NADA DE NOVO NO FRONT
Humberto Ellery*
O
escritor alemão Erich Maria Remarque, no seu romance “Nada de Novo no Front”,
ambientado na 1ª Guerra Mundial, erigiu um monumento à Paz, descrevendo de
forma direta e crua as atrocidades a que a violência e a estupidez podem levar.
Mais
impressionante, contudo, é a descrição da apatia das populações civis, em plena
guerra, que se quedam inermes e impotentes face àquela desagregação de valores
contra a qual não há como lutar.
A passiva aceitação do inaceitável! Talvez, fenômeno semelhante esteja se apossando do nosso povo frente aos descalabros de corrupção, roubo, mentiras e fraudes diariamente disputando espaço nos jornais e noticiários de TV.
Nos
Três Poderes, que deveriam, pelo menos em tese, ser independentes e harmônicos,
o cenário é triste. No Poder Executivo, a Presidente resolveu “aperfeiçoar” a
Lei AntiCorrupção, e simplesmente apagou o prefixo Anti (MP 703/2015).
No
Poder Judiciário, um Ministro, com a maior desfaçatez, fez uma leitura
deliberadamente truncada do Regimento Interno da Câmara dos Deputados,
interferindo em questões interna corporis do Poder Legislativo (no que
foi alegremente seguido por outros sete Guardiões da Constituição), criando
novas leis sem mandato legal para tanto. Absolutamente inconstitucional!
(CLIQUE SOBRE A IMAGEM)
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No
Poder Legislativo, o mais vulnerável e impotente dos três poderes, justamente o
que nos representa (?), nós assistimos a um senador da República, Líder do
partido do governo no Senado Federal, ser preso em flagrante delito (fora o
resto).
Enfim, a dimensão dos escandalos, tanto em seus astronômicos valores financeiros, como em sua torpeza moral, e na frequência de aparições frenéticas e estrondosas, nos lembra um grande espetáculo de fogos de artifício. Os escândalos explodem, enchem a paisagem com seu brilho efêmero, e em seguida se apagam por completo, enquanto, indolentemente, aguardamos o próximo estouro. É... não há nada de novo no Front...
NOTA DO EDITOR:
O autor alude, com muita propriedade, à apatia
política que se abateu sobre os brasileiros, ao fazer essa analogia com a obra
de Remarch (All Quiet on the Western Front), cujo título em português,
melhor que o original, tornou-se entre nós uma valiosa expressão idiomática.
De fato, com a revelação sequencial de escândalos
financeiros de altíssima monta, o cidadão parece que ficou empedernido, apático,
apoplético, pois o mais recente fato a motivar o impedimento constitucional do
Presidente da República envolvia a aquisição de um veículo popular para Sua
Excelência, utilizando verba pública.
Com mais um pouco os noticiários da mídia nacional
cansarão e nem mais falarão nos crimes em geral, de tão banalizados que eles
estão, incorporados à rotina do País como se fossem coisa normal, sem potencial
para espantar e atrair o leitorado e a audiência.
A propósito, a ACLJ promoveu um Fórum de Debates
para especular as causas das manifestações de rua ocorridas em junho de 2013, e
não chegou a nenhuma conclusão, porque de fato, sabe-se agora, elas
representavam apenas a eclosão de um fenômeno novo, propiciado pelas mídias
sociais, que mobilizou a juventude por uma nonada – os centavos a mais no preço
do transporte coletivo.
Esse fenômeno se repete agora, quando rebeldes sem
causa relevante se combinam por meio eletrônico e investem contra o seu tédio
pessoal bloqueando ruas, queimando lixo, fazendo quebra-quebra, apenas para
exercitar os humores e fazer transbordar a sua energia pueril.
Novamente, e com mais veras agora, porque neste
momento o país se desmancha em lama diante dos olhos do mundo, a mocidade faz
protestos por causas bizantinas, enquanto o estrato mais esclarecido da
cidadania fica impassível, com “o moral abatido”, como se diz na linguagem
bélica da tropa que não acredita mais nos seus comandantes, no seu ideal, na
sua vitória.
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