AS IDEIAS E O IDEAL
Reginaldo Vasconcelos*
O jornalista Arnaldo Santos, em seu
primoroso artigo “Um Vácuo de Ideias”, relata as suas perplexidades de quando
ainda tinha as ilusões do repórter moço e idealista, diante da
ineficiência administrativa dos Governos, observando que a polarização eleitoral
não propiciava a produção de agendas sociais resolutivas.
O jovem Arnaldo vinha do povo, e os simples
da população ainda acreditam que a classe política vise realmente ao bem comum, e
que seus próceres tenham de fato espírito público, quando tudo o que eles
buscam é o poder pelo poder, ainda quando, para obter votos, seja necessário perder
tempo com a pobreza.
Às Primeiras-Damas é dado o regalo de
evitar o ócio majestático presidindo a instituição beneficente oficial, cada
uma elegendo para receber a sua atenção uma causa social específica – uma
determinada favela, um dado hospital público, um tal foco de miséria do Estado –
já que não se tem o condão de corrigir as desigualdades.
Enquanto isso, seus maridos dignitários têm
que estar focados na politicagem, loteando cargos para saldar dívidas de
campanha, rebatendo ataques, garantindo apoios para o próximo certame
eleitoral. Cuidar dos pobres não é atividade fim, mas é apenas como cevar os
camundongos que alimentam as hipnóticas serpentes da concupiscência e da
vaidade.
Augura o autor do artigo a quimérica
possibilidade de que situação e oposição se possam unir em nome das grandes
causas sociais, esta última oferecendo sugestões, em vez de apenas apontar os
defeitos do grupo político no poder, embora ciente de que as mesmas
dificuldades e os mesmos percalços tiveram, teriam e terão os seus próprios
quadros, uma vez encastelados nos mandatos.
Considera Arnaldo que a política não é
feita de pessoas virtuosas, deixado ele de notar que é a própria mecânica da
política eleitoral presidencialista que não tem base na ética – entendida a
ética como “a disposição pessoal para firmar e cumprir compromissos”.
As alianças, os pactos, as promessas, os
conceitos de fidelidade e lealdade, tudo isso na política fica adstrito aos
interesses de ocasião, conforme se comportem o mercado de influências, o
comércio de prestígio, a oferta de favores, o capital financeiro e eleitoral
que cada um capitalize no momento.
Por fim, Arnaldo Santos lança um repto ao
atual Governador do Estado, Camilo Santana, no sentido de que convoque todas as
forças intelectuais, políticas e econômicas – a academia, a imprensa, a
empresa, a sociedade civil organizada – enfim, todos os pró-homens da
comunidade alencarina, para que forneçam ideias que solucionem os maiores
problemas do Estado – cita ele a seca e a rede de saúde como os principais –
esquecendo a segurança pública, que é outro nó górdio da Administração
Estadual.
Camilo Santana é um exemplo de jovem político
que exala virtude e probidade, que inspira serenidade e confiança, não obstante
sua origem e sua base. É como uma flor que nasce do lodo, traindo as mofadas
tradições ideológicas belicosas e arrogantes dos seus mentores, e dissentindo
da incompetência administrativa do Governo Federal de que é aliado e do mar de lama moral em que se afoga o
partido a que pertence.
Na segurança pública Camilo tem tido
sucesso, não por ideias novas que tenha concebido e aplicado, mas porque manteve à frente da Polícia Civil heróis abnegados, servidores de altíssima qualidade, profissionais valorosos oriundos do governo
anterior, de modo que conseguiu controlar os índices de criminalidade, não
obstante as agudas dificuldades estruturais que fazem do Ceará um dos Estados mais
violentos do País, o qual, por limitações conjunturais e judiciárias, já é violentíssimo como um todo.
Mas, de fato, Camilo precisa buscar ideias
mais proativas. Por exemplo, em louvável exercício de modéstia resolveu exibir
nas repartições do Estado fotografias de pessoas do povo, em vez do retrato
oficial do Governador, como tradicionalmente se fazia. Uma iniciativa
simpática, cheia de ousadia, porém equivocada – e como se diz popularmente, o
caminho do inferno é pavimentado pelas boas intenções.
Isso porque, eleito para defender os
interesses coletivos no Executivo Estadual, não lhe fica bem esconder-se atrás
do povo, em vez de lhe “dar a cara à tapa”.
Há, inclusive, implicações jurídicas no uso
da imagem de cidadãos comuns, sem mandato e sem delegação para representar a
sociedade. Nos eventuais fracassos do Governo, no caso de envolvimento de seus
componentes em algum escândalo financeiro, na hipótese de erronias em políticas
públicas, a incolumidade moral dessas pessoas, indevidamente expostas, estaria
gravemente ameaçada.
COMENTÁRIO:
O artigo as "Ideias e o
Ideal", do confrade Reginaldo Vasconcelos, referindo ao meu despretensioso
texto "Um Vácuo de Ideias", além de ser uma bem elaborada releitura e
reflexão interpretativa do meu pensamento, revela igualmente uma lúcida é bem
intencionada visão crítica da realidade que vivenciamos.
Como advogado experimentado e
sensível, treinado para o exercício do bom direito, aonde busca a justiça para
reparação dos danos sofridos por aqueles abandonados pelo Estado, que nega o
mínimo aos seus cidadãos, de igual modo vem o autor se somar ao meu
inconformismo, quando me nego a aceitar a falsa ideia de que a resolução dos
graves e múltiplos problemas da sociedade seja responsabilidade exclusiva do
governo.
O texto, com o qual o autor nos
brinda, mais do que revelar a sua indignação cívica, valor que deve balizar os
fundamentos do bom jornalista, que também o é, (como nos ensina, Nietzsche),
explicita a sua determinação de colaborar com a construção de uma sociedade e
um Estado mais igualitário.
Arnaldo Santos
Jornalista e Sociólogo
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