sexta-feira, 10 de novembro de 2017

ARTIGO - Mistério Náutico (HE)


MISTÉRIO NÁUTICO:
CADÊ O COMANDANTE?
Humberto Ellery*



Uma vez por mês, cumprindo o programa “Ideias em Debate”, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) traz para debater com um grupo de convidados, em seu auditório, pessoas da mais alta expressão na política, na economia, no jornalismo, etc. Uma bela iniciativa do Presidente Beto Studart.

Um dos melhores debates de que participei foi conduzido pelo comentarista de economia da Rede Globo, Carlos Alberto Sardenberg.

Por quase duas horas ele abordou o momento político atual, discorrendo, de maneira brilhante, sobre a surpreendente recuperação da economia do Brasil. Teceu também considerações elogiosas acerca das reformas aprovadas pelo Congresso Nacional, lamentando inclusive que a crise provocada pelas denúncias da Procuradoria Geral da República tenha, de certa maneira, travado a Reforma da Previdência, cuja aprovação defendeu com empenho. Classificou-a de inadiável.

Durante sua apresentação fiquei meio encafifado por com aspecto de suas colocações. Segundo suas palavras, o Ministro da Fazenda, o Presidente do Banco Central, a Diretora do Tesouro Nacional, o Presidente da Petrobras, a Presidente do BNDES, e outras figuras formidáveis estavam realizando um belíssimo trabalho, bem como o Congresso Nacional, aprovando reformas estruturantes da maior importância.

Ocorreu-me que as pessoas que ocupavam esses postos no governo anterior são também detentoras de currículos acadêmicos sólidos, invejáveis, com mestrados e doutorados. O Congresso Nacional, que impinchou a “Presidenta”, é o mesmo. O que ocorreu então para mudar de maneira tão drástica o cenário?

Como eu sou um velho marinheiro, criei o cenário naval em que o Brasil seria um enorme transatlântico que navegava num mar tempestuoso, fazendo água pelo casco, em meio a um denso nevoeiro, sem força nas máquinas que o levassem a um porto seguro.

Sua Comandanta Capitã insistia em navegar rumo à Venezuela, conforme se comentava à época. Então ocorreu o motim! Depois dos amotinados fazerem a Comandanta Capitã caminhar na prancha para o mar, o Imediato assumiu o comando, como manda a tradição naval.

O enorme transatlântico finalmente mudou a rota para um porto seguro, saindo daquele mar tempestuoso e nevoento; o pessoal do Controle de Avarias consertou os rombos no casco; o Chefe de Máquinas deu o comando de “Toda a Força Adiante”, o que fez o barco navegar para a frente, ainda lentamente, por ser grande e pesado.

Pergunta-se: Quem deu as ordens para a Equipe de Controle de Avarias reparar o casco? Como o Carlos Alberto Sardenberg não citou nenhuma vez o Imediato que foi alçado ao Comando, imagina-se um grande transatlântico navegando em uma rota segura, mas sem Comandante.

Perguntei ao empresário que estava  ao meu lado no auditório da FIEC o que ele tinha achado da Conferência. A resposta foi contundente: “Brilhante! Elogiou o Governo Temer, durante duas horas, sem pronunciar uma única vez o nome dele”.

Ao final, na fase de perguntas, o debatedor disse ao conferencista:

– Meu caro, eu tenho aqui umas trinta perguntas muito semelhantes que reuni numa só: É pura coincidência o fato de todos os comentaristas, repórteres e apresentadores da Rede Globo terem a mesma opinião negativa sobre o Presidente Temer, e todos, indistintamente, criticarem-no de forma constante e ferrenha, ou existe uma determinação nesse sentido por parte da alta direção da empresa?

A resposta, em tom solene, foi:

– Não! De maneira alguma. A empresa nos dá total liberdade de opinião, a única recomendação é que devemos combater, com todas as forças, a corrupção.

Resposta tão bisonha mereceu educados aplausos de alguns, sorrisos divertidos de outros,  e gargalhadas sonoras dos mais expansivos (eu inclusive).

Mas teve gente que acreditou...




COMENTÁRIO:

A Rede Globo é mesmo um mistério quanto ao que a sua linha editorial pretende nesse dramático momento. Juntar-se aos que querem afastar o Temer para vigar o impeachment da Dilma, mesmo ao preço de se ter um segundo trauma político e um “além de queda, coice” na economia nacional? Quer reeleger o Lula? Quer levar as Forças Armadas a perderem a paciência? Não sei. Ninguém sabe.

Parece pretender que o povo continue inerme, a  mercê de uma bandidagem cada vez mais bem armada, e polícias cada vez mais incompetentes para defender a cidadania.  Quer atacar a instituição da família, e que os meninos tenham aulas de sodomia para decidirem qual o gênero sexual que preferem. Quer defender que os museus de arte façam a apologia da pedofilia, em nome da liberdade de expressão.

Agora a TV Globo afastou o William Waack. Nenhum problema. Ela admite e demite quem bem quiser e entender. Mas acontece que fez um agressivo editorial contra ele, acusando-o de “racismo”, em razão de um vídeo apócrifo que apareceu na Interne em que William, em algum impreciso momento da vida, pronuncia a palavra “negro”, aparentemente em relação a alguém absolutamente incógnito que atrapalhava uma reportagem externa com a buzina do automóvel. Racismo? Onde?

Se eu fosse o repórter, pedia demissão do emprego e processava a emissora por evidente crime contra a sua honra pessoal. Primeiramente, por calúnia, que se configura quando alguém imputa a outrem prática de um crime, sem que possa fazer prova. Segundamente, por injúria, quando se adota uma conduta perversa, com potencial para abalar a autoestima alheia. Em terceiro lugar, difamação, tipicidade penal que dispensa explicação.

Ora, no ordenamento jurídico brasileiro há somente duas formas de racismo: a um, injúria de conotação étnica contra específica pessoa; a dois, conduta discriminatória prejudicial a determinado grupo racial. Ponto.  Notar e comentar que alguém seja negro, ou judeu, ou cigano, ou nissei – e até mesmo referir, de forma privada, que tem aversão a alguma etnia, pode ser “politicamente incorreto”, e até ocasionar uma demissão – porém, sem justa causa.

Ninguém está obrigado a gostar ou deixar de gostar de qualquer coisa, muito menos a dizer que gosta, tampouco proibido de dizer do que não gosta desde que não o faça na mídia ou em ato público, se isso puder ser interpretado como apologia a algum crime. E William Waack estava em off

Dizer o que se pensa ou sente é um direito pessoal que não prejudica ninguém, não faz vítimas, portanto não configura crime, e não pode justificar a execração pública promovida por uma emissora de TV. Crimes de opinião somente existem nas ditaduras mais odientas – e na correção das provas do ENEM da “Era Lula”.

Reginaldo Vasconcelos  
     



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