finalmente, encontram algum delito incriminando o Presidente Temer. Acho que se investigassem minha vida com tanto denodo e persistência iriam acabar descobrindo que fui eu quem matou John Kennedy.

O Presidente Temer, bastante irritado, se queixou do fato de seus advogados, mesmo requerendo formalmente à PF, não terem tido acesso a informações, que correm em sigilo – e, no dia seguinte, ler nos jornais trechos selecionados do inquérito “sigiloso”, os quais, postos fora do contexto, parecem comprometedores.

Algumas pessoas maldosas, mentirosas e totalmente irresponsáveis afirmam que esses “vazamentos” rendem verdadeiras fortunas aos vazadores. Tais vazadores, lá de dentro,  extrairiam trechos do inquérito e os venderiam aos órgãos de imprensa, que os publicam, sem nenhum pudor.


Dizem que no Ministério Público Federal é a mesma coisa.  É óbvio que não acredito nisso. Só pode ser mais uma das tais fake news. Também não acredito que algum “repórter investigativo”, na calada da noite, tenha tido acesso ao prédio da PF, se dirigido aos últimos andares da instituição e, compulsando os autos, produzido a matéria. Seria preciso um Tom Cruise para cumprir essa “missão impossível”.

Aliás, os próprios delegados federais afirmaram em nota oficial que não favorecem, nem perseguem ninguém. Eu acredito piamente. Foi Papai Noel quem me confirmou.


Pelo menos, ao lembrar daquela passagem entre o meu sobrinho danado e a sua angélica avozinha, não tenho mais dúvidas: esse pacote de informações sigilosas “pulou” dos últimos andares do prédio da PF e caiu bem na Redação da Folha de São Paulo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário