segunda-feira, 20 de novembro de 2017

CRÔNICA - Guimarães Rosa (WI)


Guimarães Rosa escreveu sobre o sertÃo que ele
não conheceu
Wilson Ibiapina*


O mais importante escritor mineiro, Guimarães Rosa morreu em 19 de novembro de 1967. Faz meio século. Ele ficou famoso usando a linguagem do matuto mineiro, descrevendo, em Sagarana, o bate-papo entre os bois Brabagato, Brilhante, Buscapé, Canindé, Capitão, Dansador, Namorado, Realejo e Rodapião.

Meu amigo Adriano Lafetá, conterrâneo de Guimarães, conta que na Gruta de Maquiné, no município mineiro de Cordisburgo, terra do grande escritor, essa formação fantasmagórica brota das rochas. O jornalista, ao visitar a região, fez foto, em fevereiro, lembrando-se dos bois do Rosa. Mas ficou em dúvida “Ou esta é só mais uma conversa pra boi dormir?”.

No rádio do carro ouvi na CBN uma reportagem sobre os 50 anos da morte de Rosa e fiquei surpreso quando o narrador informou que ele escreveu sobre os sertões sendo nunca ter pisado lá. E é sua filha, Vilma Guimarães Rosa, também escritora, que revela esse mistério da obra do pai que traz marcas claras de história de sua família.

Veja o depoimento da filha Vilma que a CBN colocou no ar: “Ele escreveu Grandes Sertão Veredas em Paris. Uma vez eu perguntei a ele o porquê daquilo e se ele conhecia o sertão. Ele respondeu que não conhecia, mas que ele escreveria sobre um ‘sertão metafísico’. Quem ajudou muito foi o pai dele, meu avô, que mandava a ele cartas lindas, detalhando o dia a dia das pessoas do sertão e da terra”.

Esse depoimento só enobrece a história desse importante membro da Academia Brasileira de Letras. Na mesma reportagem, o presidente da ABL, Domício Proença Filho, diz que os contos, novelas e poemas que o diplomata e médico Guimarães Rosa deixou só confere a ele uma das obras mais completas da nossa literatura. Alguns mistérios sobre Guimarães continuarão pra sempre no ar.



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