RADICAIS E MODERADOS
Rui Martinho Rodrigues*
O mundo parece enveredar pela radicalização.
Nacionalismo, separatismos, racismos e fundamentalismos estão associados ao
processo de exaltação de ânimos na Europa, nos EUA e em toda parte.
As redes sociais, os fluxos migratórios, choque
cultural e de civilizações, a indigestão de informações diluviais, crises,
guerras ou iminência de guerras e terrorismo; ao lado de uma transparência que
destruiu líderes, partidos e abalou doutrinas são, ao mesmo tempo, causa e
efeito da intolerância crescente.
A expansão do interesse público ganhou ares de
legitimidade, reforçando o controle da vida privada, com o Direito Civil
sofrendo metamorfose em Direito Público. Só falta obrigar o cidadão a fazer
dieta, caminhar e usar preservativo.
Profundas e súbitas transformações culturais,
alcançando os maiores, causam violento choque entre os valores do povo e os pretensos
novos gestores da moral, que presumindo-se “politicamente corretos” pretendem
impor novas referências, tornando-as oficiais ou oficiosas, impondo leis ou
exercendo enorme pressão social. Radicais ganham. Moderados perdem.
No Brasil a radicalização está em curso. A
ilusão de que somos um povo conciliador desapareceu. É importante analisar
ideias, conjunturas e estruturas, mas há momentos em que é preciso fulanizar,
porque a ação social é conduzida por pessoas. Não há história sem sujeito.
Multiplicam-se os candidatos havidos como moderados.
Luciano Huck, Geraldo Alkmin, João Dória, Marina Silva, Henrique Meirelles e
tantos outros disputam o espaço assim considerado, fragmentando-o, reduzindo suas
possibilidades de chegar ao segundo. Os extremos são favorecidos, tendo cada
lado apenas um nome ou eventual substituto designado pelo líder da tendência,
caso este não possa disputar.
O lulismo aposta no discurso da radicalização, apta a captar os votos ideológico, do corporativismo exaltado pela ameaça de
perda de privilégio em face de reformas, das enraivecidas viúvas do desfrute
sem ônus e da ilusão do Estado Papai Noel. Até um nacionalismo ingênuo que
apoia internacionalistas se junta a este grupo.
A outra ponta do espectro político aposta no
híbrido de uma vassourada ao modo de Jânio da Silva Quadros, que venha varrer a
corrupção, resultado de um cruzamento com a espada do adversário do Jânio, o
marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott.
Cada lado com apenas um
candidato: Bolsonaro e Lula, ou quem este venha a indicar, na hipótese de não
poder concorrer. Cada um concentra todos os votos da respectiva tendência, fato
que os fortalece. Ciro Gomes, com o seu estilo, não concorrerá com os moderados
nem herdará os votos do Lulismo. Tampouco postula os votos atualmente
enamorados por Bolsonaro.
As paixões são inimigas da lucidez. Passada a
eleição, o presidencialismo de cooptação vai precisar de uma base no Congresso.
Não se sabe qual será o Parlamento que emergirá das eleições. Espera-se uma
grande renovação de nomes, mas não se sabe se de atitudes. A vassoura, com
lâmina de espada, ou uma cópia do chavismo se entenderão com o Legislativo, ou
continuaremos em crise? Só o tempo sabe a resposta. Todas as considerações só
têm valor se mantidas inalteradas as outras coisas (ceteris paribus).
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