AVALANCHE DE FACULDADES
Régis Kennedy Gondim Cruz*
Educar mal um homem é dissipar
capitais; é preparar dores e perdas à sociedade. (François-Marie Arouet, dito VOLTAIRE. Paris, 21.11.1694-30.05.1778).
Vez por outra, neste periódico, deparo seus redatores
– articulistas e cronistas – aventarem o tema do Ensino Superior no País, com a
penetrante argúcia que lhes soa característica, em razão,
evidentemente, de sua boa formação escolar – média e universitária – conforme,
nalgumas ocasiões, já tive a chance de aqui mesmo comentar.
Leio, por exemplo, Faculdades ab hoc et ab hac (09.02.2015), de assinatura do Prof.
Vianney Mesquita, também na folha eletrônica da Academia Cearense de Literatura
e Jornalismo, onde ele, com sobrados argumentos, levanta o fato, ao exprimir,
logo de saída:
Hoje, em todo quarteirão, nas quatro esquinas e no meio, dos dois lados,
há uma faculdade, às vezes até somente com duas salas de aula, onde se
ministram sem competência as mais extravagantes graduações, ocorrência geral em
todo o País, concorrendo para conceder canudos a pessoas que, às vezes, nem ler
conseguem, quanto mais entender o que a mensagem intenta conotar.
Salvo as hipérboles do começo do texto, sem dúvida
expressas para conceder vitalidade à exposição, vejo na clareza de sua crônica
não lhe falecer nenhuma razão ao assacar essa crítica às autoridades
educacionais do Brasil, haja vista a gravidade que o problema assumiu nos
últimos anos, com escolas superiores a torto e a direito, a maioria sem a ínfima
condição de existência, quer de estrutura física, perfil pedagógico de seus
professores e, importante, prontidão intelectiva dos seus estudantes, ambos os
grupos, em tese, absolutamente despreparados para desenvolver a vida acadêmica
com um mínimo de proveito.
De tal maneira, assisto, com perplexidade, a sequência infinda de instituições de “ensino” “superior” inauguradas nos últimos anos, notadamente nos dois governos do Presidente Luís Inácio Lula da Silva. A cada nova fundação, no começo da interminável série, eu experimentava um misto de alegria e preocupação. Em pouquíssimo tempo, entretanto, esta mescla virou somente desassossego, em virtude da progressão geométrica desses institutos de aparência, onde se adentra sem exame vestibular nem qualquer mensuração de conhecimento, sendo bastantes os certificados propedêuticos, em sua maioria, também, procedentes de escolas inidôneas.
Sou licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade
Federal do Ceará, no tempo em que as questões do concurso vago – o exame
vestibular – eram somatórias e a concorrência quase desumana. Eram necessários
horas, dias, meses a fio queimando pestanas para, por vezes, apenas figurar na
lista de classificáveis.
Uma instituição universitária (e isto é mais do que
cediço) pressupõe excelência, demanda um ensino padrão-ouro, o qual, pela Lei
5540/1968, não deve ser dissociado da extensão e da pesquisa, e tal não ocorre
nem de longe na maioria das escolas instituídas.
Não quero parecer, absolutamente, contra o progresso,
mas há de se ter bom senso e redobrada responsabilidade, para que sejam
preparados profissionais realmente qualificados, a fim de erradicar de vez o
fantasma do analfabetismo (também universitário) que desde 22 de abril de 1500 assola
nossa Pátria Mãe Gentil...
*Régis Kennedy Gondim Cruz
Docente das redes pública estadual do Ceará e
municipal de Fortaleza
Nenhum comentário:
Postar um comentário