domingo, 31 de janeiro de 2016

CRITICA LITERÁRIA - Sobre Rimas & Rimas (VA)

SOBRE 
RIMAS & RIMAS
Vicente Alencar*


(Abas do Livro de Pereira de Albuquerque "Rimas & Rimas – Caminhos do Ceará", publicado em Fortaleza pela Editora Expressão Gráfica)


Consciente, equilibrado. Exímio observador e calmo por natureza, o poeta Pereira de Albuquerque encontra em todos os detalhes da vida sobejos motivos para, deles, extrair poesia. Nada lhe escapa à observação: o amor, a crítica social, a felicidade, a educação o (des)governo, a religião, a paz, o futebol, os falsos profetas, e tudo mais.

Afirmar essas verdades é para ele apenas a maneira que escolheu para nos brindar com as suas redondilhas – os notáveis heptassílabos onde dá largas à sua aguçada percepção do mundo, enxergando, inclusive, o que outros não veem.

Aliás, essa qualidade dos poetas de enxergar além do seu tempo (tão duramente criticada pelos desafetos da poesia) é que dá lugar, muitas vezes, a frases como esta: “...afinal de contas é um poeta, deixem-no para lá!” Pois justamente esses poetas são os observadores críticos do mundo, que gira desgovernado, mercê, é claro, dos “inteligentes” que sabem de tudo e teimam em dirigi-lo, preterindo os mais capazes.

Na confecção desse "Rimas & Rimas", Pereira de Albuquerque mostra respeito pelos seus leitores ao burilar vezes e vezes sua obra, tornando-a agradável e de fácil compreensão – o que vem confirmar a seriedade do seu fazer poético.

Tem razão Dimas Macedo, poeta e crítico literário, quando o reputa um dos nossos melhores escritores. A verdade é que me deliciei com a leitura dos originais, onde o troveiro, vindo de Ipaumirim para a conquista da Capital, insere esta quadra no poema “Quatro Estações”:

         Crianças soltando arraias,
         risos... luz em profusão...
         garotas lotando as praias,
         calor intenso!... é verão!

E esta trova sob o tema felicidade, já que, a despeito de tudo, todos os poetas são felizes, embora às vezes não pareçam:

          Felicidade, és a glória
          passageira e merecida
          que estruge  a cada vitória
          que conquistamos na vida!

Mas o garoto que veio do interior não é só alegria. De repente, num rasgo de tristeza, ei-lo a cantar na saudade do Icó, mostrando que nunca perdeu sua identidade com o sertão cearense:

          Se é noite e a Lua vem vindo,
          quando à varanda estou só,
          fico a cismar, repetindo:
          que terra boa é o Icó!

Para concluir, afirmamos que a escalada do poeta neste novo livro repete o sucesso de lançamentos anteriores, como, por exemplo, “Versos de Ontem e de Hoje”, “Outono” e “O Eleitor”. “Rimas & Rimas”, portanto, não precisa de comentários nem de apresentação, pois mostra, por si só, um autor maduro e competente em sua missão.



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