UM VÁCUO DE IDEIAS
Arnaldo Santos*
As ideias são haveres que não
rendem juros nas mãos do talento. (ANTOINE DE RIVAROL,
escritor francês. YBagnols-sur-Cèze,
26.06.1753; VBerlim,
11.04.1801).
Em um esforço de compreensão
das motivações, paixões e todos os interesses que gravitam à órbita dos
governos, como jornalista ainda jejuno, em minhas primeiras incursões pela
política, cheguei a internalizar reflexões inerentes às iniciações de um foca, repórter novo, desprovido de experiência.
Dentre outras indagações que
a mim dirigia, por exemplo, estavam: i) quando as oposições se negavam a
colaborar com suas ideias para solução dos problemas da sociedade, como somar
esforços e buscar recursos para se estabelecer uma infraestrutura de transporte
público de qualidade? ii) De que modo debater a implantação de um amplo sistema
de saneamento para o Estado? iii) Qual a maneira mais eficiente para se tirar o
lixo e a lama da porta do cidadão; buscar os meios para melhorar os salários
dos servidores; viabilizar um bom sistema de ensino para os filhos dos
trabalhadores e fazer funcionar a rede de hospitais públicos?
Nesses casos, aqueles que
trabalhavam na oposição ao governo não o faziam apenas pelo mesquinho
sentimento de que, em assim agindo, fortaleceriam os mandarins do momento.
Assim reflexionava, quando ainda verde no meu ofício.
Hoje, mais experiente e
também racionalmente postado na consciência de que a virtù não está na política, pois não é exercida por homens
virtuosos, e após um longo tempo de observação de como atuam as oposições, no
plano estadual e nacional, a minha percepção mudou.
Atualmente, noto é que, em
ultrapasse à atrofia ou total ausência de ideias, elas padecem ainda da
incapacidade de compreensão do significado da política, na perspectiva de se
constituir o bem comum.
O Governo do Ceará, por
exemplo, já consumiu seu primeiro ano de administração, nos legando uma
sensação de vazio. Desta sorte, a avaliação feita pelas oposições não passou do
diagnóstico. Não se leu, nem se ouviu, uma proposta, por exemplo, para uma ação
mais objetiva sobre que plano o Governador tem para encaminhar e debater,
diretamente com a sociedade, e com os vários setores da economia, os dois mais
graves problemas do Estado, configurados na seca e na crise na rede estadual de
saúde. Os mesmos que mal e parcamente fazem
a crítica superficial, se omitem de liderar uma discussão mais substanciosa com
a sociedade, na busca de soluções para os problemas que atingem a todos, em
maior ou menor grau.
Percebem o vácuo de ideias? A
Assembleia Legislativa, que deveria ter a iniciativa, também se cala. E, então,
reunidos em meia dúzia, os deputados fazem um comentário desprovido de qualquer
conteúdo, cujo foco repousa nas eleições municipais.
Ante, pois, o gosto amargo da
inércia e da inapetência para o debate dos graves problemas que temos de
resolver no curto prazo, ouso sugerir ao governador Camilo Santana que avoque,
urgentemente, a liderança de uma discussão mais ampla com a sociedade civil a
respeito dos graves e múltiplos problemas da nossa Unidade Federada, com os
mais diversos setores de sua representação.
Insinuo, também, implantar um
“conceito” que balize as ações do governo sob sua batuta, já no seu segundo ano
– e aqui não me refiro a um entendimento de marketing,
e sim a uma filosofia político-administrativa, que explicite em geral para o
Estado, e em todas as áreas de atuação, para onde o seu Governo conduzirá o
Ceará, como o que será feito, de que forma e quanto vai custar.
Tudo isso vai muito além do
simples diálogo. Este tem a sua importância, mas é apenas o meio pelo qual se
encaminharão soluções propostas para os problemas. A indagação, pois, é: onde
estão os planos e os programas? E, subsidiariamente, que Estado queremos e
podemos constituir nos próximos três anos de governo? Transpondo as ações de
curto prazo, quem está pensando e quais os vetores estão sendo definidos para o
Ceará nas próximas duas décadas?
A propósito, a história nos
indica o fato de ser em momentos de instabilidade, conforme agora vivenciado,
que os líderes se revelam e estabelecem o diferente.
*Matéria publicada no jornal Diário do Nordeste em 10.01.2015
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