PROJETOS
MIRABOLANTES
(As maluquices que inundam o Brasil desde o
Império)
Wilson Ibiapina*


Essa
coisa de canalização atormenta os legisladores e administradores públicos desde
o começo do Brasil. Em 1670, o governo português decidiu canalizar a água do
rio carioca, descendo o morro do Corcovado até o centro do Rio de Janeiro. No
audacioso projeto foram usados canos de madeira. Em pouco tempo apodreceu tudo.

No
Ceará, um espirituoso deputado pediu ao governador do Estado que lhe doasse uns
canos furados que ele vira no pátio da Secretaria de Agricultura. O governador
imediatamente atendeu. Meses depois o secretário de Agricultura comunica que o
projeto de irrigação que seria inaugurado no interior teve que ser cancelado.
Os canos que seriam usados no projeto simplesmente desapareceram. O governador
manda chamar o deputado, achando que tinha sido enganado por ele:
– Você disse que os canos estavam furados.
– Sim, Governador. O Sr. já viu cano sem ser
furado?
O
Rio de Janeiro, em várias ocasiões, esteve sob o comando de desastrados
administradores. O historiador Milton Teixeira chegou a reunir 35 fatos que
mostram quão loucos foram alguns desses administradores do Rio. O jornalista
Mário de Moraes, que ficou famoso escrevendo reportagens nas páginas da revista
O Cruzeiro, conta que o historiador Milton Teixeira gastou dias fazendo pesquisas
no Museu Histórico do Exército e no Instituto Brasileiro do Patrimônio
Cultural. Ele queria reunir dados que comprovassem a veracidade de suas
histórias.

Em
reportagem escrita no jornal Terceiro Tempo, Mário de Moraes conta que o Brasil
entrou no século XVIII dominado pela violência que se alastrava pelas ruas do
Rio. O governador do Rio, Luiz Monteiro, desencadeou uma campanha contra
ladrões, criminosos e corruptos que infestavam a cidade. As cadeias ficaram
abarrotadas. Foi preciso alugar casas, que foram improvisadas como presídios. O
governador não contente, pegou a caneta e escreveu o seguinte bilhete ao rei de
Portugal: “Senhor, nesta terra todos roubam, menos eu”. O Rei, acreditando que
seu governador ficara louco, mandou prendê-lo, também.

A
lista de projetos inusitados não pára de crescer em pleno século XXI. E não
adianta transparência nas contas públicas governamentais. Os desmandos
acontecem desde que o Brasil foi descoberto. Sempre soubemos dos exageros, por
exemplo , da família imperial, que gastava uma fábula em dinheiro para manter
palácios e residências nos quatro cantos do Rio. E, como hoje, aumentava os
impostos, deixando indignados os brasileiros que moravam longe da corte, que já
não se conformavam com as notícias de favoritismo e corrupção.
Para
ajudar nos gastos da família real, Dom João vendia até títulos de nobreza. O
historiador Pedro Calmon escreveu que para ser Conde em Portugal eram precisos
500 anos. No Brasil, bastava 500 contos. Dom João VI, segundo o historiador
Patrick Wilcken conta no livro “Império à deriva”, criou 28 títulos de
marqueses, 8 de condes, 16 viscondes, 21 barões e mais de mil cavaleiros.
A
comunidade tem o direito de saber onde o dinheiro dos impostos é empregado e
pode até questionar qual a melhor maneira de sua utilização. Só não vamos nos
livrar é desses malucos criativos. Eles vão continuar angariando a simpatia dos
eleitores e estarão sempre preparando projetos que consideram geniais, sempre
“com a melhor das intenções”.
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