UM CENÁRIO CONFUSO
Rui Martinho Rodrigues*
O cenário eleitoral em curso é extremamente
confuso. A polarização entre PT e PSDB se desfez. Agravou-se a fragmentação
política. A fragilidade dos partidos e lideranças multiplicou candidatos. Nenhum
deles, porém, parece capaz de pacificar e unir o país dividido. Com o Congresso
mais fragmentado o fantasma de uma crise de governabilidade está no horizonte, nivelando,
sob este aspecto, todos os candidatos, porque os maiores partidos já sofreram
“desidratação”, fato que poderá agravar-se por decisão das urnas.
As incertezas decorrentes do desgaste dos
políticos tornam-se mais agudas diante da possibilidade de novas revelações da
Lava Jato. “Como velho marinheiro, que durante o nevoeiro, leva o barco devagar”
(Paulinho da Viola), os políticos adiam a decisão sobre alianças. Ainda não
temos definição de apoios entre os partidos. Não sabemos quem será o
vice-presidente dos candidatos a presidente. Cogitações apresentam alianças
surpreendentes. O PR, segundo especulações, estaria negociando apoio a
candidatura do PT, PSDB ou PSL, com Jair Bolsonaro, formando um leque de escolhas
contraditórias. Os cálculos incluem pesquisas, com as probabilidades de êxito,
tempo de televisão e estrutura partidária.
A política é pragmática. Andar a reboque de interesses
puramente eleitorais, porém, poderá configurar o quadro em que a sabedoria
cresce demais e engole o dono. Tratativas com forças políticas díspares não são
exclusividade do PR, embora este seja o caso mais notório. Alianças entre personagens
que até ontem trocavam graves acusações poderão subtrair votos, desfazendo a
conta do ganho eleitoral. Os cálculos se firmam em solo movediço. Além das
incertezas advindas da Lava Jato, o tempo de televisão poderá ter uma
influência menor do que no passado, pela concorrência das redes sociais.
Ulysses Guimarães e Aureliano Chaves não se beneficiaram das estruturas
partidárias, quando a internet não estava no jogo político. Como o calendário de
campanha será mais curto, o tempo de televisão, pequeno até para os maiores
partidos, terá importância menor. A Lava Jato e a nova legislação diminuirão a
influência do poder econômico. A campanha em tempo reduzido provavelmente não
trará mudanças expressivas até o primeiro turno, ressalvadas as surpresas das
investigações e denúncias.
A exacerbação de ânimos deverá fortalecer os
postulantes com pronunciamentos mais afirmativos, inflando o voluntarismo e o
personalismo. Tudo isso poderá representar obstáculo à governabilidade e à
solução de problemas. Ninguém se elegerá com o discurso de sangue suor e
lágrimas, de Churchill (1874 – 1965).
O eleito, porém, terá de recorrer a
remédios amargos. Os descaminhos do STF agravam a situação, trazendo a
perspectiva de crise institucional. Aparentemente só um desastre como o do Rio
de janeiro nos abrirá os olhos.
Porto Alegre, 04 de julho de 2018.
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