PALAVRAS SÃO NAVALHAS
Reginaldo Vasconcelos*

Interessante
notar que esse antigo vezo brasileiro de desprezar os velhos tinha origem nas
nossas raízes europeias, que mesmo na sua tradição oral, observada nas fábulas
infantis, as pessoas más, os feiticeiros, as bruxas, as madrastas, o patrão
perverso, o avarento, são sempre representados como seres macróbios e
caquéticos.

Todavia,
parece ter prevalecido entre nós a atitude discriminatória da Ibéria. Inclusive
no nosso meio rural, em que os velhos eram tratados como trastes, já que não
podiam mais trabalhar e nem tinham vigor físico para agir com energia. Seu
destino era o “fundo das redes”, como se dizia no Nordeste, com grande carga de
desprezo.


Mas
a modernidade generalizou por todo o Planeta o conceito americano especial dos veneráveis
seniors sitizens, criando no Brasil a
reverente expressão “Terceira Idade”, e ainda a mais carinhosa forma “Melhor
Idade”, tudo culminando com a promulgação do chamado Estatuto do Idoso,
regulamentando artigos da Constituição Cidadã, norma jurídica protetiva à
classe dos sexagenários em diante.
A
partir de então as pessoas de mais idade passaram a ter jus aos mais amplos
privilégios, no sentido de que se lhes garantam cuidados e regalias, que vão desde
vagas especiais de estacionamento, precedência nas filas, até maior celeridade
em suas ações judiciais. E, o mais importante, as instituições devem prestar
essas atenções singulares aos idosos sem lhes causar constrangimentos, sem lhes
demonstrar má-vontade, sem dar foros de favor indevido a esses direitos, que
são legítimos e legais.


A
propósito, lembro bem que no início da vigência do Estatuto do Idoso os
gerentes do extinto Banco do Estado do Ceará designavam o funcionário mais
habilidoso de cada agência para avisar aos clientes de aparência madura que eles
tinham direito a uma fila especial. Se isso não fosse feito com muito tato,
alguns destes regiam mal, imaginando lhe estivessem considerando fisicamente inferiores.
Enfim,
tendo em vista que uma academia literária é majoritariamente composta por
juveníssimos anciãos, todos especialistas em palavras, e que uma academia de
jornalistas prima pela melhor difusão de informações, nos solidarizamos com o
denunciante, e nos comprometemos a provocar a nossa Decúria Diretiva para que expeça
ofício à empresa em questão, apelando para que substitua, nas senhas não
preferenciais, a palavra “normal” pelo seu sinônimo “comum”.
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