sábado, 2 de janeiro de 2016

ARTIGO - Assim, Assim (RV)

ASSIM, ASSIM, ASSIM
Reginaldo Vasconcelos*

Convivendo com a juventude de Copacabana no início dos anos 70 assisti pessoalmente ao advento da gíria “dê repente”, que anos depois apareceria como um terrível vício das comunicações orais em todo o Território Nacional, cacoete do qual já nos livramos.

Na sua gênese, a expressão idiomática carioca se aplicava apenas a responder a alguma coisa de forma imprecisa, correspondendo a aplicar um “talvez”, de maneira modernosa.

– Vai à festa amanhã? – alguém perguntava.

– Dê repente... – o outro respondia, aventando com uma possibilidade.

Mas com o tempo o “dê repente” penetrou em todas as frases – dê repente isso, dê repente aquilo – inclusive tomando valor afirmativo, e não mais somente condicional e hipotético.

– Vai à festa amanhã? – alguém perguntava então.

– Dê repente! – o outro respondia, agora em confirmação cifrada, como quem dizia antigamente: “Só se for agora!”.

Depois do “dê repente” veio a praga do “tipo assim”, que neste caso eu não sei de onde saiu. O “tipo assim” demorou pouco no repertório popular, mas se mantém fragmentado – “tipo” e “assim” – com seus usos específicos.

“Tipo”, na linguagem dos jovens, funciona como uma fita gomada para emendar suas frases toscas. Não tem acepção específica. “Eu vou viajar, tipo três horas”  aqui a significar um número aproximado.  Mas pode também ser usada de força solta, como no exemplo a seguir, retirado da Internet: “Daí, a mãe dele brigou com ele, e tipo, ela gritou tão alto que eu me assustei”.

Mas a praga do “assim” é bem pior, mais generalizada, uma muleta verbal intolerável de que lançam mão os falantes de todas as idades e de todos os níveis culturais.

“Assim”, simplesmente, pespegado no meio das frases, sem qualquer necessidade; o “então” tornado “então assim...”; e os porquês, por seu turno, “porque, assim,”. Eu comprei uma roupa, e comprei maquiagem... assim – diz uma moça entrevistada em uma externa da TV. Mais antipático ainda no belo sotaque carioca, em que a pronúncia da palavra é “ashim”. 



COMENTÁRIO:

Engana-se, dr. Reginaldo, ao dizer que o "de repente" se acabou. Ainda não! Os mais insuportáveis de todos esses cacoetes, hoje, em todos os quadrantes de fala, são " a partir" e o uso "obrigatório" de "presente", "presença" e "impacto". Note isso. Já quase deixo de revisar textos acadêmicos por não mais suportar tanta bobice. E as pessoas pensam que estão "aggiornadas", com usar essas besteiras, as quais vêm de São Paulo e do Rio de Janeiro. Quosque tandem?

Vianney Mesquita

2 comentários:

  1. Engana-se, dr. Reginaldo, ao dizer que o "de repente" se acabou. Ainda não! Os mais insuportáveis de todos esses cacoetes, hoje, em todos os quadrantes de fala, são " a partir" e o uso "obrigatório" de "presente", "presença" e "impacto". Note isso. Já quase deixo de revisar textos acadêmicos por não mais suportar tanta bobice. E ad pessoas pensam que estão "aggiornadas", com usar essas besteiras, as quais vêm de São Paulo e do Rio de Janeiro. Quosque tandem?

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  2. Engana-se, dr. Reginaldo, ao dizer que o "de repente" se acabou. Ainda não! Os mais insuportáveis de todos esses cacoetes, hoje, em todos os quadrantes de fala, são " a partir" e o uso "obrigatório" de "presente", "presença" e "impacto". Note isso. Já quase deixo de revisar textos acadêmicos por não mais suportar tanta bobice. E ad pessoas pensam que estão "aggiornadas", com usar essas besteiras, as quais vêm de São Paulo e do Rio de Janeiro. Quosque tandem?

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