Guimarães Rosa
escreveu sobre o sertÃo que ele
não conheceu
Wilson Ibiapina*
O mais importante escritor mineiro, Guimarães
Rosa morreu em 19 de novembro de 1967. Faz meio século. Ele ficou famoso usando
a linguagem do matuto mineiro, descrevendo, em Sagarana, o bate-papo entre os
bois Brabagato, Brilhante, Buscapé, Canindé, Capitão, Dansador, Namorado,
Realejo e Rodapião.
Meu amigo Adriano Lafetá, conterrâneo de
Guimarães, conta que na Gruta de Maquiné, no município mineiro de Cordisburgo, terra do grande escritor, essa formação
fantasmagórica brota das rochas. O jornalista, ao visitar a região, fez foto,
em fevereiro, lembrando-se dos bois do Rosa. Mas ficou em dúvida “Ou esta é só
mais uma conversa pra boi dormir?”.
No rádio do carro ouvi na CBN uma reportagem
sobre os 50 anos da morte de Rosa e fiquei surpreso quando o narrador informou
que ele escreveu sobre os sertões sendo nunca ter pisado lá. E é sua filha,
Vilma Guimarães Rosa, também escritora, que revela esse mistério da obra do pai
que traz marcas claras de história de sua família.
Veja o depoimento da filha Vilma que a CBN
colocou no ar: “Ele escreveu Grandes
Sertão Veredas em Paris. Uma vez eu perguntei a ele o porquê daquilo e se ele
conhecia o sertão. Ele respondeu que não conhecia, mas que ele escreveria sobre
um ‘sertão metafísico’. Quem ajudou muito foi o pai dele, meu avô, que mandava
a ele cartas lindas, detalhando o dia a dia das pessoas do sertão e da terra”.
Esse depoimento só enobrece a história desse
importante membro da Academia Brasileira de Letras. Na mesma reportagem, o
presidente da ABL, Domício Proença Filho, diz que os contos, novelas e poemas
que o diplomata e médico Guimarães Rosa deixou só confere a ele uma das obras
mais completas da nossa literatura. Alguns mistérios sobre Guimarães
continuarão pra sempre no ar.
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