ACHO
QUE ELE PULOU!
Humberto
Ellery*
Eu tenho um sobrinho que foi uma das crianças
mais traquinas que eu já conheci. Conto uma, dentre as várias “estrepolias” de sua
extensa “folha corrida”.
A sua avó materna, muito religiosa, passava
boa parte do tempo rezando, e mantinha na sala da casa um santuário, atulhado
de santos de todos os tamanhos e materiais.
Certo dia o Paulinho se aproximou do santuário
e, buliçoso que era, começou a mexer. Dona Elvira, que silenciosamente “debulhava”
um terço, interrompeu suas orações para admoestar o neto:
–
Paulinho, não mexa nos meus santos.
–
Tô mexendo não, vovó, tô só olhando – respondeu o “anjinho”.
–
Paulinho, a gente olha com os olhos, e não com os dedos – continuou Dona Elvira.
No momento seguinte: Crás! um santinho de
gesso espatifou-se no chão. Dona Elvira levantou-se rapidamente e dirigiu-se ao
santuário e, já meio chorosa, ralhou com o neto:
– Paulinho,
viu o que você fez? Quebrou meu santinho.
– Fui
eu não, vovó – respondeu,
com convicção, o pequeno peralta.
– Como
não foi você, Paulinho? Aqui só estava você. Como pode ser isso?
E o Paulinho, bem compenetrado, como quem conta
um segredo, sussurrou:
– Vovó,
eu acho que ele pulou!
Esse fato surgiu na minha memória ao assistir ao noticiário sobre a investigação do caso Rodrimar, quando o Ministro Barroso,
que já havia prorrogado a infindável investigação por sessenta dias, concedeu
mais outros sessenta dias à Polícia Federal, para ver se, finalmente, encontram
algum delito incriminando o Presidente Temer. Acho que se investigassem minha
vida com tanto denodo e persistência iriam acabar descobrindo que fui eu quem
matou John Kennedy.
O Presidente Temer, bastante irritado, se
queixou do fato de seus advogados, mesmo requerendo formalmente à PF, não
terem tido acesso a informações, que correm em sigilo – e, no dia seguinte, ler
nos jornais trechos selecionados do inquérito “sigiloso”, os quais, postos
fora do contexto, parecem comprometedores.
Algumas pessoas maldosas, mentirosas e
totalmente irresponsáveis afirmam que esses “vazamentos” rendem verdadeiras
fortunas aos vazadores. Tais vazadores, lá de dentro,
extrairiam trechos do inquérito e os venderiam aos órgãos de imprensa, que
os publicam, sem nenhum pudor.
Dizem que no Ministério Público Federal é a
mesma coisa. É óbvio que não acredito nisso. Só pode ser mais uma das
tais fake news. Também não acredito que algum “repórter investigativo”,
na calada da noite, tenha tido acesso ao prédio da PF, se dirigido aos últimos andares
da instituição e, compulsando os autos, produzido a matéria. Seria preciso um
Tom Cruise para cumprir essa “missão impossível”.
Aliás, os próprios delegados federais afirmaram em
nota oficial que não favorecem, nem perseguem ninguém. Eu acredito piamente. Foi
Papai Noel quem me confirmou.
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