MUITO
OBRIGADO, NEYMAR
Humberto
Ellery*
Recebi um vídeo de um amigo que mostra o
comentarista esportivo Milton Neves proferindo uma ácida crítica ao Neymar. De
uma maneira absurdamente agressiva o comentarista se dirige ao craque com
palavras duras, grosseiras, para demonstrar sua insatisfação com o fato do
Neymar cair muito em campo sempre que é atingido pelos adversários.
Não eram críticas à qualidade do jogo
desempenhado pelo jovem atleta, mas ao fato de ser um “cai-cai”. Comentários à
margem afirmavam que eram palavras que grande parte dos brasileiros gostariam
de dirigir ao Neymar, irritados com suas quedas. Se é inveja ou despeito, não
sei, mas lembrei uma frase do Tom Jobim, que afirmava: “No Brasil, o sucesso é
uma ofensa pessoal”.
Muito obrigado pela alegria que sinto ao
assistir ao maravilhoso ballet que você desfila em campo, com a bola
submissa aos seus pés, um ballet leve, solto, de uma beleza plástica que
mereceria um fundo musical de Tchaikowski.
Muito obrigado pelo toque sutil levando a bola
para o fundo das redes adversárias.
Muito obrigado pelos dribles rápidos,
desconcertantes, imprevisíveis, que deixam os adversários com a bunda no chão.
Muito obrigado pelo meu grito de gol, que de
tão forte e emocionado assustou minha neta, que caiu em prantos. Quando ela
crescer vou mostrar-lhe o vídeo do gol para que ela entenda e me perdoe. Tenho
certeza de que ela vai desculpar-me e repetir comigo: Muito obrigado, Neymar.
Muito obrigado por cair no chão sempre que é
agredido pelos brutamontes do futebol, quando a vontade é levantar e reagir
furiosamente contra os agressores.
Muito obrigado por não perder a cabeça, como
fez o grande Zidane, literalmente, atingindo com a cabeça o peito do Materazzi.
Perdeu a cabeça, a compostura e o respeito por tão estúpida reação, vinda de um
craque do seu porte.
Sempre que um brutamontes chegar batendo,
caia, grite, estrebuche, mesmo que os juízes e torcedores não acreditem que
doeu – tanto faz, o importante é irritá-los. Isso é catimba, é melhor que
xingar a mãe, como o Materazzi fez com o Zidane, e ganhou aquela cabeçada.
Quando os adversários chegarem aos coices, não
reaja aos coices, pois futebol é jogo de homens, coices são esporte de equinos.
A força física é a nobreza dos animais de carga. Futebol é arte, futebol é
paixão, futebol é leveza, animais não sabem o que é isso.
Só um pequeno reparo, Neymar, não faça sinais
para a torcida adversária calar a boca, não condiz com os grandes vencedores
tripudiar sobre os vencidos. Apenas vença, e comemore com a SUA torcida, que é
muito mais elegante.
E, antes que eu esqueça: Obrigado, Muito
Obrigado, Neymar!
COMENTÁRIOS
Eu também andava aborrecido com as críticas
dirigidas ao craque Neymar, que têm se multiplicado nas redes sociais. Não
sabia que os comentaristas das grandes empresas de comunicação faziam o mesmo,
porque não acompanho futebol.
Meu desinteresse pelo futebol é tanto que até
os jogos da nossa seleção, mesmo durante a copa, eu acompanho enquanto faço
minhas leituras, tirando o olho das páginas que estou lendo, quando o locutor
começa a anunciar uma jogada perigosa.
Foi assim que vi um pouco do bailado que Ellery
descreveu tão bem, feito pelo “cai-cai”. Eu não saberia dar resposta aos
críticos com a verve e a beleza dos textos que ele produz, mas pensava
exatamente segundo a linha de raciocínio que ele expressou com a maestria de
sempre.
É a minha vez de dizer: obrigado Ellery, pelo bailado verbal, que certamente expressa o sentimento de muitos brasileiros, fazendo-o com tanta beleza e graça.
É a minha vez de dizer: obrigado Ellery, pelo bailado verbal, que certamente expressa o sentimento de muitos brasileiros, fazendo-o com tanta beleza e graça.
Rui Martinho
Rodrigues
Em relação ao futebol, não sou ilustrado na matéria. Joguei peladas na infância, nas largas calçadas da Av. Dom Manuel, e nas areias da antiga Praia dos Diários, mas sem grande devoção.
Ao estádio devo ter ido umas duas vezes tão-somente, em ambos os casos induzido por alguém. Mas me dediquei a outros esportes, que embora não se pratiquem com bola, têm fundamentos atléticos semelhantes.
Para mim, além da natural lepidez do corpo enxuto e da grande habilidade com a pelota, dotes que facilitam o malabarismo dos dribles, a grande virtude do Neymar, como jogador, é psicológica.
