quinta-feira, 16 de novembro de 2017

ARTIGO - Radicais e Moderados (RMR)


RADICAIS E MODERADOS
Rui Martinho Rodrigues*



O mundo parece enveredar pela radicalização. Nacionalismo, separatismos, racismos e fundamentalismos estão associados ao processo de exaltação de ânimos na Europa, nos EUA e em toda parte.

As redes sociais, os fluxos migratórios, choque cultural e de civilizações, a indigestão de informações diluviais, crises, guerras ou iminência de guerras e terrorismo; ao lado de uma transparência que destruiu líderes, partidos e abalou doutrinas são, ao mesmo tempo, causa e efeito da intolerância crescente.

A expansão do interesse público ganhou ares de legitimidade, reforçando o controle da vida privada, com o Direito Civil sofrendo metamorfose em Direito Público. Só falta obrigar o cidadão a fazer dieta, caminhar e usar preservativo.

Profundas e súbitas transformações culturais, alcançando os maiores, causam violento choque entre os valores do povo e os pretensos novos gestores da moral, que presumindo-se “politicamente corretos” pretendem impor novas referências, tornando-as oficiais ou oficiosas, impondo leis ou exercendo enorme pressão social. Radicais ganham. Moderados perdem.

No Brasil a radicalização está em curso. A ilusão de que somos um povo conciliador desapareceu. É importante analisar ideias, conjunturas e estruturas, mas há momentos em que é preciso fulanizar, porque a ação social é conduzida por pessoas. Não há história sem sujeito.

Multiplicam-se os candidatos havidos como moderados. Luciano Huck, Geraldo Alkmin, João Dória, Marina Silva, Henrique Meirelles e tantos outros disputam o espaço assim considerado, fragmentando-o, reduzindo suas possibilidades de chegar ao segundo. Os extremos são favorecidos, tendo cada lado apenas um nome ou eventual substituto designado pelo líder da tendência, caso este não possa disputar.

O lulismo aposta no discurso da radicalização, apta a captar os votos ideológico, do corporativismo exaltado pela ameaça de perda de privilégio em face de reformas, das enraivecidas viúvas do desfrute sem ônus e da ilusão do Estado Papai Noel. Até um nacionalismo ingênuo que apoia internacionalistas se junta a este grupo.

 A outra ponta do espectro político aposta no híbrido de uma vassourada ao modo de Jânio da Silva Quadros, que venha varrer a corrupção, resultado de um cruzamento com a espada do adversário do Jânio, o marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott.


Cada lado com apenas um candidato: Bolsonaro e Lula, ou quem este venha a indicar, na hipótese de não poder concorrer. Cada um concentra todos os votos da respectiva tendência, fato que os fortalece. Ciro Gomes, com o seu estilo, não concorrerá com os moderados nem herdará os votos do Lulismo. Tampouco postula os votos atualmente enamorados por Bolsonaro.


As paixões são inimigas da lucidez. Passada a eleição, o presidencialismo de cooptação vai precisar de uma base no Congresso. Não se sabe qual será o Parlamento que emergirá das eleições. Espera-se uma grande renovação de nomes, mas não se sabe se de atitudes. A vassoura, com lâmina de espada, ou uma cópia do chavismo se entenderão com o Legislativo, ou continuaremos em crise? Só o tempo sabe a resposta. Todas as considerações só têm valor se mantidas inalteradas as outras coisas (ceteris paribus).


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