Mas o recente trauma no tornozelo e o longo tratamento parece terem aberto uma janela momentânea na sua autoconfiança. Ele perdeu os “poderes", acionava a tecla mágica e não lhe vinha o slow motion da jogada. Isso o fez render menos nos primeiros jogos da Copa, e chorar ao final de uma partida.
Porém, normalmente, Neymar consegue se manter sereno, imune à pressão da torcida e ao peso da camisa. E, principalmente, ele se mostra intimorato em relação à zaga mais ameaçadora e vigorosa – como, passado o transe, ele voltou a demonstrar.
O magrelo é positivamente irresponsável e saudavelmente moleque. Não se aperreia, não se avexa, não se afoba – para quem prefira a linguagem carioca. Porta-se durante o jogo com a mesma despretensão com que brinca com os colegas nos treinos, e com o filho, em sua casa.
Correm contra ele dois ou três zagueiros gigantes, nervosos, siscando, sapateando, e o Neymar se mantém frio, não perde a fleugma, entra em modo de câmara-lenta mental, para enxergar pernas abertas por onde fazer passar a bola, ou para fintar que vai para um lado, e ir para o outro.
Ele não tem a velocidade dos grandes, nem a potência dos fortes, mas tem a malícia e a agilidades dos espertos. E, naturalmente muito caçado em campo, ele precisa “valorizar” as agressões sofridas, para chamar a atenção da arbitragem.
Acontece que ele ficou meio viciado em fazer cena, em tempos de vigilância eletrônica, o que termina por fazer darem na vista os exageros. E isso tem o efeito negativo registrado na célebre fábula “Pedro e o Lobo”.
Na fábula, o pequeno pastor vivia pedindo socorro falsamente, para fazer gozação com os que acorriam em seu auxílio – até que um dia um lobo o atacou de fato, e ele morreu, porque ninguém acreditou nos seus apelos.
Talvez por isso o árbitro não tenha levando em conta o efeito dramático que ele deu ao pisão maldoso com que Miguel Layún o atingiu. De todo modo, concordo que essa sofrida Nação lhe deva agradecer as alegrias.
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Em relação ao futebol, não sou ilustrado na matéria. Joguei peladas na infância, nas largas calçadas da Av. Dom Manuel, e nas areias da antiga Praia dos Diários, mas sem grande devoção.
Ao estádio devo ter ido umas duas vezes tão-somente, em ambos os casos induzido por alguém. Mas me dediquei a outros esportes, que embora não se pratiquem com bola, têm fundamentos atléticos semelhantes.
Para mim, além da natural lepidez do corpo enxuto e da grande habilidade com a pelota, dotes que facilitam o malabarismo dos dribles, a grande virtude do Neymar, como jogador, é psicológica.
Mas o recente trauma no tornozelo e o longo tratamento parece terem aberto uma janela momentânea na sua autoconfiança. Ele perdeu os “poderes", acionava a tecla mágica e não lhe vinha o slow motion da jogada. Isso o fez render menos nos primeiros jogos da Copa, e chorar ao final de uma partida.
Porém, normalmente, Neymar consegue se manter sereno, imune à pressão da torcida e ao peso da camisa. E, principalmente, ele se mostra intimorato em relação à zaga mais ameaçadora e vigorosa – como, passado o transe, ele voltou a demonstrar.
O magrelo é positivamente irresponsável e saudavelmente moleque. Não se aperreia, não se avexa, não se afoba – para quem prefira a linguagem carioca. Porta-se durante o jogo com a mesma despretensão com que brinca com os colegas nos treinos, e com o filho, em sua casa.
Correm contra ele dois ou três zagueiros gigantes, nervosos, siscando, sapateando, e o Neymar se mantém frio, não perde a fleugma, entra em modo de câmara-lenta mental, para enxergar pernas abertas por onde fazer passar a bola, ou para fintar que vai para um lado, e ir para o outro.
Ele não tem a velocidade dos grandes, nem a potência dos fortes, mas tem a malícia e a agilidades dos espertos. E, naturalmente muito caçado em campo, ele precisa “valorizar” as agressões sofridas, para chamar a atenção da arbitragem.
Acontece que ele ficou meio viciado em fazer cena, em tempos de vigilância eletrônica, o que termina por fazer darem na vista os exageros. E isso tem o efeito negativo registrado na célebre fábula “Pedro e o Lobo”.
Na fábula, o pequeno pastor vivia pedindo socorro falsamente, para fazer gozação com os que acorriam em seu auxílio – até que um dia um lobo o atacou de fato, e ele morreu, porque ninguém acreditou nos seus apelos.
Talvez por isso o árbitro não tenha levando em conta o efeito dramático que ele deu ao pisão maldoso com que Miguel Layún o atingiu. De todo modo, concordo que essa sofrida Nação lhe deva agradecer as alegrias.
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